campanha

x

Fenilcetonúria

A fenilcetonúria (PKU) é um erro inato do metabolismo, de herança autossômica recessiva, causada pela deficiência da enzima hepática fenilalanina hidroxilase ou de seu co-fator tetraidrobiopterina, levando ao acúmulo de fenilalanina nos líquidos corporais.

A fenilalanina é um aminoácido essencial. A fenilalanina alimentar não usada para a síntese de proteínas é normalmente decomposta pela via da tirosina. Não podendo seguir o caminho natural, a fenilalanina se acumula nos tecidos e dá origem a alguns derivados, entre eles, o ácido fenilpirúvico, que aparece em grandes quantidades na urina.

Assim como todos os distúrbios genéticos, a PKU pode apresentar grande variabilidade genética e clínica. O gene da fenilalanina hidroxilase ocupa um locus único com mais de 400 mutações identificadas que contribuem com numerosas combinações genotípicas e, consequentemente, com grande heterogeneidade clínica. Essas mutações também contribuem para a heterogeneidade bioquímica.

Três formas de apresentação metabólica são reconhecidas e classificadas de acordo com o percentual de atividade enzimática encontrado:

  • - Fenilcetonúria clássica – quando a atividade da enzima fenilalanina hidroxilase é praticamente inexistente (atividade inferior a 1%) e, consequentemente, os níveis plasmáticos encontrados de fenilalanina são superiores a 20mg/dl;
  • - Fenilcetonúria leve – quando a atividade da enzima fenilalanina hidroxilase é de 1 a 3% e os níveis plasmáticos de fenilalanina encontram-se entre 10 e 20mg/dl;
  • - Hiperfenilalaninemia transitória ou permanente – quando a atividade enzimática é superior a 3% e os níveis de fenilalanina encontram-se entre 4 e 10mg/dl; esta situação é considerada benigma não ocasionando qualquer sintomatologia clínica.

O lactente afetado é normal ao nascimento. A criança com PKU pode se desenvolver normalmente até os seis a oito meses de idade, quando uma demora na aquisição de novas habilidades psicomotoras ou a perda de habilidades anteriormente adquiridas podem ser observadas.

Os sintomas neurológicos da PKU parecem decorrer do excesso de fenilalanina no sistema nervoso central, uma vez que ela compete em maior quantidade com outros aminoácidos pelo transporte para dentro da célula nervosa, causando desequilíbrio na concentração intracelular de aminoácidos e afetando a síntese de neurotransmissores (dopamina e serotonina) e de melanina.

O sinal inicial pode ser uma crise convulsiva e um odor típico na urina de ácido fenilacético que foi descrito como bolorento ou semelhante ao de rato. Algumas crianças podem ter erupção cutânea seborreica ou eczematóide que, em geral, é leve e desaparece à medida que a criança cresce. Frequentemente, a criança com PKU tem a pele, os cabelos e os olhos mais claros que seus irmãos não afetados. As crianças maiores não tratadas tornam-se hiperativas e, às vezes, agressivas, com movimentos descoordenados, balanço rítmico e atetose. Nas crianças não tratadas também são encontrados microcefalia, hipoplasia do esmalte e atraso do crescimento.

Na Triagem Neonatal, é realizada a dosagem quantitativa de fenilalanina. Para que este teste possa ser confiável, é necessário que o recém-nascido tenha pelo menos 48 horas de vida e tenha recebido alimentação protéica (leite materno). Caso contrário há risco de resultado falso-negativo. Após um teste de triagem alterado o paciente deve ser submetido a testes complementares, como a dosagem de fenilalanina e tirosina no soro. Recém-nascidos prematuros ou de baixo peso podem apresentar resultados falso-positivos ou falso-negativos.

Os valores de referência de fenilalanina no sangue total (papel filtro são: ≥ 0,20 mg/dL e ≤ 4,0 mg/dL.

Novas coletas são solicitadas em nosso serviço quando ≤ 0,20 mg/dL e ≥ 2,5 e ≤ 4,0 mg/dL. As novas coletas podem ser efetuadas no posto de coleta mais próximo dentro dos primeiros 30 dias de vida da criança.

O diagnóstico precoce e o tratamento iniciado em idade oportuna evitam o aparecimento dos sintomas da doença.

A PKU foi a primeira doença genética tratada por meios nutricionais. O tratamento baseia-se em uma dieta especial com restrição de fenilalanina e deve ser iniciado tão logo o diagnóstico seja confirmado. Nos casos de PKU leve e clássica é feita suplementação com fórmula metabólica isenta de fenilalanina, fornecida pelo Sistema Único de Saúde. O controle do tratamento é feito com dosagens periódicas dos níveis de fenilalanina no sangue.

Atualmente, muitos estudos têm demonstrado a necessidade de um controle mais rigoroso da dieta em mulheres com PKU e em idade reprodutiva, uma vez que altos níveis de fenilalanina em gestantes podem prejudicar o desenvolvimento fetal.

Bibliografia recomendada:

1. Eisensmith RC, Woo SLC. Phenylketonuria. In: CONNEALLY, P. M. (ed). Molecular basis of neurology. Blackwell Scientific Publications, 1983,181-198.

2. Scriver CR, Beaudet AL, Sly WS, Vale D. eds. The Metabolic and Molecular Basis of Inherited Disease. McGraw Hill, New York, 8th ed. 2001

3. Seashore, M.R. Neonatal Screening for Inborn Errors of Metabolism. Update, Seminars in Perinatology, 14(6): 431-438. 1990

4. Mira NV, Marquez UM.  Importance of the diagnoses and treatment of phenylketonuria. Rev Saude Publica 2000. 34 (1): 86-96

5. Martins AM et al. Fenilcetonúria: abordagem terapêutica. Temas de Pediatria 54. Nestlé, 1993

6. National Institute of Health Consensus Development Conference Statement – Phenylketonuria: Screening and Management. Pediatrics 2001. 108:972-982