O “Teste da Linguinha” e a pesquisa “Características Histológicas do Frênulo Lingual em Humanos” foram premiados durante o XX Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia, ocorrido em novembro, em Brasília, DF. O Teste da Linguinha conquistou o primeiro lugar como melhor Ação em Motricidade Orofacial. A pesquisa “Características Histológicas do Frênulo Lingual em Humanos” foi premiada na categoria Excelência em Fonoaudiologia.
Ambos os trabalhos foram desenvolvidos pela fonoaudióloga e pesquisadora da Unicamp Roberta Martinelli e contou com a participação de vários profissionais, dentre eles o médico otorrinolaringologista da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) Reinaldo Gusmão e Irene Queiroz Marchesan, doutora em Educação pela Unicamp.
Língua presa é uma alteração comum, mas muitas vezes ignorada. Ela está presente desde o nascimento e ocorre quando uma pequena porção de tecido, que deveria ter desaparecido durante o desenvolvimento embrionário, permanece na face inferior da língua, restringindo seus movimentos.
“O teste da linguinha é um procedimento de grande importância para o diagnóstico da língua presa, possibilitando um tratamento precoce, para adequar a sucção e a deglutição durante a amamentação, bem como prevenir futuros problemas de mastigação e fala”, disse Roberta.
Roberta Martinelli é pioneira no mundo no desenvolvimento da técnica para diagnóstico precoce da língua presa em bebês. O exame leva menos que cinco minutos e é coberto pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo a fonoaudióloga, quando um bebê nasce com língua presa, por falta de informação, muitas famílias sofrem em silêncio as várias dificuldades que a língua presa pode causar. Há bebês que tem alterações no ciclo de alimentação, causando estresse tanto para ele quanto para a mãe; crianças com dificuldades na mastigação; adolescentes com dificuldades para beijar; crianças e adultos com distorções na fala, afetando a comunicação, o relacionamento social e o desenvolvimento profissional.
“Entretanto, alguns profissionais defendem que língua presa não existe, não afeta a amamentação, não causa desconforto para a mãe, não afeta a fala e que vai corrigir-se sozinha, sem tratamento. Isso não é verdade!”, alerta Roberta.
A fonoaudióloga comprovou isto com a pesquisa “Relação entre as características anatômicas do frênulo lingual e as funções de sucção e deglutição em bebês”, sua dissertação de mestrado na USP de Bauru. Para investigar o problema, Roberta avaliou 100 bebês nascidos na cidade de Brotas, interior de São Paulo. Desse total, 16% foram diagnosticados com alterações de frênulo lingual, interferindo na amamentação. Após o diagnóstico, os bebês foram submetidos ao procedimento de frenotomia lingual – pequeno procedimento cirúrgico onde se corta o frênulo lingual – no serviço de otorrino-pediatria do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, pelo otorrinolaringologista Reinaldo Gusmão, da FCM.
“Para que a incidência possa ser estimada com precisão é necessário haver critérios para o diagnóstico da língua presa. Os números reais podem ser surpreendentemente maiores do que o esperado. Por isso a importância de haver um teste que leva em consideração os aspectos anatômicos e funcionais para fazer um diagnóstico preciso e indicar ou não a necessidade da realização do pique (pequeno corte) na língua”, explica a fonoaudióloga.
A Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, em parceria com a Associação Brasileira de Motricidade Orofacial, o Conselho Federal de Fonoaudiologia lançaram este ano a Campanha Nacional do teste da linguinha. A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo publicou no Diário Oficial de novembro de 2012 o Projeto de Lei nº 659 que dispõe sobre a obrigatoriedade do teste da linguinha no Estado de São Paulo. O projeto segue para votação. A cidade de Brotas (SP) foi a primeira a implantar o exame. Em Campinas, segundo Roberta, também já foi protocolado Projeto de Lei sobre o teste da linguinha, que aguarda votação.
“A proposta do teste da linguinha vem com o objetivo de diagnosticar e tratar precocemente as limitações dos movimentos da língua causadas pela língua presa que podem comprometer as funções exercidas pela língua: sugar, engolir, mastigar e falar. A avaliação precoce é ideal para que as pessoas sejam diagnosticadas e tratadas com sucesso”, disse o otorrinolaringologista da FCM da Unicamp, Reinaldo Gusmão.
Texto: Edimilson Montalti - ARP-FCM/Unicamp
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