Taxas de mortalidade por diabetes crescem em Campinas, segundo pesquisa da Unicamp

De 2008 a 2010, o diabetes foi a causa básica de 3% dos 19 mil óbitos ocorridos em residentes de Campinas e mencionado como causa associada em outros 833 óbitos, o que representa 4,3% do total de mortes; o diabetes como causa associada é mencionado principalmente nas mortes por doenças cardiovasculares.

Analisado dentro do grupo das doenças endócrinas e metabólicas, o diabetes é a principal causa de mortalidade. Ele é responsável por 68,5% das mortes desse grupo, que inclui também a desnutrição e a obesidade, entre outras.

Das mortes por desnutrição, 85,3% ocorreram em idosos e dos óbitos por obesidade 54,9% foram entre pessoas de 20 a 59 anos de idade. Das mortes causadas por obesidade, em 21,6% o diabetes constava entre as causas associadas ao óbito e em 27,5% as pessoas haviam sido submetidas a gastroplastias.

Ao analisar a morte por diabetes de acordo com a faixa etária, foi verificado que nas mortes das mulheres, 45,7% foram de idosas com 80 anos ou mais de idade; entre os homens, este percentual foi de apenas 24,4%. Antes dos 60 anos de idade, o percentual de mortes por diabetes foi de 24,4% nos homens e de apenas 12,1% nas mulheres.

Esses dados fazem parte do Boletim de Mortalidade no. 48 divulgado na tarde de segunda-feira (6) pelo Centro Colaborador em Análise de Situação de Saúde (CCAS) do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Os dados foram apresentados durante evento ocorrido no auditório da FCM com a presença do secretário de Saúde de Campinas, Fernando Brandão.

Segundo o Boletim do CCAS, no período de 1980 a 1995 houve um decréscimo da taxa de mortalidade por diabetes em Campinas. Entretanto, entre os anos de 1996 a 2010, houve uma inversão dessa tendência, sendo o aumento maior na população masculina.

“Se no início da década de 1980 as taxas de morte por diabetes eram maiores nas mulheres nas idades de 50 anos e mais, sendo superiores nos homens apenas entre 20 a 49 anos, no triênio 2008/2010 as taxas passaram a ser superiores nos homens em todas as idades. Entre 1995 e 2010 o aumento das taxas de mortalidade por diabetes foi de 71,6% entre os homens, comparado a 6,2% nas mulheres. Estes dados ressaltam o quanto as mortes por diabetes são mais precoces em homens”, disse Marilisa Barros, médica epidemiologista e coordenadora do CCAS da FCM da Unicamp.

A análise segundo o distrito de saúde de Campinas em que as pessoas falecidas residiam revela, em relação aos homens, taxas semelhantes entre os distritos. No caso das mulheres, as menores taxas são observadas no distrito Leste, que é o distrito de melhor nível socioeconômico; no distrito Norte, a pesquisa verificou ligeiro declínio da taxa feminina no período estudado.

Considerando o estrato socioeconômico, a pesquisa mostrou que nas mulheres as taxas de mortalidade por diabetes diminuem com a melhora do padrão de vida, o que não foi observado no sexo masculino.

Os coeficientes de mortalidade por diabetes em Campinas são inferiores aos de outras cidades brasileiras, mas são elevados comparados a países como Japão e Reino Unido. As principais complicações do diabetes referidas nas declarações de óbitos foram as complicações circulatórias periféricas e as complicações renais; as complicações renais foram mais frequentes nos óbitos com menos de 50 anos de idade e nas mortes do sexo masculino. Em 30,5% das mortes dos homens, havia registro de complicações renais no atestado de óbito. Nos mortes de mulheres, 37,8% dos registros indicavam complicações circulatórias periféricas. Em cerca de 5% das mortes de ambos os sexos, havia referência a complicações múltiplas causadas pelo diabetes.

O boletim também revela que inquérito de saúde realizado em Campinas em 2008 (ISACAMP 2008) constatou que 25% dos residentes de Campinas com 70 anos ou mais de idade eram diabéticos. Na faixa de 20 a 60 anos a prevalência era de 3% a 5%. O nível de escolaridade também se mostrou associado à prevalência da doença. Quanto maior o nível de escolaridade, menor a prevalência do diabetes em ambos os sexos.

“A adesão apropriada ao tratamento e às condutas de controle de níveis glicêmicos possibilitaria diminuir a frequência do surgimento de complicações e de óbitos prematuros provocados pelo diabetes. Medidas para melhorar a qualidade da dieta e a prática de atividade física diminuindo a prevalência de obesidade são fundamentais para a redução da incidência do diabetes na população de Campinas”, recomenda a médica epidemiologista da Unicamp.

Segundo o secretário de Saúde de Campinas, Fernando Brandão, é disponibilizado para a população três tipos de hipoglicemiantes de uso oral e dois tipos de insulina, aparelhos para teste de glicemia e fitas capilares para medida a custo zero ou a baixo custo na farmácia popular.

“Atrás do diabetes e da obesidade vem uma série de problemas. Nós temos o desafio de fazer com que as pessoas sejam diagnosticadas deste o início, de promover a saúde por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e fazer um enfrentamento dessas doenças não só visando o tratamento, mas a mudança de comportamentos nas atitudes nutricionais, atividade física e com equipes de saúde que tenham trabalhos específicos junto às pessoas para elas viverem mais e melhor”, disse Brandão.

Os dados do Boletim no. 48 estão disponíveis em www.saude.campinas.sp.gov.br ou www.fcm.unicamp.br/centros/ccas. CAso não consiga visualizar os dados, clique aqui.

Texto e fotos: Edimilson Montalti - ARP-FCM/Unicamp