Gastrocirurgia e Proctologia ganham prêmios em congressos nacionais

Docentes e médicos assistentes das áreas de Gastrocirurgia e Proctologia do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp tiveram trabalhos científicos premiados em dois importantes congressos brasileiros ocorridos no mês de setembro.

No Congresso Brasileiro de Coloproctologia realizado na cidade de Belo Horizonte, MG, o primeiro lugar ficou para o trabalho “Autofagia e expressão de citocinas pró-inflamatórias na mucosa intestinal e tecido mesenterial de pacientes com doença de Crohn”, de Raquel F. Leal, M. Milanski, Cláudio S. R. Coy, Mariana Portovedo, Viviane S. Rodrigues, Andressa Coope, Maria L. S. Ayrizono , João J. Fagundes e Lício A. Velloso.

O prêmio de melhor Tema Livre foi para a pesquisa “Programa de prevenção do câncer colorretal Unicamp: resultados iniciais”, de Cláudio Saddy Rodrigues Coy, Lila Lea Cruvinel, Tamara Maria Nieri, Andre Henrique Miyoshi, Débora Helena Rossi, Raquel Franco Leal, Maria de Lourdes Setsuko Ayrizono e João José Fagundes. 

No Congresso Panamericano de Cancer Gástrico, realizado em Porto Alegre, RS, o primeiro lugar na modalidade de “Tema Livre” foi para a pesquisa “Adenocarcinoma da transição esôfago-gástrica: Análise multivariada da morbi-mortalidade cirúrgica e terapia adjuvante”, de Valdir Tercioti Junior, Luiz Roberto Lopes, João de Souza Coelho Neto, José Barreto Campelo Cavalheira e Nelson Adami Andreollo.

O segundo lugar ficou para a pesquisa “Avaliação clínica e esteatócrito de doentes submetidos à reconstrução de trânsito por Y-Roux e Rosanov modificado após gastrectomia total no câncer gástrico”, de Danielle M. Cesconetto, Luiz Roberto Lopes, Fernando Ribeiro, João de Souza Coelho Neto, Valdir Tercioti Jr. E Nelson Adami Andreollo.

“Em ambos eventos houve um número grande de trabalhos inscritos, de instituições universitárias e não universitárias brasileiras e internacionais. O crivo para a premiação foi grande. As disciplinas do Departamento de Cirurgia da FCM da Unicamp realizam inúmeras pesquisas clínicas e experimentais sobre temas atuais. O prêmio recebido por nossos docentes e médicos assistentes mostra a importância e reconhecimento de nossa equipe”, disse o médico Nelson Andreollo.

 

PESQUISAS

“Autofagia e expressão de citocinas pró-inflamatórias na mucosa intestinal e tecido mesenterial de pacientes com doença de Crohn”

Recentemente, tem se proposto que o tecido mesenterial possa participar da fisiopatologia da doença de Crohn, uma vez que é notória a hipertrofia da gordura mesenterial próxima ao segmento intestinal afetado pela doença. Entretanto, há poucos estudos relacionando autofagia e tecido mesenterial na doença de Crohn.

Dez pacientes com doença de Crohn, oito sem doença inflamatória intestinal que foram submetidos à cirurgia, e oito com ileocolonoscopia normal, foram estudados. As expressões de LC3-II, TNF-α e IL-23 foram determinadas por imunoblot de extrato protéico total. Além disso, expressão gênica de LC3 e de Atg16-L1 foi realizada por RT-PCR.

De acordo com a pesquisa, a expressão de LC3-II foi significativamente menor no tecido mesenterial de pacientes com doença de Crohn quando comparado ao controle, sendo que  as amostras de tecido intestinal do grupo doença de Crohn apresentaram maior expressão de LC3-II. Entretanto, as expressões gênicas relacionadas à autofagia foram similares nos grupos de tecido mesenterial. Os níveis de TNF-α e de IL-23 foram maiores na mucosa intestinal do grupo doença de Crohn.

Estes achados, segundo os pesquisadores, sugerem alteração da autofagia no mesentério na doença de Crohn, o que pode estar envolvido com a manutenção da inflamação na mucosa intestinal. A pesquisa teve auxílio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo Auxílio financeiro (FAPESP).

 

Programa de prevenção do câncer colorretal Unicamp: Resultados iniciais”

O câncer colorretal reúne condições para a prevenção, pois é frequente em nosso meio e apresenta alta mortalidade. Sabe-se também que a remoção de pólipos diminui sua incidência e o rastreamento possibilita o diagnóstico precoce assim como reduz a mortalidade em até 30%. Em 2011, iniciou-se o planejamento para a realização de uma campanha de prevenção de câncer colorretal no Campus Zeferino Vaz da Unicamp, dirigida a alunos, funcionários e docentes, instituída de forma sistemática em 2012. O objetivo da pesquisa é relatar os resultados iniciais e verificar a aderência ao programa.

A campanha perene foi dirigida a alunos, funcionários e docentes com idade superior a 50 anos (população estimada em seis mil pessoas), por meio de teste de pesquisa de sangue oculto (anticorpo anti-hemoglobina). Foram feitas visitas a todas as unidades, Institutos, Faculdades e áreas administrativas para a realização de palestras informativas sobre câncer colorretal, distribuição de kits de pesquisa de sangue oculto, leitura do exame e orientação nos casos positivos para a realização de colonoscopias. Os indivíduos com resultado negativo para pesquisa de sangue oculto são orientados a realizar novo exame após um ano.

De março a maio de 2012, as unidades visitadas corresponderam à população de 1.424 indivíduos, sendo que destes 843 (59,2%) realizaram o teste, com os seguintes resultados: positivo em 171 indivíduos (21,1%), negativo em 643 (78,9%) e resultado inconclusivo por coleta inadequada em 29 casos. O teste não foi realizado por 581 pessoas (40,8%) por: recusa em participar do programa (22,6%), indivíduos não localizados (14,8%), motivo não informado (1,9%) e acompanhamento em outros serviços (1,4%). Dentre os casos com testes positivos, 75 realizaram colonoscopias (43,8%), correspondendo a 5,2% da população investigada. Os achados endoscópicos foram: exame normal (38,6%), presença de pólipos adenomatosos (56,0%), carcinoma in situ em pólipos removidos (2,6%) e adenocarcinoma invasivo (2,6%).

Pode-se considerar nesta fase inicial, que a aderência ao programa de 59,2% e alta taxa de lesões encontradas, justificam a manutenção do mesmo de forma perene.

 

Adenocarcinoma da transição esôfago-gástrica: Análise multivariada da morbi-mortalidade cirúrgica e terapia adjuvante”

Foram revistos os prontuários dos pacientes tratados no Hospital Universitário no período de 1989 a 2009, para obtenção de informações referente ao pré e pós-operatório.  Análises de regressão univariada e multivariada de Cox dos fatores de risco para o prognóstico destes pacientes foram realizadas com nível de significância de 5%.

Foram incluídos no estudo 103 pacientes, sendo 78 (75,7%) não submetidos a tratamento adjuvante e 25 (24,3%) submetidos a tratamento adjuvante. Todos os pacientes foram submetidos a ressecção cirúrgica com intenção curativa (esofagectomia e/ou gastrectomia).

A análise multivariada de toda a casuística mostrou a influência dos seguintes fatores na sobrevida: invasão linfonodal - pacientes com N2 tiveram risco de óbito 3,4 vezes maior que os com N0, com N3 tiveram risco de óbito 5,9 vezes maior; a  broncopneumonia - pacientes com esta complicação tiveram risco de óbito 11,4 vezes maior; e a recidiva tumoral durante o seguimento clínico tiveram risco de óbito 3,8 vezes maior.

A análise multivariada de regressão de Cox concluiu que a recidiva tumoral, a presença de metástase linfonodal e a presença de broncopneumonia no pós-operatório foram fatores de piora no prognóstico, contribuindo significativamente para elevar a morbimortalidade, diminuindo a sobrevida global.

 

“Avaliação clínica e esteatócrito de doentes submetidos à reconstrução de trânsito por Y-Roux e Rosanov modificado após gastrectomia total no câncer gástrico”

Esteatorreia é uma das complicações mais comuns da exclusão duodenal do trânsito intestinal após gastrectomia total no câncer gástrico. Os objetivos da pesquisa são: comparar a diarreia, gordura nas fezes, anemia, proteínas sanguíneas, ganho de peso (IMC) após gastrectomia total com reconstrução de trânsito por Y de Roux (Y-R) e por Rosanov modificado (Rv).

Para isso, foram analisados 32 doentes no grupo Y-R e 11 no Rv, em doentes operados de 1989 a 2007, avaliando a diarreia, gordura nas fezes (esteatócrito – normal 4,91%), anemia, proteínas sanguíneas e ganho de peso, no sexto mês de pós-operatório.

A média do esteatócrito nos grupos Y-R e Rv foram, respectivamente, 5,51% e 2,15%. A variação do IMC entre pré e pós-operatório no grupo Y-R foi maior que no grupo Rv. A anemia e a hipoproteinemia foram respectivamente menos significativas no grupo Rv comparado ao Y-R (27,3% versus 78,1%). O número de evacuações foi maior no grupo Y-R comparado ao Rv (62,5% versus 54,5%). O grupo Rv também apresentou menor prevalência de empachamento (36,4% x 68,7%), azia (0% x 6,25%) e anorexia (0% x 6,25%).

A manutenção do duodeno no trânsito após gastrectomia total oferece vantagens no pós-operatório, como a melhor mistura dos alimentos com as enzimas, melhor absorção de gordura e menor número de evacuações, menor prevalência de sintomas e manutenção de peso, sendo uma opção a ser mais empregada em tumores gástricos de corpo e fundo.

Texto: Edimilson Montalti - ARP-FCM/Unicamp