Resumo
Introdução: Com o crescente envelhecimento da população brasileira, surgem novas demandas sociais e de saúde, acentuadas pelos efeitos das desigualdades socioeconômicas. Além do declínio biológico próprio do envelhecimento, baixas condições socioeconômicas favorecem a ocorrência de doenças crônicas não-transmissíveis, transtornos mentais, problemas emocionais, incapacidade funcional e baixa qualidade de vida relacionada a saúde. Objetivo: Analisar a desigualdade social nas prevalências de dependência funcional nas atividades básicas e instrumentais da vida diária e de abandono das atividades avançadas e as associações dessas dependências funcionais com a qualidade de vida relacionada à saúde e com indicadores de saúde mental e bem-estar. Material e Métodos: Estudo transversal de base populacional com dados o Inquérito de Saúde (ISACamp 2014/15), na população residente em domicílios das áreas urbanas no município de Campinas/SP. Considerou-se um grupo de 1000 pessoas por segmento populacional entre adolescentes, adultos e idosos, obtido por estratificação por conglomerado realizada em duas etapas, com proporção de 0,50, IC=95 , e margem de erro de 4 a 5 pontos percentuais com delineamento de 2. Utilizou-se dados da população com 60 anos ou mais, resultando em 986 indivíduos, considerando taxa de não resposta de 20 . As variáveis dependentes foram: dependência funcional, indivíduos com necessidade de ajuda nas ABVD e AIVD; nunca ter realizado e ter deixado de realizar as AAVD e as escalas que constituem o SF-36. As variáveis independentes foram: condições demográficas, socioeconômicas, de saúde, o SRQ-20, problemas emocionais e sentimentos negativos. Utilizou-se o teste quiquadrado de Pearson, para determinar a associação entre as variáveis, com significância estatística p<0,05. As razões de prevalência foram estimadas pela regressão de Poisson (RP) ajustada por sexo e idade. E a regressão linear múltipla, na análise do impacto da dependência funcional sobre a QVRS, por meio do cálculo das médias, erro padrão, Beta coeficiente e p-valor. O ISACamp 2013/14 foi aprovado pelo CEP com o parecer nº CAAE: 20547513.2.0000.5404. Resultados: 1) Maiores desigualdades de renda foram observadas em idosos que abandonaram as AAVD (69,3 ), seguidas por aqueles com dependência nas AIVD (51,6 ); 2) Menores escores do SF-36 foram observados em idosos com deixaram de fazer as AAVD, e se acentuaram nos idosos com dependência parcial e total nas AIVD e nas ABVD. Maiores declínios na QVRS foram observados em idosos com dependência total em uma ou mais AABVD nos aspectos físicos (β= -69,77) e nos aspectos emocionais (β= -62,06). 3) Idosos com dependência nas ABVD apresentaram maiores prevalências de problemas emocionais com muita limitação (33,94 ), TMC (45,85 ), solidão (56,65 ), tristeza (55,49 ), infelicidade (46,68 ) e solidão (56,6 ); A prevalência de TMC e tristeza (44,1 ) também foi maior em idosos com dependência nas AIVD. A prevalência de sentimentos negativos foi maior nos idosos que deixaram de fazer as AAVD’s. Conclusão: Desigualdades de renda, redução da qualidade de vida, problemas emocionais e sentimentos negativos estão associados a dependência funcional para realizar as atividades de vida diária. Superar esses desafios representa um importante papel das políticas públicas de atenção a saúde de equidade social.
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