Na contramão da patologização, evento reúne especialistas na FCM
“Vivemos tempos sombrios em que tudo conspira para a destruição de direitos. A patologização da vida se constitui na destruição de direitos e é contra isso que nós temos lutado”, disse a pediatra da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Maria Aparecida Affonso Moyses, ontem, durante a solenidade de abertura do VIII Encontro Despatologiza.
Com o tema “Na contramão da patologização”, o evento conta com sessão de pôsteres, mesas-redondas e conferências compartilhadas sobre Políticas Públicas, Saúde Pública e Saúde Mental e experiências despatologizantes, e reúne pesquisadores, gestores públicos e profissionais de saúde e educação, com o objetivo de pensar práticas de atuação que visem condutas desmedicalizantes e despatologizantes.
Vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme) e membro do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), Leonardo Pinho falou sobre o atual cenário brasileiro caracterizado pelo “desmonte de políticas públicas”. “O debate da medicalização e da patologização da vida passa diretamente por essa disputa mais geral no campo das políticas públicas, com a submissão dos interesses públicos aos interesses privados. Os direitos humanos e os direitos públicos continuarão na centralidade da construção das políticas públicas, no Brasil, ou haverá uma submissão total aos interesses privados de algumas corporações?, questionou.
Paulo Amarante, presidente de honra da Abrasme, explicou que muitas pessoas associam o termo ‘medicalização’ ao uso de medicamentos e não exatamente à apropriação médico-científica da vida proposta pelo termo ‘patologização’.
“Não se trata apenas de ‘desmedicar’ ou ‘desmedicalizar’, problema este que afeta, sobretudo a Medicina. Todos os outros saberes baseados na ideia da patologia correm o risco da patologização. Vemos isso acontecer com a depressão. Muitas pessoas que poderiam ser orientadas a novas formas de vida e de cuidado, acabam sendo aceitas e incorporadas como pacientes depressivos. Paradoxalmente, somos profissionais de saúde que vivem da doença e esse é um enfrentamento que o Movimento Despatologiza faz”.
Também participaram da solenidade de abertura do VIII Encontro Despatologiza, o presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Rogério Giannini; a psicóloga e membro do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP/SP), Rosângela Villar; e a diretora da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, Cláudia Ometto.
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