Livro aborda AVC de forma simples e prática

“Tempo é cérebro”. Foi assim que o médico neurologista Li Li Min falou sobre acidente vascular cerebral (AVC) a um grupo de jornalistas reunidos na manhã do dia 29 de outubro na sala da congregação da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.  O evento abriu as comemorações do Dia Mundial de Conscientização sobre o AVC. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o acidente vascular cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame, é a segunda causa de morte no mundo e a primeira no Brasil, à frente de doenças como infarto e câncer, de acordo. Os AVCs podem ser classificados como isquêmicos, quando há o entupimento de vasos sanguíneos, ou hemorrágicos, quando acontece o seu rompimento.

Na parte da tarde, aconteceu o lançamento do livro “AVC: uma catástrofe que pode ser prevenida e tratada”, organizado por Li Li Min, Paula Teixeira Fernandes, Rodrigo Bastos, Cunha, Susana Oliveira Dias, Vera Regina Toledo Camargo e Carlos Vogt. O livro, escrito numa linguagem prática e atual, teve a colaboração de especialistas e divulgadores científicos do curso de neurociências do Laboratório de Jornalismo (Labjor) da Unicamp. Antes da sessão de autógrafos, o neurologista da FCM da Unicamp concedeu uma entrevista sobre o livro e falou sobre as novas terapias em desenvolvimento para o tratamento do AVC.

Qual foi o objetivo em escrever o livro?

Li Li Min O objetivo foi, sobretudo, informar a sociedade. Percebemos que as pessoas, de forma geral, desconhecem o que é um acidente vascular cerebral (AVC) e, pior, o que fazer diante de alguém com esse quadro. Depois de discutir com mais pessoas que trabalham na área, vimos a necessidade de trazer essa discussão à tona de uma maneira ampla e multidimensional. Daí nasceu o livro.

Quais são os principais sintomas do AVC?

Li Li Min - O AVC é um quadro de instalação súbita. Os principais sintomas são: perda da força muscular de um lado do corpo, caracterizada pela paralisia do braço, perna ou rosto e alteração de fala. Outros fatores que indicam a probabilidade de AVC são dor de cabeça súbita e intensa, tontura e perda temporária da visão.

O que deve ser feito no caso de suspeita de AVC?

Li Li Min - Recomendamos que a pessoa tente levantar os dois braços e mantê-los erguidos para ver se tem a perda da força; pedimos para dar um sorriso para ver se tem um desvio de um canto da boca que denote fraqueza de um lado do músculo do rosto e pedimos para repetir uma frase do tipo ‘eu gosto dos dias de sol’ para ver se a pessoa entende o que está falando. Se a pessoa tiver um desses três fatores comprometidos, é bem possível que estejamos diante de alguém que está com o AVC em curso.

Neste caso, o que deve ser feito?

Li Li Min – Deve-se acionar o serviço móvel de urgência (SAMU) pelo número 192 e remover a pessoa para um local adequado para atender pacientes na fase aguda de AVC dentro do prazo de até quatro horas e meia, pois as chances de tratamento nesse prazo são grandes. Em Campinas, o Hospital de Clínicas de Unicamp e os hospitais Mário Gatti e César Pierro têm equipes de plantão 24 horas.

Existem maneiras de se prevenir o AVC?

Li Li Min - Existe várias maneiras de você evitar a ter um AVC. Hoje, sabemos que há fatores de risco não modificáveis, como idade, raça, sexo e hereditariedade. E há fatores de risco modificáveis, que estão relacionados ao comportamento e hábitos de vida das pessoas.

Quais são esses fatores?

Li Li Min – Sedentarismo, tabagismo, alcoolismo, obesidade, diabetes e pressão arterial. Cada um deles associados e controlados pode reduzir em até 50% o risco de AVC. Caso contrário, a probabilidade da pessoa ter um AVC é considerável. Por isso sempre aconselhamos atividades físicas diárias e alimentação saudável para reduzir os riscos.

Hoje, quais são os rumos das pesquisas sobre o AVC e o tipo de tratamento ou medicamento utilizado?

Li Li Min - Houve um grande passo em termos de diagnóstico e tratamento para o AVC e as perspectivas são até muito boas a meu ver. A partir de 1995, passou-se a usar a medicação RPPA, chamada de trombolítica. Se aplicada até quatro horas e meia no paciente com AVC, ela dissolve o entupimento do vaso sanguíneo no caso do acidente vascular isquêmico. Outro método utilizado é o endovascular, baseado no cateterismo. No caso do AVC hemorrágico, novos medicamentos para o estancamento do sangue estão em estudo.

Uma terapia sofisticada é a sonotrombolise que se utiliza do ultrassom para desobstruir o vaso sanguíneo. Há vários grupos pesquisando o uso de células-tronco para a reconstrução de áreas danificadas do cérebro, mas ainda é cedo para falar sobre os resultados. Porém, de qualquer forma, há métodos antigos mais baratos e eficientes, como a caminhada e a dieta. Aqui não tem remédio, a pessoa tem que fazer. E se ela fizer, ela consegue reduzir, muitas vezes, de 20% a 40% o risco de vir a ter um AVC.

De que forma os jornalistas podem contribuir para melhorar ou diminuir esse quadro tão grave hoje no Brasil?

Li Li Min – AVC não pode ser sinônimo de derrame, mesmo sendo o primeiro termo pouco conhecido e o segundo mais comum dentro do repertório da população. Há uma necessidade do jornalista fazer uma divulgação científica para promover a cultura científica local usando até mesmo termos médicos para que vá minimizando essa lacuna, essa distância entre o profissional de saúde e o próprio paciente. É simplificar, por exemplo, os sintomas para incorporá-los na vida das pessoas.

O livro “AVC: uma catástrofe que pode ser prevenida e tratada” é um lançamento da editora Plêiade e faz parte da séria CInAPCe. Informações pelo telefone (19) 3521-7292 ou http://www.lepedic.com.br