FCM concorre, novamente, ao Grande Prêmio Capes de Teses


A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (Capes) acaba de divulgar os nomes dos vencedores da edição do ano de 2007 do Prêmio Capes de Tese e que concorrem, agora, ao Grande Prêmio Capes de Tese.
A Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp concorre ao Grande Prêmio Capes de Tese "Carl Peter von Dietrich" na categoria Medicina I com a tese “O Sistema Nervoso Central no Lúpus Eritematoso Sistêmico: análises clínica e de ressonância magnética”, de Simone Appenzeller, pós-graduanda em Clínica Médica e orientanda da professora Lílian Tereza Lavras Costallat e do professor Fernando Cendes.
As manifestações do sistema nervoso central (SNC) no Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES)
são complexas, podendo ser causadas diretamente pela atividade do LES ou serem secundárias a comorbidades. O objetivo do trabalho foi avaliar as manifestações do SNC no LES e correlacioná-las às alterações cerebrais estruturais e funcionais à ressonância magnética.
Todos os pacientes da pesquisa preencheram quatro ou mais critérios classificatórios de LES e foram selecionados no ambulatório de Reumatologia do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp. Os pesquisadores observaram que crises epilépticas ocorreram em 11,6% dos pacientes, estando associadas à acidente vascular cerebral e à presença de anticorpos antifosfolípides. A recorrência de crises foi rara, associada somente a presença de anticorpos antifosfolípides. A migrânea ocorreu mais freqüentemente no LES que no grupo-controle e estava associada à atividade de doença, ao Fenômeno de Raynaud e à presença de anticorpos antifosfolípides. Pacientes com história pregressa de migrânea apresentavam mais dano permanente. Analisando as ressonâncias magnéticas em pacientes com LES, foi observado tanto atrofia de substância branca como de substância cinzenta. Embora ambos estivessem associados à presença de manifestações pregressas do SNC e ao maior tempo de doença, somente a atrofia de substância cinzenta esteve associada à dose cumulativa de corticosteróides. Pacientes com distúrbios cognitivos apresentaram mais freqüentemente atrofia de corpo caloso e de hipocampo. Observou-se, também, uma disfunção axonal no LES, associada à atividade de doença. De acordo com os resultados, os métodos de neuroimagem estruturais e funcionais são úteis na confirmação do envolvimento do SNC e também na identificação do envolvimento subclínico no LES.
Outros dois trabalhos receberam menção horosa pela participação no prêmio. A tese “Papel da proteína SOCS3 sobre a modulação do sinal intracelular da angiotensina II e sobre o cross-talk entre a sinalização da angiotensina II e da insulina em tecido cardíaco de ratos”, da pós-graduanda em Fisiopatologia, Vivian Cristine Calegari, orientanda do professor Lício Velloso, recebeu menção honrosa na categoria Medicina I.
Na categoria Medicina III, a menção honrosa foi para a tese “Discussão epistemológica da produção de teses de programas de pós-graduação na área de Saúde Reprodutiva” de José Renato Gomes Castro, pós-graduando em Tocoginecologia e orientando do professor Egberto Ribeiro Turato.
Vivian analisou que o hormônio angiotensina II (ANGII) através de seu receptor AT1 é capaz de ativar a via de sinalização JAK/STAT. Estudos demonstram que esta via encontra-se hiper-ativada durante o desenvolvimento da hipertensão. Os mecanismos pelos quais esta via é regulada pela ANGII ainda não foram totalmente elucidados. Relatos demonstram que hormônios, citocinas e fatores de crescimento que transduzem seus sinais através da via JAK/STAT, acabam por induzir a expressão de proteínas da família SOCS e que estas, por sua vez, promovem a regulação do sinal de seus indutores.
Estudos epidemiológicos demonstram que a hipertensão é um dos mais importantes fatores de risco para o desenvolvimento da resistência à insulina (RI). Embora seja conhecido que a ANGII apresenta importante papel no desenvolvimento da hipertensão e da RI, uma vez que a inibição de sua ação, não somente reduz a pressão sanguínea como também melhora a sensibilidade à insulina em indivíduos hipertensos e resistentes à insulina, muito pouco é conhecido sobre os mecanismos moleculares pelos quais este hormônio pode causar RI.
A pesquisa examinou o papel da ANGII sobre os mecanismos de ativação e regulação da via JAK/STAT em coração de ratos Wistar adultos (RWA) e em cardiomiócitos ventriculares isolados de ratos neonatos (CVIN). Os resultados revelaram que, após a ligação da ANGII ao receptor AT1, ocorre ativação de JAK2 e STAT1 e, subseqüentemente, a expressão de SOCS3 é induzida. Verificou-se, ainda, que a ativação da via JAK/STAT e a expressão de SOCS3 são dependentes da ativação de AT1 pela ANGII e que a expressão de c-jun pode ser induzida também pelo receptor AT2. Além disso, foi constato que SOCS3 pode participar do mecanismo de desensibilização ou refratariedade do sinal da ANGII através da via JAK/STAT como demonstrado pelo seu bloqueio com oligonucleotídeo antisense contra SOCS3 (AS SOCS3). Também se investigou se a proteína SOCS3, induzida por ANGII, pode participar do cross-talk molecular entre o sinal da ANGII e da insulina. Observou-se que o tratamento com ANGII causa queda significativa na atividade de proteínas da via PI 3-K/AKT da insulina e que SOCS3, induzida por ANGII, associa-se à IR, IRS1 e IRS2. O uso de AS SOCS3 restaura os níveis de fosforilação em tirosina de IRS1 e IRS2 induzidos pela insulina, aumenta a associação entre IRS1 e IRS2 com PI 3-K, e a subseqüente atividade desta enzima e da proteína AKT e leva a um aumento na translocação de GLUT4 para a membrana celular.
O estudo demonstrou, pela primeira vez, que o hormônio ANGII é capaz de induzir a expressão de uma proteína supressora da sinalização das citocinas, SOCS3, e que esta proteína, além de participar do controle das ações fisiológicas de seu indutor, também participa do cross-talk negativo entre o sinal de dois hormônios, ANGII e insulina, podendo se constituir, desta forma, em mais um mecanismo de interconexão entre hipertensão arterial e RI e/ou diabetes mellitus tipo II.
José Renato, considerando as tendências contemporâneas que dinamizam críticas aos novos conhecimentos científicos (Epistemologia) e as insuficiências no processo de produção-ensino-utilização de novos conhecimentos na área médica, as quais compõem parte significativa da realidade na formação acadêmica, pesquisou a crítica epistemológica da produção de teses na área da Saúde Reprodutiva. A revisão de elementos teórico-epistemológicos abrangeu autores ligados à Filosofia e à História da Ciência, destacando-se os pressupostos da obra de Edgar Morin. A amostra foi composta por quinze teses, sendo cinco da USP de Ribeirão Preto, cinco da Unicamp e cinco da Unesp de Botucatu. A inclusão dos trabalhos se deu a partir do critério cronológico (as mais atuais defendidas entre os anos de 2004 e 2005), considerando-se o critério de saturação dos elementos coletados nas categorias de análise como quesito para a delimitação final da amostra. Quanto ao tipo metodológico dessas pesquisas, optou-se pela aleatoriedade, ou seja, tanto pesquisas quantitativas como qualitativas puderam ser incluídas. O processo de análise de interpretação foi feito por meio de repetidas leituras de todo o material selecionado, com atenção a quatro categorias: Visão de Pessoa, Visão de Saúde, Visão de Ciência e Visão de Ética.
Segundo o pesquisador, a noção de sujeito fica à margem na maior parte dos textos, e os trabalhos têm preocupação específica com o objeto de pesquisa, na categoria visão de pessoa; a visão de saúde está continuamente vinculada à valorização da inclusão de técnicas intervencionistas; a visão de ciência assume e reproduz protocolos com características racionalistas, tecnicistas, biologicistas, as quais denunciam a manutenção da lógica do paradigma tradicional; a visão de ética mantém estreito vínculo com as características de um modelo de ética materialista. Em geral, os processos de produção de novos conhecimentos (pesquisa) e de divulgação (ensino) mantêm a tradição disciplinar e não apresentam elementos teórico-metodológicos suficientes ao enfoque transdisciplinar.
Os prêmios da Capes foram instituídos no ano de 2005 com o objetivo de outorgar distinção às melhores teses de doutorado defendidas e aprovadas nos cursos reconhecidos pelo MEC, considerando os quesitos originalidade e qualidade.
O Prêmio Capes de Tese destina-se a cada uma das áreas do conhecimento coberta por um representante na Capes. Em 2007, foram inscritas 417 teses, analisadas por 51 comissões e 207 consultores de diversas instituições de ensino superior do Brasil.
A data da entrega do Grande Prêmio Capes de Teses ainda não tem data definida.
Em 2006, o vencedor do prêmio "Carl Peter von Dietrich"  foi Claudio Teodoro de Souza, da pós-graduação em Clínica Médica da FCM, com a tese “Co-Ativador-1 do Receptor Ativado por Proliferador do Peroxissoma (PGC-1): um co-ativador de transcrição gênica envolvido com o controle da secreção e ação periférica da insulina”. O orientador foi o professor Lício Velloso.