Pioneira em racionalidade médica é homenageada em simpósio. Grupo lança livro.

Madel Luz, socióloga e coordenadora do Grupo de Racionalidades Médicas e Práticas em Saúde do Departamento de Políticas e Instituições de Saúde do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), foi homenageada na noite desta quinta-feira (18) na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Pioneira no estudo das racionalidades médicas, Madel, participou da abertura do “I Simpósio de Práticas Alternativas, Complementares e Integrativas em Saúde e Racionalidade Médica”, organizado pelo Laboratório de Práticas Alternativas Complementares e Integrativas em Saúde (Lapacis) do Departamento de Medicina Preventiva e Social da FCM.

O termo “racionalidade médica” foi criado por Madel nos anos de 1991 e 1992 num estudo comparativo de quatro sistemas médicos: a medicina ocidental contemporânea ou biomedicina e as medicinas homeopática, tradicional chinesa e a ayurvédica. Segundo a pesquisadora, toda racionalidade médica supõe um sistema complexo, simbólico e empiricamente estruturado de cinco dimensões: uma morfologia humana definido na medicina ocidental como anatomia; uma dinâmica vital, definida como fisiologia; uma doutrina médica; um sistema de diagnose; e um sistema de intervenção terapêutica. “Com o desenrolar da pesquisa, descobriu-se uma sexta dimensão, que embasa as anteriores, e que pode ser designada como cosmologia”, disse Madel.

Carmem De Simoni, coordenadora da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do Ministério da Saúde, aproveitou o evento e a homenagem para anunciar uma verba de 50 milhões de reais no próximo quadriênio para estruturação de serviços, ensino e pesquisa. De acordo com Simoni, estão previstas mais de 40 pesquisas. “A ousadia de Madel abriu as portas para pensamos a saúde de outra maneira. Este é o momento ideal para garantirmos boas práticas de saúde em nosso País”, disse.

Para o professor do Departamento de Medicina Preventiva e Social e coordenador do Lapaces, Nelson Filice de Barros, nunca houve uma medicina tão potente e sofisticada como a atual e, ao mesmo tempo, tantas pessoas procurando práticas alternativas de saúde. De acordo com Barros, essa é uma contradição que as pesquisas poderão explicar. “A época de pensar substituições já passou. Nosso desafio é construir uma perspectiva integrativa que dê suporte a pluralidade de diferentes práticas no sentido de trazer o paciente para dentro de seu tratamento, desenvolver autoconhecimento, autocuidado e autonomia”, explicou Barros.

Na mesma noite foi lançado o livro “O ensino das práticas integrativas e complementares: experiênciase percepções”, organizado por Barros, Pâmela Siegel e Márcia Aparecida Padovan Otoni. O livro é uma compilação de textos e artigos publicados em jornais, congressos e revistas nacionais e internacionais sobre a percepção das práticas alternativas complementares entre alunos, profissionais e professores.

“Não temos a pretensão de fundar uma nova linha de pesquisa com este livro. A originalidade dele é de não existir nada igual na literatura brasileira sobre o ensino dessas práticas”, disse Barros.

Participaram da mesa de abertura do simpósio William Hippóllito, coordenador da área de Saúde Integrativa da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas; Fernanda Godoy Falcão, diretora da Liga de Medicina Integrativa e representante da Ligas de Homeopatia e da Liga de Acupuntura da FCM e Stella Maris Chebli, representante da Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde. O evento termina nesta sexta-feira (19) e a programação completa dos debates e mesas-redondas está disponível no site do Lapacis.

Texto e fotos: Edimilson Montalti - ARP-FCM/UNICAMP