As pesquisas “Produção de leite em mães com bebês internados na UTI neonatal” de Érika Trovilho da Silva, Ianê Nogueira do Vale e Elenice Valentim Carmona e “Aleitamento materno na alta hospitalar em recém-nascidos de muito baixo peso” de Mônica Aparecida Pessoto, Sônia Mara Santos Cardoso, Jussara Maffia Garnica, Sirlei Soares Silva, Daniele Aparecida Silva Abreu e Amanda Ferreira Mora receberam prêmio “João Aprígio Guerra de Almeida”de melhor trabalho científico no IV Congresso Paulista de Bancos de Leite Humano (Premio) e prêmio “Ivete Campello Nocito” XIV Encontro Paulista de Aleitamento Materno) respectivamente, realizado no início de dezembro na Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp).
O primeiro trabalho faz parte da linha de pesquisa da professora Ianê Nogueira do Vale, do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. O segundo trabalho foi coordenado pela médica neonatologista do hospital da mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti (Caism) da Unicamp.
O objetivo da pesquisa “Produção de leite em mães com bebês internados na UTI neonatal” foi descrever as características sociodemográficas das mães e recém-nascidos internados em uma Unidade Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) e identificar a freqüência da presença de baixa produção de leite entre mães de recém-nascidos prematuros e possíveis fatores relacionados à ocorrência do suprimento inadequado de leite materno.
Para se chegar aos resultados, foi feito um estudo transversal e retrospectivo com dados obtidos de prontuários de crianças da UTIN e registros do Banco de Leite Humano (BLH) do Caism da Unicamp. Foram incluídas no estudo 67 crianças com peso de nascimento menor que 1.200 gramas internadas no período entre abril de 2007 e março de 2009. Foram excluídos bebês malformados ou com anomalias genéticas que interferem no funcionamento dos sistemas cardiovascular, respiratório e/ou digestivo.
Os dados relativos à produção de leite pela mãe e algumas variáveis foram coletados dos registros do Banco de Leite Humano existente no serviço. Os dados coletados foram conferidos, digitados em banco específico e submetidos à análise descritiva e cruzamento das variáveis de interesse. O nível de significância adotado foi de 5%. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa.
De acordo com a pesquisa, as mães dos recém-nascidos são jovens adultas, com companheiro, com instrução superior ao primeiro grau. A terça parte das mães (34.3%) era primigesta, enquanto aproximadamente a metade (56.7%) não tinha filhos vivos. A frequência de baixa produção de leite na primeira semana foi cerca de 9% aumentando gradativamente até atingir na quarta semana de internação do recém-nascido, 70.1%. A média do peso dos bebês ao nascimento foi de 962 gramas. A maioria (70.1%) com idade gestacional ao nascer menor ou igual a 30 semanas e a média da idade gestacional ao nascer foi de 28 semanas.
Encontrou-se associação significativa na baixa frequência da presença da mãe visitando a criança; extração espontânea superior a 24 horas depois da entrevista do BLH e baixa escolaridade da mãe. As demais variáveis de estudo e sociodemográficas não se mostraram significativas. A pesquisa permitiu notar que a baixa produção de leite entre as mulheres é frequente e progressiva; que o grau de instrução igual ou menor que oito anos, a demora em iniciar a extração do leite e a menor presença da mãe na UTIN interferem na produção do leite materno.
“Existem muitos trabalhos sobre a produção de leite das mães. A novidade desta pesquisa é que durante quatro semanas comparamos o quanto a mãe produziu de leite e entregou no banco de leite e comparamos com quanto esse bebê necessitou de leite pela prescrição médica. Semana a semana, tivemos uma ideia de quanto havia de demanda e quanto de oferta”, explicou Ianê.
Para Ianê, a enfermagem pela sua característica, seja na Uti neonatal ou na enfermaria onde as mães ficam internadas até a alta, é que mais pode influenciar e motivar a mãe para a manutenção da produção de leite, acolhendo, incentivando, ensinando e explicando a importância da extração do leite e armazenamento até que o bebê tenha condições de sugar no peito da mãe. “Quanto mais frequente ela tirar o leite, mais ela vai ter. Se ela diminui a frequência de retirada de leite, a quantidade também vai diminuir. No Caism tem-se a vantagem de, nos casos que exigem mais atenção, contar com uma equipe multidisciplinar atuante, além da equipe do Banco de Leite”, disse Ianê..
De acordo com a médica neonatologista Mônica Aparecida Pessoto, do Banco de Leite Humano (BLH) do Caism, o leite materno tem importante papel nutricional e imunológico para os recém-nascidos (RN) de muito baixo peso (MBP). Entretanto, há uma série de dificuldades para o estabelecimento do aleitamento materno nessas crianças, principalmente pela internação prolongada, problemas de sucção e hipogalactia materna.
Com o trabalho “Aleitamento materno na alta hospitalar em recém-nascidos de muito baixo peso”, a equipe da do Serviço de Neonatologia do Caism buscou descrever a taxa de aleitamento materno na alta hospitalar dos recém-nascidos de muito baixo peso.
Foi realizado estudo retrospectivo com dados de prontuários e fichas do banco de leite em recém-nascidos com peso ao nascer menor que 1.500 gramas internados na UTI Neonatal do Caism da Unicamp no período de janeiro de 2007 a dezembro de 2010. As mães destes bebês foram acompanhadas desde o puerpério imediato até a alta hospitalar do recém-nascido. Elas receberam informações sobre a importância da amamentação, orientações e suporte para ordenha, transporte, armazenamento e manutenção da produção do leite materno. Eram estimuladas ao contato pele a pele e a sucção não nutritiva do recém-nascido ao seio enquanto este não apresentava condições de sucção nutritiva.
“A alta hospitalar ocorria quando a criança apresentava condição clínica estável, peso maior que 1.800 gramas, com curva ascendente de peso e com sua mãe segura com seus cuidados”, disse Mônica.
No período estudado, 445 recém-nascidos com peso abaixo de 1.500 gramas foram internados na UTI Neonatal do Caism. Destes, 163 foram incluídos no estudo. Houve predomínio de mães com renda familiar de um a três salários mínimos e profissão do lar. A média da produção láctea foi 66,51ml/dia. Na avaliação da amamentação na alta hospitalar 81 crianças (49,7%) estavam em aleitamento materno exclusivo, 55 (33,7%) em aleitamento misto e 27 (16,6%) recebiam apenas fórmula láctea.
Na comparação entre o grupo de crianças que recebeu alta em aleitamento materno exclusivo com o grupo com aleitamento misto ou artificial apenas o peso ao nascer e a produção láctea materna mostraram diferença estatística. A média do peso ao nascer foi 1160,19 gramas no grupo de aleitamento materno exclusivo e 1086,10 no grupo aleitamento misto ou fórmula. Quanto à produção láctea, houve maior volume de leite ordenhado por dia no grupo de aleitamento materno exclusivo (159,96ml/dia) do que no outro grupo (29,37ml/dia).
“A taxa de aleitamento materno na alta hospitalar obtida nos recém-nascidos estudados pode ser considerada adequada quando comparada com dados brasileiros de amamentação em lactentes, principalmente tratando-se de crianças de alto risco para o desmame precoce. A maior produção láctea materna foi importante fator para aleitamento materno exclusivo na alta”, disse Mônica.
Texto: Edimilson Montalti - ARP-FCM/UNICAMP
Fotos: Arquivo pessoal