Tenho um afeto especial pelo professor doutor Miguel Tobar Acosta, que formou gerações de médicos, na Faculdade de Medicina da Unicamp. O professor Tobar é um exemplo de competência profissional e integridade humana. Ele é daqueles médicos que gastam horas conversando com os seus pacientes. Uma de suas características é sua profunda delicadeza.
Em uma de suas cartas (aposentado, ele reside com sua esposa na cidade de Cunha) ele me contou a curiosa história da invenção do estetoscópio, provavelmente o aparelho que mais os médicos usam e que serve para se escutar melhor os ruídos do interior do corpo. Eu ainda me lembro do tempo em que os médicos, para escutar peito e pulmão, encostavam o ouvido na pele e pediam para a gente falar 33... Pois aconteceu que um jovem médico, muito tímido, recebeu no seu consultório uma jovem bonita de seios generosos. Ele ficou enrubescido ante a possibilidade maravilhosa e terrível de encostar seu ouvido nos seios da mocinha.
E foi então que, talvez para evitar o aparecimento emoções pouco profissionais embora muito humanas, improvisou uma solução: fez um canudo com uma folha de cartolina e usou-o como instrumento de auscultação. Pois qual não foi sua surpresa ao verificar que com o canudo de cartolina se ouvia muito melhor que com a orelha encostada na pele.
Estava inventado o estetoscópio, a partir da timidez de um médico iniciante... Quanto ao professor Tobar, ele é um desses homens que merecia receber o título de professor emérito da Unicamp.
Rubem Alves
Escritor e professor da Unicamp
Artigo publicado em jornal da cidade de Campinas