O médico e professor Fernando Ferreira Costa é seguramente um dos mais destacados pesquisadores da Unicamp e suas atividades profissionais têm sido de grande relevância para o crescimento da Instituição. Dedicou anos de trabalho ao Hemocentro da Universidade, onde foi diretor por dois mandatos. Montou o Serviço de Hematologia em 1980. Coordenou o Laboratório de Biologia Molecular e de Hemoglobinopatia de 1990 a 1992. Foi também diretor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) durante o quadriênio 1994-1998. Coordenou a área de clínica médica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Atualmente, é pró-reitor de pesquisa da Unicamp e professor titular da disciplina de Hematologia-Hemoterapia. O hematologista, um dos protagonistas brasileiros no desenvolvimento do projeto Genoma, anteviu que este estudo traria à Unicamp chance única de conhecer e aperfeiçoar técnicas de seqüenciamento automático. O tempo encarregou-se de mostrar o quanto foi oportuna tal iniciativa. Anos depois, o Hemocentro passou a coordenar cinco laboratórios da rede Onsa, ligada ao Projeto Genoma Câncer. A linha de pesquisa de Fernando Costa está ligada à investigação das características clínicas nas hemopatias, em especial as doenças hereditárias dos glóbulos vermelhos, incluindo as hemoglobinas e as alterações da membrana eritrocitária.
Comecei a trabalhar na Unicamp em 1980, onde montei o Setor de Hematologia do Laboratório de Patologia Clínica, que depois passou a se denominar Departamento de Patologia Clínica. À época, o laboratório estava saindo de uma modesta casa localizada ao lado da Santa Casa de Campinas, transferindo-se para o hospital novo, instalado hoje onde se situa o ambulatório. Iniciei meu trabalho docente na Enfermaria de Hematologia da Santa Casa.
Quando cheguei ao campus, a Faculdade de Medicina não era tão grande. O número de docentes era reduzido. Quase todas as atividades concentravam-se na Santa Casa, onde as condições de trabalho eram muito precárias, principalmente nas enfermarias assistenciais. A biblioteca, por exemplo, ficava em um espaço pequeno, com mezanino de apoio e escada perigosa para transitar. A grande vantagem era que o grupo, pequeno, se encontrava freqüentemente. Era uma época boa ...
Assim que foi concluída a primeira parte da construção do HC, quando ainda estávamos montando o laboratório, os equipamentos (contadores, microscópios, etc.) tinham acabado de chegar. Os locais de instalação estavam prontos. A sala, porém, não era muito adequada para acomodá-los. Resolvemos então transferi-los para uma pequena sala de ambulatório, há anos ociosa. Foi a nossa sorte. Na semana seguinte, veio uma forte chuva que inundou a sala na qual deveriam ficar os equipamentos.
Na Hematologia, havia um laboratório próximo de uma jabuticabeira, com uma bancada e duas cadeiras. Quando começamos (eu, o professor Paulo, os diretores e depois o professor Collares), a FCM era uma excelente faculdade. O problema que existia, em nossa visão, dizia respeito ao fato dela ser excessivamente voltada aos aspectos assistenciais, de atenção ao doente e com um componente pouco significativo de investigação médica.
Faltava um conjunto de medidas que apontassem para o futuro: uma programação e um plano de metas. Foi isso que fizemos. Procuramos acrescentar docentes novos, dinâmicos, com grande participação em investigação; atrair gente do Brasil todo e do exterior; e envolver os docentes, alunos e funcionários da Faculdade em uma ampla discussão, que resultou em um documento de instrução e em profundas mudanças de atitudes.
A Faculdade ganhou um regimento novo e moderno. Comissões foram estruturadas. Todo equipamento de produção científica e de apoio didático foi renovado com grande sucesso. Os dados da FCM mostraram que, não só por isso (ela cresceria normalmente), ela cresceu. Hoje, possui um potencial enorme de produção científica. Talvez seja até a primeira do Brasil. Mas iniciar naquela época, com um conjunto de docentes, foi um salto significativo.
Para citar, a Unicamp como um todo teve um grande aumento de produção científica, isso graças ao avanço do Programa Qualidade, que exigia que todos os docentes se titulassem e produzissem cientificamente. O gráfico de produção na Unicamp, que era de 200 a 300 artigos publicados no início de 90, com a introdução, em 1994, do projeto Qualidade, aumentou muito e, atualmente, ela produz 1.300.
Na FCM, essa evolução foi muito maior e mais significativa. A sua produção era muito pequena – menor que 30 artigos em 1994. Agora, excede 300 por ano. É uma modificação importante, muito devida ao Projeto Qualidade, à renovação e empenho do corpo docente da Faculdade, e à facilidade e necessidade de se adaptar aos novos tempos, que exigem maior produção do conhecimento.
Ao ingressar na FCM, eu terminava o doutoramento. Fiquei aqui pelo período de cinco anos, quando fui contratado pela USP-Ribeirão Preto. Permaneci lá até concluir minha livre-docência. Por dois anos, vivi no exterior, retornando definitivamente para a Faculdade em 1990, onde prossigo com a minha carreira.
“Aqui formei o meu laboratório e uma equipe de trabalho de mais de 30 pessoas, entre mestres e doutores. Vejo a FCM como uma das mais dinâmicas, mais importantes e melhores faculdades de medicina do País. Tenho certeza de que irá progredir muito ainda. Nossa Faculdade tem um conjunto de professores, funcionários e alunos que mostram que esta Unidade tem enorme potencial para contribuir com a medicina brasileira.