Médica da FCM participa de debate sobre bisfenol-A

O vereador Jairson Canário promove no dia 7 de outubro, às 14 horas, na Câmara Municipal de Campinas, à avenida Eng. Roberto Mange n.° 66, Ponte Preta, um debate público sobre o bisfenol-A (BPA). O bisfenol-A é um químico presente na fabricação de plástico e no revestimento interno das latas de comida e bebida. Como se trata de uma molécula instável, o bisfenol-A se desprende da embalagem e contamina os alimentos. Ele é caracterizado como um desregulador endócrino e age como o estrogênio, um tipo de hormônio.

A médica endocrinologista do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e pesquisadora em genética do câncer, Laura Sterian Ward participará do debate. Segundo Laura, o efeito tóxico do bisfenol-A em seres humanos tem sido motivo de estudos e acalorados debates há mais de dez anos. A substância está presente no revestimento interno de latas de bebidas e alimentos, e de uma série de utensílios comumente utilizados, como mamadeiras, copinhos descartáveis, potes de armazenamento de alimentos e outros.

A molécula do BPA é muito parecida com a do estrógeno e também com a do T3, hormônio tireoidiano. Os estudos de toxicidade em animais demonstram que o BPA tem efeito sobre hormônios sexuais, e podem estar associados à puberdade precoce, câncer de mama, alterações no sistema reprodutivo e no desenvolvimento hormonal, infertilidade e aborto. A semelhança com os hormônios tireoidianos tem sido associada a efeitos diversos, incluindo o aparecimento de hipotireoidismo em animais de experimentação. Alguns estudos também vêm encontrando correlações entre a ingestão de BPA e obesidade.

“Existem vários estudos que mostram que partículas de BPA se desprendem destes recipientes e são ingeridas junto com o produto que contem. Mais ainda, aquecer ou congelar o plástico acelera o desprendimento destas moléculas que podem contaminar os alimentos. Os estudos animais sugerem, mas seguramente não provam a ação tóxica do BPA. No entanto, um grande estudo epidemiológico associou os níveis urinários de BPA com os níveis de hormônios tireoidianos da população norte-americana, sugerindo uma associação entre valores de TSH e de BPA”, disse Laura.

Como as doenças tireoidianas, assim como as anormalidades relacionadas aos hormônios sexuais e a obesidade vem aumentando assustadoramente no mundo inteiro, as agencias regulatórias de vários países tem procurado eliminar riscos possíveis, proibindo o BPA em mamadeiras e alimentos infantis, ou, pelo menos, obrigando os fabricantes a identificarem o uso do composto em seus produtos.

Devido a sua nocividade, o bisfenol-A já foi proibido na União Européia, no Canadá, na China, na Malásia e na Costa Rica. Onze estados americanos também já vetaram o bisfenol - A em mamadeiras e copos infantis.

No Brasil existem algumas ações isoladas, como da cidade de Piracicaba que proibiu a venda de mamadeiras de plástico. Mais recentemente, a Anvisa determinou a proibição da venda e fabricação de mamadeiras que contenham BPA. As mamadeiras fabricadas ou importadas só poderão ser comercializadas até 31 de dezembro deste ano. A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), por meio da Regional-SP, já havia lançado, desde 2010, a campanha “Diga não ao bisfenol-A, a vida não tem plano B”, com o objetivo que a substância fosse banida de produtos infantis e de embalagens de alimentos.

“Esta campanha pretende encabeçar futuras ações que obriguem os fabricantes a identificarem os produtos tóxicos adicionados aos alimentos industrializados e, esperamos que num futuro próximo, bani-los totalmente”, disse Laura, presidente do Departamento de Tiróide da SBEM.

Participam do debate a médica endocrinologista Tânia Bachega, da USP-SP e Fabiana Dupont, pesquisadora, tradutora e uma das criadoras do site o Tao do Consumo, que discute a presença de químicos tóxicos em embalagens de alimentos. Entrada franca. Informações pelo telefone (19) 3736-1680 ou e-mail canario@camaracampinas.sp.gov.br.