O trabalho de iniciação científica "Avaliação da ação da ciclosporina A nos mecanismos moleculares envolvidos na cicatrização de feridas em ratos diabéticos" do aluno de enfermagem Rafael de Moraes Pedro, foi um dos vencedores do quarto Prêmio Inova Unicamp de Iniciação à Inovação, entregue no início de dezembro na sala do Conselho Universitário (Consu). O projeto foi desenvolvido no Laboratório de Sinalização Celular da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). A orientação foi da professora Eliana Pereira de Araújo, do Departamento de Enfermagem da FCM.
O processo de cicatrização é um fenômeno complexo e altamente especializado, onde é necessária a integração de vários tipos de células, incluindo inflamatórias, fibroblastos, queratinócitos e células endoteliais, além do envolvimento de fatores de crescimento e enzimas. Pacientes com diabetes mellitus são vulneráveis ao desenvolvimento de úlceras nos pés, resultante de múltiplos fatores, como a neuropatia, doenças vasculares e deformidades ósseas, desta forma o processo cicatricial nesses indivíduos passa a ser diferente quando comparados aos que não apresentam diabetes.
Nos últimos 20 anos estudos mostraram que falhas comuns na via de sinalização da insulina em tecidos periféricos e na célula β-pancreática desempenham um papel central no desenvolvimento do diabetes mellitus. Pacientes com diabetes também apresentam esta via de sinalização diminuída em pele interferindo assim com o processo cicatricial. A insulina sinaliza através do seu receptor que ativa várias proteínas intracelulares como AKT e mTOR. Essas proteínas controlam processos metabólicos, proliferação e sobrevivência celular.
No entanto, ação da insulina pode ser regulada por meio de proteínas fosfatases, as quais catalizam a desfosforilação de proteínas envolvidas na via de sinalização da insulina. Uma das mais importantes é a Fosfatase e Tensora Homóloga com deleção do cromossomo 10 (PTEN), que é um regulador negativo da AKT, sinalizando e funcionando como um supressor tumoral. Este fato coloca a PTEN em uma posição de destaque, pois a sua menor função resulta na ativação da AKT que por sua vez quando superativada pode ser responsável pelo surgimento de tumores em vários tecidos, inclusive na pele.
“Nós estávamos procurando um alvo terapêutico que promovesse o crescimento celular e pensamos na ciclosporina A como um modulador negativo dessa enzima que controla as vias de crescimento”, explicou Eliana.
A ciclosporina A é uma droga amplamente utilizada na prevenção da rejeição de transplantes de órgãos. O estudo avaliou a ação tópica da ciclosporina A sobre o processo de cicatrização de feridas em ratos diabéticos.
“Se a ciclosporina A fosse usada por via endovenosa teria efeitos indesejados principalmente diminuição da atividade do sistema imune, o que não aconteceu quando administrada de forma tópica, pois ela não é absorvida sistemicamente, no entanto apresentou um efeito importante nos processos cicatriciais, como comprovado nos experimentos laboratoriais”, explicou Eliana.
De acordo com a pesquisa, o tratamento tópico levou a melhora significativa na retração e no processo inflamatório da ferida em animais diabéticos por induzir a inibição da expressão da PTEN e, desta forma, modular a atividade da AKT e da mTOR, as quais podem ser responsáveis por proporcionar crescimento e proliferação celular.
“Essa droga amplifica a sinalização da insulina, o que é ótimo na cicatrização, devido seu efeito anabólico muito grande. O próximo passo da pesquisa é ampliar a utilização tópica da ciclosporina A em animais e depois em humanos, reforçando essa linha de pesquisa”, disse Eliana.
Texto: Edimilson Montalti - ARPI-FCM/UNICAMP