O trabalho “Avaliação fisioterapêutica do ombro em pacientes submetidos às linfadenectomias cervicais”, da fisioterapeuta Anna Lygia Barbosa Lunardi, recebeu o prêmio de melhor pôster durante a apresentação no “XXIII Congresso Brasileiro de Cirurgia de Cabeça e Pescoço”, ocorrido em setembro na cidade de Santos, SP.
O estudo juntou técnicas de fisioterapia para aliviar a dor e melhorar a qualidade de vida de pacientes com a “síndrome do ombro caído” atendidos no ambulatório de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp. A orientação do trabalho é do professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, Alfio José Tincani.
A “síndrome do ombro caído” é decorrente de lesões ou quando da necessidade da retirada cirúrgica-oncológica do nervo acessório espinhal, denominado de XI par craniano. Este par craniano inerva principalmente o músculo trapézio dando sustentação ao ombro. Em muitas cirurgias na região de cabeça e pescoço é necessário a retirada de linfonodos, conhecidos como ínguas.
A retirada do nervo causa depressão e limitação para movimentos como pentear o cabelo, dirigir, passar ou estender a roupa, pegar uma panela, varrer o chão ou carpir uma roça. A ocorrência de dor é constante e ininterrupta após este procedimento e o paciente é obrigado tomar analgésicos.
“Não é só indivíduos que vão fazer grandes procedimentos na região de cabeça e pescoço que têm esse problema. Muitas vezes aqueles indivíduos que necessitam ser submetidos a biopsia nos gânglios cervicais para algum diagnóstico, podem ter lesão no nervo e isso passa desapercebido no momento e posteriormente terão sequelas”, explica Tincani.
Anna buscou na literatura métodos de fisioterapia fáceis, simples e baratos que pudessem ser aplicados nos pacientes após diagnóstico da síndrome do ombro caído.
Seguindo uma rotina que compreende coleta de dados pessoais, tipo histológico e estadiamento do tumor – descrição de quanto o câncer já se disseminou –, tipo de cirurgia realizada, terapia adjuvante, atividades laborais pré e pós-cirúrgicas, entre outras questões pertinentes a funcionalidade do ombro nesses indivíduos, a fisioterapeuta começa o processo de avaliação.
É também aplicado o “Questionário de Qualidade de Vida da Universidade de Washington”, validado e adaptado para a língua portuguesa e escala analógica visual (EAV). A escala analógica visual é um método de avaliação da dor. O paciente é questionado sobre o tamanho da dor que ele está sentindo naquele momento e dá uma nota de 0 a 10, sendo dez a pior dor que ele já sentiu na vida.
Depois, a fisioterapeuta faz a fotometria do paciente para obter as amplitudes de movimento do complexo articular do ombro, posicionamento escapular e avaliação da força muscular dos músculos trapézio, rombóides, elevador da escápula, serrátil anterior e grande dorsal. Todos estes procedimentos foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).
“Juntei vários exercícios funcionais para ver o que acontecia. Isso não significa que consiga fazer milagre e o braço volte a fazer 180 graus, mas dá mais confiança ao paciente e melhorar a força”, explica Anna que pretende ampliar a técnicas em outros pacientes.
Os exercícios duram em média 40 minutos e os pacientes recebem um programa de atividades para fazer em casa. Os pacientes são reavaliados quando retornam para consulta. E isto é a única dificuldade que torna a pesquisa demorada.
“O que entrava é o retorno dos doentes. Muitos deles moram longe e não têm condições de pagar um ônibus. Sabemos que está é a nossa realidade”, diz Tincani.
Texto e foto: Edimilson Montalti - ARP-FCM/UNICAMP