Quem pensa que rap, pesquisa científica e saúde pública são elementos heterogêneos, pode estar bastante enganado. Nessa quinta-feira (10), o evento cultural “Inquérito encontra Inquérito” – que acontecerá no Salão Nobre da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, às 13h15 – prova exatamente o contrário, ao reunir de maneira inédita, pesquisadores da Unicamp e da USP, representante da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério de Saúde (MS), e o rapper Renan Inquérito.
A programação faz parte do III Encontro dos Inquéritos de Saúde ISA, organizado pelo Centro Colaborador em Análise de Situação de Saúde (CCAS) da FCM, nos dias 10 e 11 de dezembro, e que tem como objetivo, avaliar os avanços conquistados pelos inquéritos de saúde de base populacional realizados ao logo dos últimos 15 anos, pelos projetos de pesquisa ISA-SP e ISACAMP.
Embora o discurso acadêmico possa ser diferente do discurso da periferia, ambos, podem apresentar objetivos comuns. De acordo com a epidemiologista Margareth Guimarães Lima, não apenas os nomes dos projetos de pesquisas coincidem (Inquérito ISA-SP e Inquérito ISACAMP) com o nome adotado por Renan (Inquérito), como também os objetivos. “As pesquisas de inquérito ISA têm como foco as desigualdades sociais em saúde, e muitas das letras escritas pelo Renam falam de desigualdades sociais. É um casamento cultural, científico, político, acadêmico”, diz .
Margareth, que também é pesquisadora do CCAS da FCM, reforça que a desigualdade social também está presente na área da saúde, e que os inquéritos de base populacional permitem detectá-la. Além de contribuir para avanço científico, ela também destaca que pesquisas dessa natureza servem de instrumento aos gestores de saúde. “Temos visto em nossos resultados o quanto a desigualdade social está presente na saúde, desde as condições de vida e de moradia, até os comportamentos de saúde, de presença de doenças crônicas, e também nos serviços de saúde”, argumenta.
O rapper Renan Inquérito acredita que apesar de serem projetos supostamente diferentes, ambos os “Inquéritos” apresentam semelhanças que vão além do próprio nome. “Inquérito quer dizer investigar, apurar. É feito um inquérito de saúde com o intuito de tentar melhorar a saúde da população. Eu faço um inquérito através do rap, com o intuito de melhorar a vida das pessoas através da música”, diz.
Mestre pelo Instituto de Geociências da Unicamp, o rapper Renan também é poeta. Recentemente, uma de suas poesias publicadas no livro #PoucasPalavras, publicado em 2011, foi tema de uma questão apresentada na prova do vestibulinho para o Colégio Técnico da Unicamp (Cotuca). Familiarizado com o ambiente acadêmico, ele defende a interseção entre a universidade e a comunidade, em que o saber popular possa se somar ao saber científico.
“Falamos dos três pilares da universidade que são o ensino, a pesquisa e a extensão. Mas, que extensão tem sido essa? Aquela em que a universidade acredita que deve chegar até a comunidade. Eu acredito no caminho inverso, numa extensão em que a comunidade estenda para a universidade, aquilo que ela realmente acha necessário. Nós sabemos que existem muitas coisas que a ciência e que a academia não conseguem resolver, e que a comunidade, pela necessidade, acaba resolvendo sem teorias, teoremas, laboratórios ou teses, na prática, na vivência do dia a dia”, finaliza.