O Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação Gabriel Porto (Cepre) acaba de completar 39 anos. Criado em 1973, o foco inicial era a assistência e reabilitação nas áreas de surdez e deficiência visual. A partir de 1990, o Cepre buscou envolvimento com as áreas de ensino e pesquisa. Ligado à Faculdade de Ciências Médicas (FCM), em 2001 criou o curso de fonoaudiologia em parceria com o Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp.
Para a dupla comemoração, o Cepre convidou Martinha Clarete Dutra dos Santos, diretora de Políticas de Educação Especial do Ministério da Educação e Vera Mendes, coordenadora da área técnica de saúde da pessoa com deficiência do Departamento de Ações Programáticas e Estratégias do Ministério da Saúde, para duas palestras nesta sexta-feira (25) no Salão Nobre da FCM.
Martinha Clarete, deficiente visual, disse que historicamente as pessoas com deficiência foram resumidas ao seu prontuário médico, estigmatizadas e esteriotipadas a partir de uma condição de inferioridade, invalidez e problemas focalizados na sua condição sensorial, física ou intelectual. Por consequência disso, a sociedade se encarregou de criar os espaços especiais sob a legação de bem atender.
“Isto construiu um histórico de exclusão e segregação, inclusive nas áreas mais simples e cotidianas”, disse Martinha.
Segundo Martinha, as famílias ensinam os filhos e filhas, desde muito cedo, a comer, vestir e tomar banho. Mas quando tem uma criança cega, a família é levada a compreender que não tem condição de ensinar aquela criança da mesma maneira que ensinou as demais.
“Eles a institucionalizam para aprender a fechar a blusa, medir um palmo para cortar o fio dental, fazer um prato de comida seguindo a posição do relógio. Está uma estratégia socialmente aceitável hoje, em pleno século XXI, ou é uma forma de exclusão?”, questionou a diretora de Políticas de Educação Especial do Ministério da Educação.
Para ela, para se construir o paradigma de uma sociedade inclusiva é preciso rever conceitos e resignificar estratégias nas diferentes áreas em saúde, educação, cultura, esporte e transporte com o objetivo de compor e disponibilizar serviços que atendam as especificidades humanas.
“O diferente não sou eu, somo nós. Bens e produtos eficazes e socialmente aceitáveis, são os que atendem as necessidades humanas num conjunto, sem reproduzir o apartaid social”, comentou veemente.
O diretor da FCM, Mario José Abdalla, disse que o modelo de serviço do Cepre foi se juntando às unidades acadêmicas. A parceria entre FCM e IEL foi a base para o curso de fonoaudiologia e isso serve de exemplo para a Universidade.
“O Cepre tem um espírito coletivo e institucional e é um modelo de bom serviço. Além disso, ele forma pessoas na graduação e na pós-graduação para atuar na sociedade. Essa é nossa missão”, disse Saad.
Participaram da mesa de abertura do evento Cecília Guarnieri Batista, chefe do Departamento de Desenvolvimento Humano e Reabilitação do Cepre; Ivani Rodrigues Silva, coordenadora do Cepre e Maria Irma Hadler Couldry, coordenadora associada do curso de Fonoaudiologia.
Texto e fotos: Edimilson Montalti - ARP-FCM/Unicamp