O médico epidemiologista Gastão Wagner de Souza Campos lança hoje (29), a partir das 19 horas, no EccoSpaço, em Campinas, o livro "Espírito de Época". O lançamento do livro celebra também os 60 anos do professor do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.
"Espírito de Época" é uma obra de ficção. A realidade serviu apenas como estímulo para a criação do enredo; personagens e acontecimentos foram distorcidos pela memória imaginativa do autor. Trata-se de uma transliteração subjetiva dos anos 50, 60 e 70, uma caricatura lírica de uma época e das gerações que a coproduziram.
O romance foi escrito a quatro mãos: um autor tímido em peleja com o poderoso espírito de sua época. Trata-se de uma história sobre jovens que experimentaram viver segundo seus desejos e ideais. O escritor explora a faceta cômica e poética desse esforço heroico. O patético misturado ao trágico e ao épico. Comédia, aventura e drama se misturam neste romance.
“Escrevo o livro desde 2004. A história começa em 1978, com um jovem médico que junta todo o dinheiro que tem para assistir uma palestra de Lacan, em Paris. No dia do seminário, Lacan tem um apagamento, na frente do público. Frustrado, o personagem do livro compra um barco, larga tudo e vai velejar. Como ele chegou a isso é o que conto desde o nascimento dele, em 1950, passando pela liberação sexual, drogas, movimento hippie e política revolucionária dos anos 60 e 70”, explicou Gastão.
O livro não é autobiográfico, mas traz referências do que Gastão viveu e de sua geração. Ele usou fatos reais, coletivos, públicos, sua experiência como médico, história do Brasil, características físicas e de personalidade de amigos e pessoas com quem ele conviveu. Tudo está misturado. Como o próprio Gastão diz, no livro tudo está misturado como, em geral, acontece na vida concreta dos inconformados, dos reformadores ou daqueles que, simplesmente, não renunciam à busca da felicidade.
As histórias de desenrolam nas cidades de Brasília, Brasilândia e Nova Barcelona, cenários fictícios para romances, dramas, mortes e suspense. Em mais de 400 páginas, ele tenta explicar porque pessoas bem intencionadas chegaram a algumas situações limites. O próprio espírito de época vive enchendo a paciência do escritor enquanto ele fica escrevendo a história. Mais um personagem? Gastão não diz nem sim e nem não. A peleja fica para o leitor.
“O escritor tem que estar com a antena aberta para o mundo para incorporar histórias além de sua cidade natal. O mistério do livro é entender porque as pessoas, daquela época, eram assim”, explica.
Sobre a recepção deste quarto romance, Gastão se mantém calmo. Alguns amigos leram e ajudaram a aparar arestas, redefinindo datas e acontecimentos. Por ser literatura, o médico-escritor acredita que todos se identificarão, pois “as agonias da juventude são as mesmas. Tensão, medo, ansiedade, esperança, pressão. A diferença é que a minha geração era mais irreverente”.
“O espírito da minha época está desaparecendo. O lançamento não é comercial. É uma Open House ao estilo dos anos 60 para eu receber os amigos. A literatura brasileira está padecendo, pois a crítica desapareceu. A pior coisa é um escritor ser ignorado. Quero provocar, compartilhar experiências e ver a reação dos outros”, explicou Gastão.
O EccoSpaço fica na rua João Vedovello, 149, Jardim Santa Cândida, em Campinas, SP, próximo à ponte de acesso à PUC-Campinas, campus 1.
Texto: Edimilson Montalti - ARP-FCM/Unicamp
Foto: Ascom/Unicamp