Especial FCM: A experiência da Pediatria na defesa dos TCCs de seus residentes
Desde 2011, os médicos que ingressam na Residência Médica da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, em qualquer uma das 57 áreas de atuação – seja nas áreas de acesso direto ou nas de especialidades clínicas e cirúrgicas – devem entregar um Trabalho de Conclusão de Curso para ser diplomado. Nos últimos anos, a apresentação oral desses trabalhos entrou para a rotina de muitos departamentos e, a partir da oferta do Mestrado Profissional na faculdade, muitos egressos da Residência têm dado prosseguimento às atividades de formação profissional.
No âmbito do Departamento de Pediatria da FCM a defesa dos TCCs pelos residentes do Programa de Residência Médica em Pediatria é uma realidade em constante aperfeiçoamento e que faz parte de uma série de iniciativas da área pediátrica da faculdade que visam à qualidade do ensino dos futuros especialistas. Anualmente, a FCM tem capacidade para formar 51 novos médicos-pediatras, sendo 16 da área pediatria básica e 35 de 14 diferentes especialidades pediátricas .
Preceptora da Residência em Pediatria, a médica especialista em Alergia e Imunologia Pediátrica, Adriana Gut Lopes Riccetto, explica que tais iniciativas tiveram início em 2015 – quando 12 médicos-assistentes pediatras com doutorado foram credenciados ao Programa com o objetivo de apoiar os docentes do Departamento na orientação dos TCCs – e foram impulsionadas com o credenciamento do segundo ano de várias especialidades pediátricas e do Credenciamento do Programa de Pediatria Básica em três anos, junto à Comissão Nacional de Residência Médica, garantindo aos residentes mais tempo de permanência na universidade.
A apresentação oral dos TCCs foi instituída no Departamento de Pediatria em 2015. De lá para cá, 116 temas já foram desenvolvidos e muitos deles foram apresentados em congressos nacionais e internacionais, ou encaminhados para publicação. Mais do que um evento, a defesa pública dos trabalhos pelos residentes é o congraçamento de todo um processo de formação que acontece durante a pós-graduação.
“O residente – relembra a preceptora do programa – é um aluno de pós-graduação Lato sensu e, como tal, precisa cumprir uma carga horária mínima de aulas teóricas, ser avaliado continuadamente e apresentar um trabalho de conclusão ao término do curso”.
Mas, para quem já conta com uma carga horária pesada de atividades práticas, a elaboração de um trabalho de conclusão não é uma atividade trivial. “Tínhamos grande dificuldade para que os residentes participassem das aulas presenciais, tendo em vista a intensa carga de trabalho e os plantões no Hospital. Foi preciso mudar a maneira de apresentar os conteúdos teóricos”, conta Adriana.
A utilização da plataforma de ensino online denominada ‘Moodle’ foi um dos recursos utilizados. “A participação dos alunos, remotamente, aumentou consideravelmente, favorecendo também a elaboração de TCCs com melhor qualidade”, acrescenta.
Outra medida adotada pela Residência em Pediatria foi a composição de um Conselho de Ensino dentro do Departamento, que além de acompanhar todas as iniciativas de melhoria, também passou a organizar a tradicional Jornada de Pediatria. “Tivemos um número recorde de participação na edição de 2017, com a apresentação de 67 pôsteres”, afirma Adriana.
+ Estudos
+ Aprofundamento
+ Possibilidades de atuação
De acordo com Adriana Riccetto, vários estudos têm mostrado que a inserção dos residentes em atividades combinadas de ensino e pesquisa contribui para o amadurecimento profissional dos futuros especialistas, que passam a entender melhor aquilo que aplicam na prática. “Médicos que entendem melhor a metodologia de pesquisa conseguem fazer perguntas mais pertinentes e propor novos tratamentos e protocolos”, explica.
“A Residência é uma atividade de aprendizado em serviço, daí a importância da formação prática. Todavia, acreditamos ser necessária uma formação mais ampla, para que o profissional possa enfrentar o mercado de trabalho com mais ferramentas. Um médico que saiu da universidade com um mestrado ou doutorado tem mais possibilidades de atuação”, afirma Adriana.
Em 2016, a FCM instituiu o curso de Mestrado Profissional em Ciência Aplicada à Qualificação Médica. Já na primeira turma, esta modalidade de pós-graduação passou a contar com egressos da residência em pediatria. É o caso da médica Ana Laura Becker, que cursou medicina e residência em Pediatria Básica na FCM e que agora continua firme nos estudos como aluna do 2º ano de Alergia e Imunologia Pediátrica e aluna do mestrado profissional.
“Meu TCC da residência de Pediatria Básica foi apresentado em fevereiro de 2017 e teve como tema o “Perfil epidemiológico dos pacientes com diagnóstico de alergia alimentar atendidos no ambulatório de alergia e imunologia pediátrica do Hospital de Clínicas da Unicamp em 2016”. A partir do banco de dados deste trabalho, publicamos um relato de caso na revista Pediatric Allergy and Immunology e apresentamos um trabalho durante o 2018 AAAAI/WAO Joint Congress (American Academy of Allergy, Asthma & Immunology Annual Meeting/ World Allergy Congress), realizadao em março deste ano” conta Ana Laura
A pesquisa deu prosseguimento e origem ao projeto "Segurança e efetividade do teste de provocação oral na alergia à proteína do leite de vaca em crianças: experiência em hospital universitário", que está sendo desenvolvido no mestrado profissional com defesa prevista para o primeiro semestre de 2019. Para Ana Laura, a defesa de TCC durante a residência e a apresentação de trabalho em um congresso internacional foram experiências de enriquecimento profissional e pessoal.
“Sempre gostei da área de pesquisa científica, e acho que oportunidades como estas são de grande importância para a formação acadêmica dos especialistas, pois promovem discussões, atualizações e troca de experiências entre os profissionais da área”, comenta Ana Laura.
Egressa da residência em Pediatria Básica e Endocrinologia Pediátrica da FCM, a endocrinologista pediátrica Stela Carpini concorda com Ana Laura e diz que apesar da ansiedade, a apresentação de TCC para uma banca examinadora é a oportunidade de demonstrar amadurecimento profissional. Quando apresentamos um tema, devemos reestudá-lo e revisá-lo inúmeras vezes. Isso proporciona bagagem de conhecimento, revela Stela, que defendeu concluiu a residência em 2017, com a apresentação do trabalho “Avaliação dos níveis de FSH em meninas pré-púberes com Síndrome de Turner”, que deu origem a artigo publicado na revista BMC Endocrine Disorders em fevereiro de 2018.