James Hillman, autor da psicologia arquetípica, ganha tributo na FCM

O jornal norte-americano The Guardian publicou na edição de 21 de dezembro de 2011 um longo obituário sobre a morte do psicólogo James Hillman. Feroz crítico da dedicação da América para a busca da felicidade, Hillman foi o criador da psicologia arquetípica e estudou a doença, o fracasso, a depressão e o suicídio. Ele voltou-se ao mito de Er que Platão expõe no final da República em que o filósofo grego dizia que a alma de cada um escolhe uma imagem ou desenho, que depois será vivido aqui na Terra.

Para celebrar as ideias de Hillman, nos dias 15, 16 e 17 de março, acontece no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, um tributo ao psicólogo considerado o discípulo direto de Carl Gustav Jung. Nestes três dias, diferentes profissionais das áreas de Filosofia, Educação, Psicologia e Literatura que estudaram, conviveram, ouviram e trabalharam com Hillman se reúnem para celebrar sua vida e obra.

O idealizador do tributo à James Hillman é o psicanalista Camilo Francisco Ghorayeb que estudou na Pacifica Graduate Institute, um instituto de pós-graduação com cursos embasados nas ideias propostas por Hillman que teve o psicólogo norte-americano como professor e conselheiro por muitos anos.

“Hillman acabara de falecer e o instituto promoveu um tributo com seus amigos e colaboradores mais próximos homenageando sua vida e obra. Aquilo foi tão marcante, que na hora me ocorreu tentar reproduzi-lo no Brasil, de alguma forma. Quando levei a ideia para eles, houve uma resposta positiva imediata, e o evento, praticamente, tomou forma sozinho”, contou Ghorayeb.

Segundo Ghorayeb, o grande legado de Hillman foi a alma contrapondo-se ao espírito. Hillman removeu o olhar estrutural da psique que parece ter ficado mais forte depois da morte de Jung, que era de uma época preocupada com o cientificismo e ainda bastante influenciada pela tentativa de encontrar um sentido maior para o espírito humano e organizar o sofrimento.

“Hillman desconstrói esta tentativa e, de forma ousada, aponta para a psique, a alma, como sendo irreparável, simplesmente porque ela é o que é. Sua natureza não é facilmente compreensível ou organizável e, para o ego que busca respostas, isso pode ser bastante difícil”, disse.

James Hillman foi o principal autor da chamada psicologia arquetípica. A terapia arquetípica não procura achar um significado específico do que está acontecendo com um paciente. É uma terapia que parte do princípio que olhar para a condição pode ser mais importante que tentar analisá-la e colocá-la dentro de uma referência pronta.

“Como Jung disse, o que é inconsciente é realmente inconsciente, não temos muito acesso a este conteúdo. A dor é inevitável. Tentar traduzí-la pode transformar-se numa forma de evita-la, mas podemos, ao invés disso, tentar nos aproximarmos dela com menos defesas e estabelecer um contato mais conscientemente humano com esta condição”, explicou.

Entretanto, segundo Ghorayeb, nem entre os junguianos Hillman é visto com unanimidade. Enquanto Freud e Jung trouxeram algo num certo momento histórico que os tornou tão importantes, Hillman é visto como um autor importante, erudito, interessante e deve ser estudado. Mas suas propostas não agradam a todos.

“Imagino que Hillman nunca terá o mesmo reconhecimento que os fundadores da psicologia profunda. Não vivemos mais isso. Não há, no momento um grande salto a ser feito, como foi feito a favor do indivíduo e seu inconsciente no início do século passado. Hillman trata exatamente disso, da condição do indivíduo que, inclusive, já está mais psicologizado hoje em dia. Essa condição pode reverter-se, ironicamente, em mais uma barreira contra o acesso a si mesmo, uma elaboração que não mais conecta o indivíduo com sua dor ainda irreconhecível, mas com o conhecimento já estabelecido do que ela é”, explicou.

Texto: Edimilson Montalti – ARP-FCM/Unicamp

Fotos: Divulgação