Pesquisa realizada em ratos e camundongos mostra que a ingestão diária de pequenas doses de azeite de oliva e óleo de linhaça reduzem obesidade e diabetes tipo 2. Ambos os óleos contém nutrientes que apresentam ações no hipotálamo, órgão responsável pela sensação de fome e queima da gordura corporal. O estudo foi realizado no Laboratório de Sinalização Celular (Labsincel) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp pela bióloga Juliana Contin Moraes Martins, sob a supervisão do médico e pesquisador Licio Velloso. A pesquisa também contou com a colaboração do nutricionista Dennys Cintra, da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) de Limeira.
De acordo com outras pesquisas desenvolvidas no Labsincel, o consumo de gorduras saturadas como manteiga, leite integral, carnes gordas e alguns tipos de pães levam a uma inflamação, principalmente do sistema nervoso central, que tem o hipotálamo como centro controlador da fome e do gasto energético. O aumento de peso está associado ao diabetes, dislipidemias e doenças cardiovasculares. “Com o hipotálamo inflamado, o cérebro não consegue perceber que organismo já está alimentado e precisa parar de comer”, explica Juliana.
Se as gorduras saturadas levam a uma inflamação do hipotálamo, poderiam as gorduras insaturadas como o ômega-9, presente no azeite de oliva e o ômega-3, presente no óleo da semente de linhaça reverter esse quadro? Essa foi a questão levantada pela pesquisadora que rendeu à Juliana o prêmio Pemberton da Coca-Cola Brasil entregue no mês passado, em São Paulo. Foram inscritos mais de 500 trabalhos da área da saúde de todo o Brasil, do qual a pesquisa “Ácidos graxos mono e poli-insaturados no controle da inflamação hipotalâmica em animais obesos e diabéticos” ficou em primeiro lugar.
Separados em gaiolas individuais e mantidos em ambientes com água, ração, luz e temperatura controladas, ratos da linhagem Wistar e camundongos da linhagem Swiss foram submetidos durante 60 dias a uma dieta rica em gordura saturada para o desenvolvimento de obesidade e diabetes tipo 2. Ambas as espécies tiveram suas dietas suplementadas com diferentes concentrações de óleo de linhaça ou azeite de oliva. Outros grupos experimentais de animais receberam diretamente no hipotálamo os mesmos ácidos graxos, ômega-3 e ômega-9, purificados e em concentrações pré-estabelecidas.
O ganho de peso e consumo dietético em ambos os grupos foram avaliados diariamente. No hipotálamo e nos tecidos adiposos marrom e branco foram avaliados neurotransmissores, proteínas da via da insulina, leptina, biogênese energética, oxidação, inflamação e morte celular programada, pelas técnicas de RT-PCR, Western-blot e imunohistoquímica. Testes de tolerância à insulina e glicose foram realizados.
“Pelos resultados prévios em animais, a perda de peso é bastante significante. Há um restabelecimento da função hipotalâmica. Com a adição do azeite de oliva e do óleo de linhaça na alimentação, conseguimos proteger os animais do ganho de peso causado pela ingestão em excesso de gordura saturada e melhorar a sensibilidade à insulina e à glicose. O azeite de oliva e óleo de linhaça são salvaguardas nas dietas e bom funcionamento do organismo”, revela Juliana.
Para a próxima fase do estudo, segundo a bióloga, pretende-se utilizar o azeite de oliva e o óleo de linhaça no tratamento de pacientes com obesidade mórbida atendidos pela equipe de cirurgia bariátrica do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp. Pessoas obesas apresentam alterações morfológicas no hipotálamo e marcadores inflamatórios na circulação sanguínea. Após a cirurgia, esses marcadores inflamatórios diminuem devido a perda de peso.
“Queremos suplementar a dieta dessas pessoas obesas com óleo de linhaça e azeite de oliva para diminuir esses marcadores inflamatórios antes da cirurgia bariátrica. Isto em 2012 depois de rigorosos protocolos aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa”, revela a pesquisadora.
O Prêmio Pemberton é uma iniciativa da Coca-Cola Brasil voltada a profissionais, instituições de pesquisa e universidades, nas diferentes áreas da Saúde. Seu objetivo é incentivar pesquisas científicas com foco em bem-estar e nos requisitos para uma vida saudável, tais como os benefícios da alimentação equilibrada, da hidratação e da prática de exercícios físicos. O prêmio Pemberton conta com o apoio da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO); Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN) e Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
O terceiro lugar ficou para o educador físico Carlos Kiyoshi Katashima, da FCM Unicamp, com a pesquisa intitulada “O exercício físico aumenta sinais de saciedade em roedores obesos inibindo a S-Nitrosação de proteínas.” A orientação foi do professor José Barreto C. Carvalheira. Katashima foi um dos cinco vencedores da 5ª Semana de Pesquisa da FCM, realizada em maio de 2011 na faculdade.
Texto e fotos: Edimilson Montalti - ARP-FCM-UNICAMP