Medicalização na educação e saúde reúne centenas de pessoas em simpósio na FCM

Com uma frase da psiquiatra brasileira Nise da Silveira que diz “não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata. Todo mundo tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido: vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda. Felizmente eu nunca convivi com pessoas muito ajuizadas”, a pediatra Maria Aparecida Affonso Moysés fez a palestra de abertura do simpósio “A queixa escolar: medicalização na educação e saúde”, nesta quarta-feira (20) no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.

Organizado pelo Departamento de Pediatria da FCM, Conselho Regional de Psicologia, Centro de Investigação em Pediatria (Ciped) e Serviço de Atenção às Dificuldades de Aprendizagem (Sada), o evento reuniu mais de 500 inscritos. Até o final da tarde, eles debatem a educação na era dos transtornos e as possibilidades de enfrentamento da medicalização dos processos educacionais.

O médico e chefe do Departamento de Pediatria da FCM, Gabriel Hessel, ressaltou o sucesso do seminário e disse que ficou contente com o conteúdo do cartaz do Conselho Regional de Psicologia sobre a não medicalização da vida em que está escrito “se você acha que seu filho é muito arteiro, fique calmo, ele está apenas sendo criança”.

“Não ao uso de medicamentos indiscriminados na escola, essa é a conclusão. Seria interessante colocar pelo menos um cartaz em todas as escolas do nosso país”, disse Hessel.

Rosangela de Fátima Villar psicóloga do Serviço de Atenção às Dificuldades de Aprendizagem (Sada) ligado ao Sistema Único de Saúde (SUS) de Campinas atua há 30 anos na área da psicopedagogia pública. Ela disse que há uma crise dentro da entidade que pode ter seus serviços interrompidos na cidade. A Sada montou uma mesa na entrada do anfiteatro para colher assinaturas em defesa do SUS e da entidade.

“Nosso sonho é continuar fazendo esses encontros todos os anos e ampliar essa reflexão para toda a sociedade. Esperamos que todos saiam daqui coniventes e dispostos em lutar pela democratização do processo saudável de desenvolvimento de crianças e adolescentes”, disse Rosangela.

A professora Maria Aparecida Moysés disse que há algumas “tendências” que estão se afastando do conselho de Nise da Silveria. Segundo Moysés, a vida é imprevisível e irregular. A vida deve ter sonhos e utopias, isto é, ter um pouco de loucura.

“Eu também nunca convive com pessoas ajuizadas. Ainda bem. Quando cortamos os sonhos, acabamos com a vida”, sentenciou.

Texto: Edimilson Montalti - ARP-FCM/Unicamp