Doenças crônicas são um problema no Brasil e atingem mais os menos escolarizados
Estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que as doenças crônicas vitimam 38 milhões de pessoas no mundo todo, a cada ano, e correspondem a 68% da mortalidade global. Um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Associação Brasileira de Educação e Tecnologia revela um dado alarmante: 45% da população brasileira, com 18 anos ou mais, apresenta pelo menos uma doença desse tipo. Dentre as mais prevalentes estão: a hipertensão, os problemas de coluna, o diabetes, artrite e reumatismo, depressão e asma. As pessoas com menor nível de escolaridade e que não têm plano de saúde privado são as que mais sofrem. Leia o artigo na íntegra aqui.
Os resultados da pesquisa estão no artigo intitulado “Desigualdades sociais na prevalência de doenças crônicas no Brasil: Pesquisa Nacional de Saúde 2013”, publicado em dezembro último, no International Journal for Equity in Health (IJEH). A publicação analisa as desigualdades sociais em Saúde no Brasil utilizando dados obtidos na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada em 2013, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com o Ministério da Saúde.
“As morbidades crônicas, além das mortes prematuras, provocam incapacidade funcional, afetam de maneira importante a qualidade de vida e o bem-estar, e elevam, significativamente, a demanda aos serviços de saúde, gerando forte impacto econômico e social”, explica a coordenadora do Centro Colaborador em Análise de Situação de Saúde da FCM da Unicamp, Marilisa B. A. Barros, que assina a publicação em coautoria com Deborah Carvalho Malta (autora principal), Margareth Guimarães Lima, Regina Tomie Ivata Bernal, Maria de Fátima Marinho de Souza e Celia Landman Szwarcwald.
O estudo transversal de base populacional – realizado a partir dos dados de 60.202 brasileiros a partir dos 18 anos, mostrou ainda, que os brasileiros com o menor nível de escolaridade são os que mais sofrem com diabetes, Acidente Vascular Cerebral (AVC), insuficiência renal, problemas de coluna e hipertensão. “A frequência de AVC é 2,5 vezes maior no grupo de escolaridade inferior, ao passo que os problemas musculoesqueléticos e de câncer foram mais frequentes nos brasileiros com melhor nível de escolaridade”, afirma Marilisa.
De acordo com a epidemiologista do CCAS da FCM Unicamp e uma das coautoras do estudo, Margareth Guimarães Lima, as limitações decorrentes de doenças crônicas comprometem a vida das pessoas, pois impactam na autonomia e na independência dos indivíduos no desempenho de tarefas cotidianas, no trabalho e no convívio social. Tais limitações também foram analisadas na pesquisa e afetaram mais drasticamente os indivíduos analfabetos e com menor grau de escolaridade.
“Entre indivíduos com hipertensão, as limitações provocadas pela doença são 8,9 vezes mais frequentes neste segmento de menor escolaridade e essa profunda desigualdade é observada também em relação a várias outras doenças, como diabetes, asma, problemas musculoesqueléticos, acidente vascular cerebral, artrite, problemas de coluna e depressão”, afirma a pesquisadora.
Ter ou não plano de saúde foi outra variável relacionada às limitações provocadas pelas doenças crônicas, que estão mais presentes nos pacientes sem a cobertura assistencial privada. “Como a maioria depende do Sistema Único de Saúde (SUS), a pesquisa aponta para a necessidade de qualificar o atendimento do SUS nessa área. Podemos atuar na promoção de comportamentos saudáveis, no sentido de evitar essas doenças, e no cuidado adequado, para prevenir e controlar as limitações desencadeadas por elas”, finaliza Margareth.