A combinação de determinados genes polimórficos relacionados com o reparo de lesões do DNA de células da pele, causadas por exposição aos raios ultravioleta da luz solar, aumenta em cerca de cinco vezes o risco do desenvolvimento de câncer de pele do tipo melanoma, segundo pesquisa de iniciação científica de Cristiane Oliveira, do Laboratório de Genética do Câncer (Lageca) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Os resultados do trabalho “Polimorfismos em genes de reparo de DNA, XPC A2920C, XPF T30028C e P53 Arg72Pro no risco de melanoma cutâneo” foi apresentado pela aluna durante o 36º Congresso da Sociedade Europeia de Medicina Oncológica e 17º Congresso da Organização Europeia do Câncer, realizado em setembro, em Estocolmo, Suécia, com o apoio financeiro da Comissão Científica do evento.
De acordo com Cristiane, o melanoma cutâneo, tipo mais agressivo de câncer de pele e um dos tumores mais letais, está associado à exposição da pele aos raios ultravioleta da luz solar, que causam quebras no DNA de células epiteliais. Os genes XPC, XPF e P53 estão envolvidos no mecanismo de reparo de lesões de DNA por raios ultravioleta e, consequentemente, da proteção ao câncer de pele. Estes genes são polimórficos, isto é, são mais ou menos eficazes para o reparo de lesões de DNA por raios ultravioleta. Assim, indivíduos distintos apresentam capacidade diferenciada para o reparo de lesões de DNA e herdam esta capacidade de seus ancestrais. Aqueles com menor habilidade ao reparo de lesões de DNA em células epiteliais estão, hipoteticamente, mais suscetíveis a tumores cutâneos. Para o estudo, foram avaliados 137 pacientes com melanoma cutâneo de 22 a 86 anos, de ambos os sexos, em sua maioria brancos, atendidos no ambulatório do Serviço de Oncologia Clínica do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp.
“O que avaliamos nesse tipo de pesquisa é a predisposição hereditária de cada um de nós, indivíduos saudáveis, para reparar lesões causadas pelos raios ultravioleta da luz solar e, consequentemente, para a ocorrência do melanoma cutâneo”, diz Carmen.
“O gene XPC tem um papel importante no mecanismo de reparo, já que tem a função de reconhecer o dano no DNA. Observamos que pacientes com o genótipo variante desse gene (CC) são menos hábeis para o reparo de lesões de DNA causadas pela luz solar e têm maior risco de desenvolver melanoma cutâneo. O mesmo observamos com o gene P53. Quem tem o genótipo selvagem (Arg/Arg) também tem uma deficiência no reparo do DNA e são mais susceptíveis ao tumor. Quando associamos esses dois polimorfismos, observamos um aumento de cinco vezes na chance de indivíduos com os referidos genótipos dos genes XPC e P53 (CC + ArgArg) desenvolverem melanoma cutâneo. Há um aparente sinergismo entre eles, que atuam no reparo de lesões de DNA, na origem do tumor”, explica Cristiane.
De acordo com Carmen Silvia Passos Lima, orientadora do trabalho, essa característica genética herdada, precisa estar associada à exposição a agentes agressores, no caso a luz solar, para se manifestar na forma de tumor. Pessoas de pela clara, descendentes de europeus, particularmente as portadoras dos referidos genótipos e que se expõem ao sol por questões de lazer ou profissional no período das 10 às 14 horas, devem tomar cuidado e se proteger do sol com roupas adequadas e uso de protetor solar, para a prevenção do tumor. “Ainda, merecem receber avaliação dermatológica rotineira para o diagnóstico e tratamento precoces de casos do tumor”, diz Carmen.
A pesquisa tem o apoio da Fapesp e CNPq.
Texto e fotos: Edimilson Montalti – ARPI-FCM/UNICAMP