Resumo
A vacinação enquanto medida de prevenção específica constitui uma relevante intervenção em saúde pública, com benefícios inquestionáveis em relação às mortes evitáveis por doenças imunopreveníveis ao longo dos anos, especialmente em crianças. Estudos revelam uma crescente preocupação com as coberturas vacinais no Brasil, que vêm apresentando comportamento de queda, sobretudo para algumas vacinas, e isso impacta no risco para o ressurgimento e/ou descontrole de doenças imunopreveníveis. O presente trabalho tem como objetivo estimar a cobertura vacinal contra a poliomielite, vacinas pentavalente, pneumocócica e tríplice viral em crianças com até 24 meses e a relação com fatores sociodemográficos e de utilização dos serviços de saúde. Trata-se de um estudo transversal, realizado com dados de domínio público da Pesquisa Nacional de Saúde 2019, relacionados as crianças com até 24 meses de idade (n=4.457). Foram realizadas análises descritivas das características sociodemográficas e de utilização dos serviços de saúde, de acordo com a informação obtida em caderneta de vacinação, e estimadas as coberturas vacinais com o esquema básico do calendário de imunização do Ministério da Saúde, com respectivos intervalos de confiança de 95 (IC95 ). Também foi estimada a completude do esquema básico considerando-se o 1º e 2º ano de vida das crianças, com os IC95 . As associações entre as coberturas de vacinação e as características sociodemográficas e de utilização dos serviços de saúde foram verificadas por meio do teste Qui-quadrado de Pearson e os fatores independentemente associados às coberturas, pelas razões de prevalência ajustadas pelo modelo de regressão múltipla de Poisson com variância robusta. Os resultados evidenciaram maior cobertura para a vacina pneumocócica (82,6 ; IC95 : 80,2-84,9), seguida das vacinas pentavalente (72,0 ; IC95 : 69,3-74,5) e contra a poliomielite (70,9 ; IC95 : 68,2-73,5); para a vacina tríplice viral, observou-se a menor cobertura (43,1 ; IC95 : 40,0-46,2). Foi verificada maior proporção de crianças que completaram o esquema da vacina pneumocócica no 1º ano de vida (58,6 ), enquanto menos da metade completaram os esquemas das vacinas pentavalente e contra a poliomielite no mesmo período (34,7 e 40,9 , respectivamente). Os fatores independentemente associados à cobertura vacinal contra a poliomielite foram área de residência e região, para a vacina pentavalente foram região, raça/cor, posse de plano de saúde e visita do ACS ou membro da ESF no último ano; a cobertura pneumocócica esteve associada ao número de moradores no domicílio, frequência da criança em escola/creche e cadastro do domicílio na USF, enquanto a cobertura tríplice viral associou-se à região, posse de plano de saúde e cadastro do domicílio na USF. Tais resultados mostraram que todas as coberturas vacinais estiveram abaixo da meta preconizada pelo Ministério da Saúde, revelando disparidades regionais, socioeconômicas, étnico/raciais e de acesso aos serviços de saúde para a completude dos esquemas básicos de vacinação das crianças. Estratégias devem ser elaboradas para suprir as iniquidades em saúde evidenciadas e combater fatores que influenciam a não adesão à vacinação, principalmente no 1º ano de vida, de modo a elevar as coberturas vacinais e fortalecer os princípios do SUS e do PNI brasileiro.
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