A primeira aula na Faculdade de Medicina de Campinas foi proferida pelo reitor da Universidade de São Paulo, Antônio Barros de Ulhôa Cintra, no Teatro Municipal, a 20 de maio de 1963. Durante a viagem de São Paulo à Campinas, o professor Ulhôa Cintra mentalizava o conteúdo de sua aula enquanto admirava a vegetação exuberante à margem da moderna rodovia Anhanguera, pavimentada e duplicada cerca de dez anos antes - a primeira do país.
Ainda não se cogitava a construção da Bandeirantes ou da Dom Pedro. A cidade contava então com menos de 250 mil habitantes. Muitos ainda circulavam de bonde e os motorneiros, elegantes, de uniforme amarelo e quepe, dividiam sua atenção entre os carros que insistiam em disputar passagem nas estreitas ruas, os olhares das jovens e os passageiros pendurados, em pé, no estribo, sob risco de acidentes.
As aulas nos laboratórios da Maternidade de Campinas e a prática clínica nas enfermarias de assoalho de madeira, pé direito alto e amplas janelas da Santa Casa de Misericórdia estão na memória dos 50 alunos da primeira turma.
No trajeto de volta à São Paulo, após sua aula magna, após ser aplaudido, após os agradecimentos que recebeu, ainda com a imagem de olhos brilhando de esperança e anseios dos novos professores da Faculdade de Medicina de Campinas, o professor Ulhôa Cintra mostrava-se pensativo. Pensava no futuro da nova escola médica.
De lá para cá muita coisa mudou. A faculdade passou a se chamar Faculdade de Ciências Médicas (FCM), a população cresceu rapidamente, os bondes desapareceram e outras rodovias surgiram e a história continua a seguir o seu percurso, sendo construída pelos diretores, professores, funcionários e alunos durante anos seguintes.
É exatamente a memória da FCM que o Centro de Memória e Arquivo, criado oficialmente em 26 de maio de 2008, busca preservar, em um espaço unificado, constituído de acervo histórico e permanente produzido pelas áreas administrativa, pesquisa, ensino e extensão da faculdade. O acervo conta ainda com documentos, objetos pessoais e depoimentos orais de docentes, servidores, alunos e demais colaboradores da faculdade, tornando possível reconstituir uma memória coletiva.
O resgate de acervos de docentes aposentados, localizados em antigas salas e laboratórios de pesquisa, foi possível por intervenções iniciais de funcionários administrativos que participaram de projeto educativo, e que, sensibilizados, buscaram apoio do Centro de Memória da FCM e dos titulares da documentação para a avaliação e destinação do acervo.
O espaço físico é de 600 m² distribuídos da seguinte forma: área de recepção, atendimento ao pesquisador e exposição, atendimento do Protocolo, área do acervo Histórico e Intermediário, sala do Grupo de Estudos História das Ciências da Saúde, espaço para conservação e processamento técnico da documentação.
O acervo permanente oferece a possibilidade de pesquisa a respeito do ensino das Ciências da Saúde nos níveis de graduação, pós-graduação, residência médica e extensão bem como da produção científica da Instituição e de sua história administrativa. A digitalização do acervo foi iniciada em 2017 com “O Patológico”, primeira publicação da FCM, sob responsabilidade do Centro Acadêmico Adolfo Lutz, em 30 de outubro de 1964.
Entre os acervos doados para o Centro de Memória estão arquivos pessoais de Bernardo Beiguelman, José Martins Filho, Mario Mantovani e Fortunato Antônio Badan Palhares. O acervo de Bandan Palhares, por exemplo, totaliza mais de 22 metros lineares de documentação e 13 peças tridimensionais.
Além da preservação e arquivamento do acervo, em 2007 a Diretoria da FCM criou o Grupo de Estudos de História das Ciências da Saúde (GEHCSaúde) com o intuito de promover o desenvolvimento de atividades didáticas, de pesquisa e de extensão relacionado aos estudos históricos das ciências da saúde. Para o GEHCSaúde, a perspectiva histórica é fundamental para a compreensão das ciências da saúde.
O GEHCSaúde promove reuniões científicas e oferece cursos de extensão, na modalidade de difusão cultural, abertos à comunidade da Unicamp e à sociedade em geral. Entre 2012 e 2018, o GEHCSaúde organizou reuniões científicas com convidados que proferiram, no total, 34 palestras.
Atualmente, são membros do GEHCSaúde os professores Everardo Duarte Nunes, Antonio de Azevedo Barros Filho, Irani Rodrigues Maldonade, Clarissa Waldige Mendes Nogueira, Rubens Bedrikow , Cristina Brandt Friedrich Martin Gurgel e o historiador Ivan Luiz Martins Franco do Amaral.
Rubens Bedrikon, professor do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp
Ivan Franco do Amaral, historiador do Centro de Memória da FCM
Emilton Barbosa de Oliveira, supervisor do Suporte Didático e Divulgação Técnico-Científica da FCM