Resumo
Introdução: O sangramento vaginal desfavorável é a principal razão de descontinuação em mulheres usuárias de dispositivo intrauterino com levonorgestrel (DIU-LNG) e implantes contraceptivos liberador de etonogestrel (implante-ENG). Objetivo: Associar o perfil de expressão gênica endometrial de mulheres usuárias de DIU-LNG com a presença de sangramento vaginal e implante-ENG com a presença de sangramento vaginal desfavorável. Métodos: Foram incluídas 200 mulheres entre 18 e 45 anos que escolherem como método contraceptivo DIU- 52 mg de LNG (Mirena®) ou implante-ENG (Implanon®) no ambulatório de Planejamento Familiar do Departamento de Tocoginecologia da Unicamp e que estavam sem uso de método hormonal há 3 meses. Estas mulheres foram submetidas a biópsia de endométrio imediatamente antes da inserção dos métodos e foram acompanhadas por 1 ano, com padrão de sangramento. Foram avaliadas a expressão de genes relacionados à inflamação, resposta imune, angiogênese e metaloproteinases (BCL6, BMP6, C3, CCL2, CCL3, CCL4, CCR1, CD40, CXCL1, CXCL9, CXCL10, CXCL12, IL15, IL17A, MMP2, MMP19, SYK, TIMP1, TIMP2, TNFRSF1) e associadas ao padrão de sangramento reportado pelas mulheres. Para analisar a presença de sangramento em uso do DIU- 52 mg de LNG e sangramento desfavorável em uso do implante-ENG, foram realizadas análises de regressão logística simples e múltipla, incluindo os genes analisados. Resultados: Das 100 mulheres que optaram pelo uso do DIU-LNG, 96 completaram 12 meses de acompanhamento. Mulheres com expressão de CXCL9 ≥ 1,5 apresentaram um risco 8,15 vezes de apresentar sangramento vaginal aos 3 meses de uso do DIU-LNG (OR 8,15, IC 95 2,24–29,61, P = 0,001). Aos 12 meses, mulheres com expressão de TIMP1 ≥ 0,943 tiveram 2,74 vezes mais chances de apresentar sangramento (OR 2,74, IC 95 1,08–6,95, P = 0,033). Das 100 mulheres que optaram pelo uso de implantes contraceptivos ENG, 96 e 92 completaram 3 e 12 meses de seguimento respectivamente. Mulheres com menor expressão de CXCL1 < 0,0675 tiveram um risco aumentado em 6,8 vezes de sangramento vaginal desfavorável aos 3 meses (OR 6,8, IC 95 2,21-20,79, p < 0,001), enquanto aquelas com maior expressão de BCL6 > 0,65 (OR 6,0, IC 95 1,53-23,64, p = 0,01) e BMP6 > 3,4 (OR 5,1, IC 95 1,61-15,83, p = 0,006) tiveram riscos aumentados em 6,0 e 5,1 vezes, respectivamente. No acompanhamento de 12 meses, mulheres com expressão de CXCL1 < 0,158 tiveram um risco aumentado em 5,37 vezes de sangramento vaginal desfavorável (OR 5,37, IC 95 1,63 - 17,73, p=0,006). Conclusão: Usuárias do DIU-LNG 52 mg com expressão relativa elevada de CXCL9 tiveram risco aumentado de sangramento vaginal aos 3 meses e as com expressão elevada de TIMP1 tiveram maior probabilidade de sangramento vaginal aos 12 meses. Além disso, usuárias de implantes contraceptivos ENG com expressão elevada de BCL6 e BMP6 apresentaram um risco maior de sangramento vaginal aos 3 meses. A redução na expressão de CXCL1 foi associada a um risco elevado de sangramento nos acompanhamentos de 3 e 12 meses.
Palavras-chaves: dispositivos intrauterinos hormonais, implantes contraceptivos liberadores de etonogestrel, sangramento vaginal, expressão gênica, endométrio.
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