A qualidade de sono em pacientes submetidos a jejum prolongado, da aluna Danielle Balestero dos Santos, foi um dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) apresentados na última quarta-feira (7) no Departamento de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Pacientes internados em instituições hospitalares permanecem em jejum acima do período recomendado pelas entidades científicas ao aguardar a intervenção cirúrgica ou para realizar exames diagnósticos.
Já se tem estudado muito sobre as alterações metabólicas oriundas do jejum, e uma delas pode ser a alteração do sono, uma vez que pesquisadores reconhecem que o jejum, em situação experimental, altera o padrão de sono-vigília de várias espécies de seres vivos. A privação de alimento, por exemplo, tem sido indicada quando se deseja aumentar a vigília e reduzir significativamente a fase do sono com o movimento rápido dos olhos (sono REM).
“A qualidade do sono pode ser afetada por diversos fatores, como stress e a ansiedade. Todavia, supõe-se que o paciente que esteja submetido à restrição de líquidos ou de alimentos, por período de tempo maior do que necessário, principalmente de água, pode levar a um aumento do stress e de ansiedade e, conseqüentemente, da qualidade de sono”, explicou a enfermeira e orientadora da pesquisa, Maria Isabel de Pedreira de Freitas.
Revisões científicas vêm demonstrando que a recomendação “nada por boca após a meia-noite” não se faz mais necessária. A American Society of Anesthesiologists recomenda, desde 2005, que a ingestão de líquidos claros seja permitida até duas horas antes do ato anestésico e, de sólidos, seja permitida até seis horas. O jejum acima de seis horas aumenta o risco de desidratação e hipoglicemia, além do desconforto e da ansiedade, dos problemas na administração da medicação de rotina, sem diminuir necessariamente o risco de aspiração.
O objetivo do estudo “A qualidade de sono em pacientes submetidos a jejum prolongado” foi avaliar a qualidade de sono nos pacientes que ficaram em jejum a partir da ceia noturna para serem submetidos a exames diagnósticos ou ao ato operatório. Para a realização do estudo, a estudante de enfermagem aplicou a escala Visual Analogue Sleep Scales em 51 pacientes internados na Enfermaria de Moléstias do Aparelho Digestivo do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp no período que antecedia imediatamente o ato operatório ou o exame diagnóstico. Os pacientes foram divididos em quatro grupos: os que ficaram em jejum imediato pré-exame ou pré-operatório e os que ficaram em jejum mediato ao jejum estabelecido para realizar a intervenção cirúrgica ou o exame diagnóstico.
“Comparando esses grupos com a população saudável e de insônia, podemos dizer que a qualidade de sono em pacientes hospitalizados é ruim. Quando ele fica em jejum prolongado, ele tem piora dessa qualidade de sono, podendo levar um maior tempo para adormecer. E ele vai precisar de sono suplementar. Quando os jejuns prolongados são muito próximos uns dos outros, isso piora a qualidade do sono e pode resultar em possíveis complicações que a falta do sono trás à parte neurológica, raciocínio, memória e a recuperação pós-operatória” disse Danielle.
“As diretrizes do Conselho Federal de Medicina e da Associação Médica Brasileira, publicadas em 2011, preconizam que o jejum do paciente em cirurgias eletivas deve ser de duas horas para líquido claro e seis horas para resíduo sólido. Por vezes, o paciente ficou dois ou três dias em jejum para fazer exames, em seguida vai para cirurgia e fica mais um período em jejum. E o sono é fundamental na recuperação do pós-operatório”, disse Maria Isabel.
A apresentação de TCC faz parte da conclusão do curso de graduação em Enfermagem. Os trabalhos são apresentados em formato de pôster e oralmente para uma banca de professores. Muitos tornam-se artigos científicos. Em torno de 15% dos trabalhos, resultam em dissertações de mestrado. “Os trabalhos são originários da prática. Eles desenvolveram uma metodologia, fizeram um cotejamento com a literatura internacional e chegaram a um resultado e isso vai contribuir para a melhoria do conhecimento científico. É bom para a Universidade e para a ciência”, explicou Maria Isabel.
Vitrine de ideias
Outra atividade realizada pelos graduandos, durante o Estágio Curricular, disciplina oferecida no último ano de formação dos alunos, nos campos de estágio institucionais e nas unidades básicas de saúde, é a Vitrine de Idéias. Trata-se da apresentação das ações de impacto implementadas nos locais de atuação, durante o último ano do curso de graduação em enfermagem. Desta atividade participam não apenas os docentes e discentes do Departamento de Enfermagem, mas também os enfermeiros dos campos onde foram realizadas as atividades práticas, bem como, membros participantes do planejamento geral dos estágios dos órgãos envolvidos como Centro de Educação dos Trabalhadores de Saúde (CETS), o Hospital Estadual de Sumaré, o Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti (Caism) e o Hospital das Clínicas da Unicamp.
“Estes momentos vem coroar a formação dos alunos e demonstrar o nível de aprendizado obtido pelos graduandos do curso de Enfermagem”, acrescentou Isabel.
Texto e fotos: Edimilson Montalti - ARP-FCM/UNICAMP