O veterano anatomopatologista José Lopes de Faria chegou à Unicamp em 1963, graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1941. Naquela instituição, atuou como assistente voluntário no biênio 1942-1943. Pouco depois, em São Paulo, freqüentou voluntariamente o Serviço de Anatomia Patológica da Escola Paulista de Medicina, ingressando após como assistente no Departamento de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Em 1954, Lopes de Faria fez estágio no renomado Instituto de Patologia da Universidade de Freiburg, Alemanha, no serviço do professor Buchner, diretor do Instituto de Patologia. Após um período de convivência, Buchner foi autor de uma carta ao então diretor da Faculdade de Medicina da USP em que, num dos trechos, afirmou: “O professor Lopes de Faria demonstrou em suas pesquisas uma sutilíssima capacidade no terreno de morfologia e de patologia experimental”. Em outra carta, endereçada ao professor Richer, reafirmou: “o professor Lopes é um cientista e um professor de escola superior de primeira, até na ponta dos dedos. Chegou aqui com admirável conhecimento da literatura científica alemã e com grande confiança. Também estou certo de que ele sempre venerará, amará e reconhecerá a Alemanha como sua segunda pátria espiritual”.
Naquele país, enveredou por um trabalho que investigava a respiração dos aviadores que voavam a grandes altitutes e que sofriam morte súbita. Fruto de sua pesquisa, foi aproveitado o material humano obtido no estudo para dar um grande avanço mundial ao assunto, que até então não era conhecido senão em animais.
Agraciado como um dos pioneiros na área de anatomopatologia brasileira, Lopes de Faria iniciou as suas atividades na FCM da Unicamp em 1965, onde ajudou a fundar o Departamento de Anatomia Patológica. Foi convidado a compor as mais variadas comissões na Universidade, ocupando tanto funções que envolvessem sua profissão como administrativas. Foi diretor-associado da FCM-Unicamp de 1967 a 1969 e diretor no quadriênio 1972-1976. Foi chefe de departamento rigoroso. Em pouco tempo, conseguiu projetar a Unicamp no cenário da patologia nacional.
Aposentou-se compulsoriamente em 1987, como professor titular em Anatomia Patológica, mas, graças ao seu espírito dinâmico, continua trabalhando em sua residência, além de se dedicar a sua família. Recebeu, em 1988, uma distinção que lhe conferiu o título de professor emérito das mãos do reitor Paulo Renato Costa Souza.
Vida acadêmica – O talento do anatomopatologista manifestou-se desde os tempos de estudante, em Minas Gerais. Publicou, no decorrer de sua carreira, mais de 80 trabalhos, sendo quase a metade em revistas estrangeiras. Escreveu cinco teses e monografias.
Editou cinco livros, destacando-se os Tumores de Pele, em colaboração com o professor Aureliano da Fonseca, e Anatomia Patológica Especial e Anatomia Patológica Geral, este último já em sua terceira edição. Atualmente, revisa os manuscristos para a segunda edição do livro Anatomia Patológica Especial com Aplicações Clínicas pela Editora Guanabara Koogan, que conta com a participação de 28 pesquisadores brasileiros e internacionais.
Em seus trabalhos, constam pesquisas originais no campo da lepra, esquistossomose, aneurismas dissecantes, alterações orgânicas no choque e aterosclerose.
Um dos maiores legados transmitidos aos discípulos de Lopes de Faria foi o ensino, com conhecimentos básicos e sólidos, embasados na pesquisa aplicada ou experimental. “Sempre procurei dar de mim o máximo. Fui, por isso, talvez, um homenageado crônico pelos alunos, tanto que os professores passavam por trotes, mas eu sempre fui poupado. Se há algum conselho que devo dar para quem deseja ter uma carreira bem-sucedida na FCM, digo: ‘trabalhe, para chegar a um bom resultado’”, aconselha Lopes de Faria.