Câncer é a segunda causa de morte em Campinas, revela pesquisa

 

Uma em cada cinco mortes na cidade de Campinas em 2010 foi por câncer. Este índice representa 20% das mortes em adultos no município. A doença também chamada de neoplasia tornou-se a segunda causa de morte em Campinas, sendo superada apenas pelas doenças cardiovasculares. O câncer de mama, próstata, pulmão, estômago e intestino grosso juntos representam mais de 50% das mortes. Entre os óbitos de crianças até 10 anos e adultos acima dos 70 anos, o câncer é a causa de 30% das mortes.

Estes dados fazem parte do “Boletim 46 – Mortalidade por neoplasias” do Centro Colaborador em Análise de Situação de Saúde (CCAS) do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. O resultado da pesquisa foi apresentado para o secretário de Saúde de Campinas, José Francisco Kerr Saraiva, na tarde desta quarta-feira (11) no anfiteatro 1 da FCM, dentro da programação da disciplina epidemiologia e saúde do curso de graduação em medicina da FCM.

De acordo com a coordenadora do CCAS Marilisa Berti de Azevedo Barros, a ideia do boletim é jogar luz em cima de um determinado problema e verificar a sua tendência ao longo do tempo. Há dez anos, por exemplo, a segunda causa de morte na população masculina de Campinas eram as causas externas lideradas pelo homicídio. Como houve um declínio dessas causas ao longo dos anos – ela passou a ser a quarta causa – o câncer passou a ser o segundo índice em mortalidade também entre os homens.

“O risco de morrer por doenças cardiovasculares vem declinando acentuadamente ao longo dos anos enquanto que o de neoplasias vem se mantendo. Seguindo essa tendência, o câncer se aproxima da primeira causa de morte em Campinas”, diz Marilisa.

No ano de 2010 Campinas registrou um total de 6.465 óbitos, entre os quais 1.260 foram por câncer. Os dados coletados pela equipe do CCAS mostram que nos últimos 30 anos houve um declínio de 14% no câncer de pulmão entre os homens, enquanto ocorreu um aumento de 40% nas mulheres. “Isso acontece porque as mulheres começaram a fumar mais tardiamente que os homens e o câncer de pulmão é resultado do acúmulo de muitos anos de exposição ao tabaco”, explica a médica epidemiologista.

Outro dado apontado pelo Boletim foi a redução pela metade do risco de morte pelo câncer de estômago, tanto para homens quanto para mulheres, e o aumento nos últimos 30 anos de 30% do câncer de intestino e reto nas mulheres e de 100% nos homens. Segundo a pesquisadora, o declínio do câncer de estômago se deve à maior utilização de alimentos frescos e menor consumo de alimentos defumados e salgados. O consumo excessivo de proteínas, embutidos e gordura animal estaria influenciando no aumento do câncer de colon e reto. “A recomendação para a prevenção de vários tipos de câncer inclui o hábito em consumir mais frutas e verduras”, recomenda Marilisa.

O câncer de mama teve um aumento discreto de 13% em 30 anos e o câncer de colo de útero teve uma redução de 50% nesse período de tempo. Este declínio pode ser atribuído, segundo Marilisa, à ampliação da cobertura do exame de Papanicolaou levando ao diagnóstico mais precoce da doença. Mas o que chamou bastante a atenção dos pesquisadores foi o aumento do câncer de próstata entre os homens. Segundo dados do Boletim, em 30 anos houve um aumento de 38% do risco de morte por câncer de próstata em Campinas.

“O que queremos com a publicação do Boletim é chamar a atenção para as tendências diferentes dos diversos tipos de câncer no município de Campinas e alertar especialistas e órgãos públicos sobre ações de diagnóstico precoce, prevenção e tratamento adequado, de forma a obter redução das taxas de mortalidade como já vem ocorrendo em países mais desenvolvidos”, conclui a coordenadora do CCAS.

O boletim sobre mortalidade em Campinas é publicado desde 1989 em parceria com a Secretaria de Saúde de Campinas. Segundo o secretario de Saúde, José Francisco Kerr Saraiva, os dados são confiáveis e apontam estratégias para gestores públicos municipais, estaduais ou federais. Há 15 dias, ao tomar conhecimento preliminar dos dados sobre mortalidade por câncer em Campinas, Saraiva imediatamente realizou encontros com professores da Unicamp, PUC-Campinas e técnicos da secretaria para estabelecer estratégias.

“Para diminuir a mortalidade por câncer nós temos que fazer prevenção e para isso nós precisamos ter clareza do que está acontecendo no município. Talvez tenhamos que baixar para 40 anos a mamografia e a cada dois anos. No caso do câncer de próstata, precisamos vencer o preconceito e fazer Unidades Básicas de Saúde onde está o trabalhador. É muito importante nós termos esse conhecimento, do contrário nós vamos fazer gestão do achismo”, diz Saraiva.

A equipe responsável pela elaboração do Boletim é composta pelas médicas Marilisa Berti Barros e Letícia Marín-León, além de Ana Paula Belon, todas do Centro Colaborador em Análise de Situação de Saúde do Departamento de Medicina Preventiva e Social da FCM/Unicamp e pelas médicas Solange Mattos Almeida e Maria Cristina Restitutti, da Secretaria Municipal de Saúde .

O boletim nº 46 por mortalidade por neoplasias esta disponível nos endereços www.campinas.sp.gov.br/saude e www.fcm.unicamp.br/centros/ccas/

 

Texto e fotos: Edimilson Montalti

ARP - FCM - UNICAMP