Ricardo Brioche, 17, ficou um tempo indeciso e no terceiro ano do ensino médio decidiu prestar medicina. Em 2009, já tinha prestado o vestibular como treineiro. Estudioso e aplicado, passou este ano num dos vestibulares mais concorridos: 103 candidatos por vaga para o curso de medicina da Unicamp. Entre a segunda chamada e a matrícula ocorrida nesta quarta-feira (16) pela manhã no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Ricardo disse “que não caiu a ficha”. Recepcionado pelos veteranos da Associação Atlética (Aaaal) e do Centro Acadêmico Adolfo Lutz (Caal), Ricardo passeou pela lojinha da Atlética montada no saguão do anfiteatro 1 da Legolândia, comprou adesivos, tirou fotos e recebeu informações sobre a “Semana da Calourada” e o “Integra Saúde”.
Karina Lie Akinaga era uma das calouras mais esperadas pelos veteranos. Irmã da sextanista Mariana Hanayo Akinaga, conhecida como Eba, Karina levou cinco anos para decidir prestar o vestibular da Unicamp, mas já sabia desde pequena que seria médica. Natural de Atibaia e descendente de uma família de médicos, o coração balançou entre estudar em São Paulo ou em Campinas. Já apelidada de Yuppi pelas veteranas da Atlética, ela disse que se sentia em casa. “Desde que vim treinar voleibol, conheci muita gente. Estou emocionada”, comentou Karina.
Segundo José Antonio Nadal, o Jota, presidente da Associação Atlética Acadêmica Adolfo Lutz (Aaaal) o esporte é uma das atividades extra-acadêmicas que mais integra veteranos e calouros. No dia da matrícula, os novos alunos são convidados a se associarem à Aaaal, não sem antes responderem a um questionário sobre que tipo de esporte gostam de praticar. “Oferecemos 19 modalidades esportivas. Alugamos quadras, contratamos treinadores e fornecemos o material esportivo. O associado ganha uma carteirinha que dá descontos em lojas, academias e livrarias de Campinas”, explicou Jota.
Além das atividades esportivas, a Aaaal promove, anualmente, congressos de medicina esportiva e especialidades médicas, “Caminhada da Saúde”, festa junina para toda a comunidade de área da saúde e participa de competições esportivas como a InterMed que ocorre, geralmente, no mês de setembro. “O principal intuito é integrar o pessoal novo que está chegando. E conseguimos promover muito bem isto, principalmente por meio do esporte, que é a parte que mais nos interessa”, disse Jota.
Ao ingressar na Unicamp o calouro pode ficar “perdido” ou ter algumas dificuldades, como por exemplo, achar um lugar para morar, caso seja de outra cidade. Para resolver esse problema, os veteranos do Centro Acadêmico Adolfo Lutz (Caal) adotaram este ano o sistema de apadrinhamento. Cada calouro será apadrinhado por um aluno do segundo ano do curso de medicina que o acompanhará durante todo o ano. “Fazemos uma entrevista com o calouro e depois, de acordo com o perfil, escolhemos o melhor padrinho ou madrinha para cada um”, explicou Amanda Zambon Marques da Silva, uma das coordenadoras do Caal, que promove muitos eventos durante o ano.
Na programação organizada pelo Caal para os calouros de 2011, um dos pontos altos será o “Integra Saúde”, no dia 25, e um tour por Campinas, nos dias 26 e 27 de fevereiro. O “Integra Saúde” reúne grupos de alunos dos cursos de medicina, enfermagem, fonoaudiologia e farmácia que durante o dia visitam as Unidades Básicas de Saúde da Vila Orozimbo Maia e São Marcos; o Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira; o Centro de Referência em Reabilitação Jorge Rafful Kanawaty e os Centros de Convivência Rosa dos Ventos e Espaço das Vilas, de Campinas. O tour por Campinas inclui visitas a vários pontos turísticos da cidade, como o Parque Taquaral, Jóquei Club, Santa Casa de Misericórdia, Estádio Brinco de Ouro, a feira hippie no Centro de Convivência, o Bosque dos Jequitibás e outros. “O objetivo é, além de integrar alunos novos e veteranos, apresentar a cidade que será a casa para muitos deles durante seis anos”, explicou Ariane Guissi dos Santos.
Além dos alunos do curso de medicina, os veteranos dos cursos de enfermagem, fonoaudiologia e farmácia também recepcionaram os calouros. O trote como rito de passagem é uma tradição em todas as universidades. A Unicamp, nos últimos anos, adotou o trote solidário e consciente como forma de marcar a entrada do aluno na vida universitária. Mas um pouco de festa e tinta não faz mal a ninguém. Júlio Cesar Gonçalves Trabanco, segundanista do curso de fonoaudiologia da FCM da Unicamp se lembra até hoje do dia em que entrou para a faculdade. Este ano, na condição de veterano, tendo o consentimento do calouro após a matrícula, pintou vários “bixos”. “Valorizamos a questão de não ser um trote violento. É uma tradição que passa de geração a geração e marca para sempre a vida do calouro”, explicou Trabanco.
No dia da primeira chamada da Unicamp, o repórter Guilherme Dearo, do Guia do Estudante, se “infiltrou” como calouro de medicina e acompanhou o trote da FCM. O depoimento, bem humorado, deu o tom de como os calouros são recebidos numa perspectiva de quem está chegando à Unicamp.
Texto e fotos: Edimilson Montalti
ARP - FCM