Pesquisadores do Gastrocentro ganham dois prêmios por pioneirismo em técnica cirúrgica de câncer do reto
A pesquisa Análise do Esvaziamento Pélvico Lateral do Adenocarcinoma do Reto Distal, de Maria de Lourdes Setsuko Ayrizono, Priscila Natali Moraes, Vitor Augusto de Andrade, João José Fagundes, Raquel Franco Leal, Michel Gardere Camargo, Carlos Augusto Real Martinez e Claudio Saddy Rodrigues Coy foi duplamente premiada durante o 68º Congresso Brasileiro de Coloproctologia, ocorrido em setembro, em Fortaleza. A técnica é utilizada desde o início de 2000 de forma pioneira pela equipe da Unicamp e demonstrou ser efetiva na melhora da sobrevida dos pacientes com câncer de reto, em conjunto com a radioterapia e a quimioterapia.
“Trata-se de uma cirurgia trabalhosa. É um tempo a mais que o cirurgião gasta durante a cirurgia do câncer de reto”, explica Maria de Lourdes Setsuko Ayrizono, professora do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, principal autora da pesquisa.
Os pesquisadores do grupo de coloproctologia do Gastrocentro da Unicamp ganharam o prêmio de melhor tema livre apresentado durante o congresso e também ganharam o prêmio Angelita Gama. Esse prêmio é concedido pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia para o melhor estudo entre todos os trabalhos apresentados nas diversas categorias do congresso. A pesquisa da Unicamp foi escolhida, pessoalmente, por Angelita Habr-Gama, professora titular da Faculdade de Medicina da USP e referência na cirurgia médica brasileira e na prevenção do câncer de intestino.
“No Japão, o paciente diagnosticado com câncer de reto ia direto para a cirurgia de esvaziamento pélvico lateral (EPL). Essa técnica foi trazida ao Brasil no início de 2002 pelo professor Juvenaldo Ricardo Navarro Góes, que formou uma geração de profissionais que hoje atuam em nosso ambulatório. No ocidente, a técnica não era usada, devido a aplicação da radioterapia e da quimioterapia. Naquela época, achavam que era desnecessário, mas nosso estudo demonstra o contrário”, disse Carlos Augusto Real Martinez, professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e chefe do ambulatório de câncer de reto do Gastrocentro.
Os resultados do estudo foram apresentados pela professora Maria de Lourdes Setsuko Ayrizono durante o Congresso. Ela compilou os dados de pacientes com adenocarcinoma do reto distal, operados na Unicamp entre 2010 e 2019. No período estudado, foram realizados EPL em 69 doentes, sendo a maioria do sexo masculino (68,1%), da raça branca (85,5%) e com terapia neoadjuvante (94,2%). O EPL foi bilateral em 34 doentes, à esquerda em 25 e à direita em 10.
O exame anatomopatológico demonstrou presença de metástase linfonodal em 7,2% de doentes. A percentagem de linfonodos acometidos em doentes tratados previamente com radio e quimioterapia foi de 5,8%. No seguimento tardio, 18 doentes evoluíram para óbito, sendo 14 em decorrência da doença, 20 apresentaram metástases à distância; 7, recidiva pélvica e um doente, ambas. Atualmente, 43 doentes estão em acompanhamento ambulatorial – 35 sem doença e 8 com doença – e 8 perderam seguimento.
“Temos uma base de dados de aproximadamente 426 pacientes. Optei em fazer esse recorte a partir de 2010, ano em que os exames anatomopatológicos começaram a ser inseridos no sistema de prontuário dos pacientes, para não perder nenhum paciente. Com isso, acabamos descobrindo que essa é a maior experiência brasileira no uso da técnica EPL e provamos que, mesmo naqueles pacientes que tinham recomendação de radioterapia e quimioterapia, essa cirurgia tinha espaço e beneficiava esses pacientes”, explica Maria de Lourdes.
Pioneirismo e homenagem
Ricardo Góes, com era mais conhecido no meio acadêmico e cirúrgico o professor do Departamento de Cirurgia da FCM falecido em 2007, foi homenageado em 2019 pela Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC). Veja aqui a matéria. De acordo com o diretor associado da FCM Cláudio Saddy Rodrigues Coy, o professor Ricardo Góes, influenciou diversas gerações. Em muitos lugares e ocasiões, ele é sempre mencionado por vários profissionais. Na FCM, ele foi responsável por trazer inúmeras inovações, como a colonoscopia e a fisiologia, por exemplo, e contribuiu também na criação do Laboratório de Doenças Inflamatórias Intestinais.
“Ao lado do professor João José Fagundes, ele ensinou muitos de nós a fazer esvaziamento pélvico lateral em uma época em que esse procedimento ainda não contava com um embasamento muito forte. Hoje, é o assunto do momento e está em voga em função de diferentes aspectos, dentre os quais, os diferentes achados obtidos a partir do exame ressonância magnética”, destacou Coy.
Em 2014, foi montado no Gastrocentro o ambulatório de câncer de reto. O ambulatório congrega oncologista, nutricionista, radioterapeuta, médico de imagem, psicólogo e outros profissionais. De acordo com Martinez, por ser um ambulatório multidisciplinar, o paciente é atendido num só lugar por todos os especialistas, ao invés de ficar indo e vindo várias vezes.
“Quando a ressonância magnética veio, praticamente confirmou-se que fazer esse tipo de técnica, mesmo naqueles pacientes que tinham sofrido radioterapia, melhorava a sobrevida. Estes prêmios demonstram a qualidade e a experiência do grupo de coloproctologia da Unicamp na aplicação da técnica cirúrgica do esvaziamento pélvico lateral. É, também, uma homenagem ao Ricardo Góes, um homem que enxergou o futuro”, reforçou Martinez.
Mais premiações
A pesquisa Papel da Resovina D2 e do Ácido Graxo Poli-Insaturado Ômega-3 na Colite Experimental Induzida por DSS, de Raquel Franco Leal, Fábio Henrique Mendonça Chaim, Livia Bitencourt Pascoal e Bruna Biazon Palma recebeu o prêmio Lusmar Veras Rodrigues de melhor trabalho na categoria de Cirurgia Experimental. A pesquisa também foi realizada no Laboratório de Investigações em Doenças Inflamatórias Intestinais (LABDII) da FCM. Leia aqui a matéria completa já publicada no site da FCM.