Donnie Rickelman, um americano de 36 anos do estado de Indiana, recebeu um transplante de mão esquerda no dia 10 de julho de 2011. A cirurgia foi feita no Centro de Atendimento de Mão do Jewish Hospital em Louisville, Kentucky, em parceria com o Instituto Kleinert. A cirurgia levou 14 horas e contou com uma equipe de 16 cirurgiões, dentre eles o médico campineiro João Bosco Rezende Panattoni Filho, treinado na área de cirurgia de mão do Departamento de Ortopedia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.
“Não tenho notícia de algum outro cirurgião brasileiro que tenha participado de um transplante de mão. Isto constitui mais um marco da história de cirurgia da mão no mundo, no Brasil e na Unicamp”, disse o médico cirurgião Heitor Ulson, coordenador do grupo de cirurgia de mão da FCM que recomendou Panattoni Filho para estágio nos Estados Unidos.
O próprio Panattoni Filho conta sua história:
Formado pela Faculdade de Medicina de Marília, após concluir sua residência em ortopedia em São Paulo, Panattoni Filho realizou especialização na Divisão de Cirurgia da Mão do Departamento de Ortopedia da FCM da Unicamp. Em 2007, foi aceito como “clinical fellow” no Instituto Kleinert, em Louisville, EUA, onde permaneceu por um ano. Depois desse período, foi para a Ásia se especializar em microcirurgia. Voltou para os Estados Unidos para “tentar a vida” devido a melhores condições de trabalho e material cirúrgico.
“Cada vez mais estou envolvido em casos de alta complexidade. Estou prestes a terminar meu segundo ano de "senior fellowship" aqui no Instituto Kleinert. Estou fazendo entrevista em alguns serviços e, se tudo correr bem, tentarei fazer carreira aqui nos EUA. A microcirurgia é considerada a parte mais nobre e difícil da cirurgia, pois tem mais chance de falhar”, disse Panattoni Filho, que auxilou na sutura das artérias e conectou três veias como primeiro cirurgião do caso Rickelman.
O Instituto Kleinert é pioneiro na cirurgia de transplante de mão, considerada complexa e controversa. O transplante de mão, ao contrário de um transplante de órgão sólido, envolve múltiplos tecidos (pele, músculo, tendão, osso, cartilagem, gordura, nervos e vasos sanguíneos). Ainda em fase de pesquisa com sete pacientes transplantados sendo um bilateral, o resultado, segundo Panattoni Filho, é excelente, pois dá sensibilidade à mão, o que é impossível com a prótese.
“O único ponto negativo é que o paciente tem que tomar imunossupressores pelo resto da vida. Mas sinto que os pacientes consideram isso um preço baixo a ser pago”, concluiu.
Texto: Edimilson Montalti - ARP-FCM/UNICAMP
Fotos: Acervo pessoal