Adib Jatene propõe reforma no ensino e residência médica durante abertura dos 50 anos da FCM

O médico Adib Jatene abriu na noite de domingo (20) as comemorações dos 50 anos da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Jatene proferiu a aula magna “Saúde e educação médica”. Ele disse que no Governo Federal está em discussão uma estratégia para a ampliação do número de vagas e novas faculdades de medicina, além da proposta em ‘importar’ médicos e flexibilizar a validação de diplomas estrangeiros. Do alto de seus 83 anos, o médico cardiologista e ex-ministro da Saúde nas gestões dos governos Collor e Fernando Henrique Cardoso disse que isso “seria um desastre”.

Acostumado a enfrentamentos públicos, o diretor do Hospital do Coração de São Paulo disse que todos gostam de criticar, mas ninguém tem coragem de propor alternativas. Para ele, nada melhor do que estar dentro de uma faculdade pujante e de repercussão nacional para discutir novas ideias.

Segundo Jatene, a função das escolas médicas – pelo menos as públicas – é formar médicos para atendimento da população. Entretanto, o que se vê, são alunos do quinto ou sexto ano do curso de medicina se preparem para prestar concurso para a residência médica e se tornarem especialistas numa determinada área da medicina.

“Minha proposta é que o aluno, após o sexto-ano, fique dois anos no Programa Saúde da Família sob supervisão da faculdade de origem e no Estado ou região onde se formou. Este seria o pré-requisito para depois ir para a residência médica”, disse Jatene.

Após apresentar dados sobre o investimento do Brasil na área da saúde, a distribuição de médicos pelo território brasileiro e o número de candidatos-vaga por faculdades de medicina, Jatene disse que, muitas vezes, o responsável pela graduação se vê confrontado com os professores titulares sobre de carga horária para ensinar especialidade. Na sua opinião, para resolver esse impasse, o especialista pode ensinar, na graduação, o que o médico geral precisa saber para atender a população.

“Isso requer uma mudança significativa no ensino e na formação de profissionais que possam suprir a demanda dos pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A faculdade de medicina passa a se responsabiliza por ele nos dois anos primeiros depois de formado. Só então ele ingressa na residência médica. Essa é a grande mudança que proponho, além de continuarmos lutando por mais recursos para a saúde”, enfatizou Jatene, aplaudido de pé por autoridades, professores, ex-alunos, funcionários e convidados que lotaram o auditório da FCM.

Rogério Antunes Pereira Filho, aluno da primeira turma do curso de medicina e professor do Departamento de Clínica Médica disse que a escolha de Jatene foi unânime dentro da comissão organizadora dos 50 anos pelo fato do médico cardiologista ser um ícone da medicina brasileira. Antes da aula magna, um vídeo retrospectivo dos 50 anos e o logotipo oficial que marcará todas as comemorações foi apresentado ao público. “Durante este ano de comemorações teremos cursos, atualizações, palestras, apresentações culturais e esportivas. A programação está aberta a sugestões”, disse Pereira Filho.

Mario José Abdalla Saad, diretor da FCM, disse que o objetivo em antecipar as comemorações do Jubileu de Ouro foi refletir o que aconteceu nesses 50 anos e discutir o futuro da faculdade. Saad disse que até o final do mês será publicado um ranking internacional que mostrará as principais universidades mundiais com menos de 50 anos. Dentre elas, o diretor da FCM acredita que a Unicamp está entre as 100 primeiras.

“Com base nesse ranking, tenho a ousadia em dizer que das faculdades de medicina brasileiras com menos de 50 anos, a FCM é a melhor. Essa história de sucesso foi construída pelo trabalho de professores, funcionários, residentes e alunos. Nós não seguimos nenhum modelo. O nosso modelo é ter o melhor ensino, a melhor assistência e a melhor pesquisa”, disse Saad.

O ex-reitor da Unicamp e ex-diretor da FCM, José Martins Filho, falou emocionado de sua satisfação em participar da abertura das comemorações dos 50 anos da faculdade. Para ele, só sabemos o tamanho de uma árvore quando nos distanciamos e vemos a sombra de sua copa. “Estamos escrevendo um pedaço da história do ensino médico do Brasil. Quando nos distanciamos um pouco da FCM é que vemos a dimensão do que está sendo feito aqui”, relatou Martins.

Das histórias dos 50 anos da FCM, o pró-reitor de Graduação da Unicamp, Marcelo Knobel, tem muitas para contar. Seu pai, Maurício Knobel, foi professor do Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médicas da FCM; sua irmã fez medicina na Unicamp. Nas suas lembranças de infância, o convívio com André Pinotti, filho do médico José Aristodemo Pinotti que hoje dá nome ao Hospital da Mulher (Caism), onde sua mãe trabalhou.

“A FCM nos recebeu de braços abertos. Parte dessa história eu acompanhei. A Unicamp é muito jovem, mas é impressionante o que construiu em tão pouco tempo. Ainda enfrentamos dificuldades. Mas como dizia Zeferino Vaz, o que importa são as pessoas. Se depender da tradição, a FCM terá um futuro promissor”, disse Knobel.

Para acompanhar as comemorações dos 50 anos da FCM, a Comissão de Apoio Didático, Científico e Computacional da FCM criou um site com depoimentos e histórias da faculdade, fotos e a programação anual. A construção do site é coletiva e todos podem participar, enviando imagens, relatos ou sugestões para o e-mail ba@fcm.unicamp.br. Uma exposição fotográfica também foi montada por historiadores do Centro de Memória da FCM no saguão de entrada do auditório.

Antes do encerramento da solenidade, o trio Mario de Andrade fez uma apresentação especial em homenagem à FCM. O trio é composto pelo violinista e professor do Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica da FCM, Joel Giglio; a pianista Aci Meyer e a violoncelista Rita Borro. As músicas foram cantadas pela cantora lírica Maria Carolina Galdames.

 

Texto: Edimilson Montalti – ARP-FCM/Unicamp

Fotos: Mário Moreira – CADCC-FCM/Unicamp