A remoção de tumores cerebrais, biópsias e outros tipos de cirurgias intracranianas – como as de epilepsia – passarão a ser mais precisas, rápidas e seguras para os pacientes atendidos no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp. Isso será possível devido a aquisição de um equipamento chamado Neuronavegador, avaliado em R$ 1,5 milhão de reais, que beneficiará muitos pacientes com o início do seu funcionamento, previsto para o final de agosto.
O Neuronavegador – até então disponível apenas em hospitais privados – foi adquirido pelo Departamento de Neurologia para uso da disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), por meio de recursos Fapesp do projeto Cepid-Brainn da Unicamp. O sistema trabalha com imagens de ressonância magnética, mostrando em tempo real ao neurocirurgião o local exato do cérebro onde ele está durante a cirurgia. No caso de biópsias profundas, por exemplo, a precisão é próxima de um milímetro.
“É como um game virtual ou desenho animado. Todas as imagens obtidas com a ressonância do cérebro são registradas pelo aparelho antes da cirurgia e um laser toma coordenadas externas do crânio. Durante a cirurgia, câmeras são apontadas para cabeça do paciente. Pequenos sensores são colocados em instrumentos nas mãos do neurocirurgião. O equipamento faz a transposição daquilo que o cirurgião vê no cérebro durante a cirurgia para uma tela e a correlaciona com os exames de imagem, sendo assim possível "navegar", ou seja, orientar-se na região do cérebro em que você está”, explica o neurocirurgião da FCM da Unicamp, Helder Tedeschi.
De acordo com Fernando Cendes, neurologista da FCM e coordenador do Cepid-Brainn, o equipamento alemão de última geração não só permite que o neurocirurgião tenha uma ideia mais apurada dos limites do tumor, mas também possa identificar e preservar vasos sanguíneos e áreas do cérebro responsáveis pela fala, visão, locomoção, entre outras. “A sobreposição de imagens possibilita evitar lesões durante a ressecção de tumores. As informações podem ser checadas em tempo real durante a cirurgia ou acessadas remotamente de outra sala. Isso também vai trazer benefícios para assistência do HC e permitir o tratamento de casos cada vez mais complexos”, disse Cendes.
Tedeschi disse que antes o neurocirurgião estudava a ressonância e depois procurava identificar no cérebro aquilo que havia visto. O Neuronavegador faz isso direto, por meio de coordenadas matemáticas. “Vários cirurgiões do grupo já tiveram contado com o equipamento. Esse é um dos aparelhos que ajudam na obtenção de um melhor resultado cirúrgico, diminuindo o tempo de cirurgia, de internação e fazendo com que o paciente não precise de uma segunda cirurgia”, revela Tedeschi que sempre sonhou em poder oferecer esse serviço aos pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).