Enfermeira da FCM quer reduzir de 16 para duas horas o jejum de pacientes

Pacientes submetidos a exames médicos ou cirurgias ficam até 16 horas em jejum. Este tempo pode ser reduzido para duas horas em cirurgias gastrointestinais, de oftalmologia, de otorrinolaringologia, partos ou exames diagnósticos que não exijam jejum prolongado. Estudos mostram que um paciente internado por 15 dias num hospital perde cerca de 10 a 15% de seu peso corporal. O jejum prolongado – de alimento e água – pode prejudicar a recuperação do paciente, fazendo com que ele permaneça mais tempo internado do que o necessário.

Esta é a luta de Maria Isabel Pereira de Freitas, pioneira da terapia nutricional parenteral e enteral no Brasil. Maria Isabel é enfermeira, professora livre docente, chefe do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e membro da equipe que atua na unidade de internação da Gastroenterologia Clínica e Cirúrgica do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp.

“Desde 1999 existem evidências científicas de que os pacientes não precisam ficar tanto tempo em jejum. Pesquisadores da Europa, dos Estados Unidos da América do Norte e da Universidade Federal do Mato Grosso, juntamente com a Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE), estão fazendo um movimento para mostrar que os nutrientes são tão importantes na recuperação dos doentes quanto o remédio”, disse Isabel.

Segundo Maria Isabel, exames de ultrassonografia, endoscopias, colonoscopias, tomografias e ressonâncias requerem um tempo mínimo de jejum por via oral. Como os hospitais estão sobrecarregados na realização destes exames, tanto para os atendimentos de casos de urgência como aqueles internados, o tempo de espera do doente em jejum passa a ser muito prolongado, podendo chegar até a 16 horas. Além disso, é somado a este tempo o período de jejum pré-operatório e depois o período de jejum pós-operatório.

“Duas horas antes da cirurgia, quando o paciente já permaneceu em jejum de alimentos sólidos por oito horas, você pode permitir que o paciente tome líquido transparente com carboidratos. Após a cirurgia, se o paciente não sentir náuseas, ele pode beber água e até comer, conforme afirmação do Grupo ERAS, da Europa. Isto só não é recomendado para cirurgias de esôfago, estômago e alguns tipos de câncer”, explicou.

De acordo com Maria Isabel, a média de calorias diárias recomendadas para um paciente internado é de 2.500 calorias e é de responsabilidade do enfermeiro observar a quantidade de alimentos ingerida pelo paciente. Há uma pesquisa em andamento na área da gastroenterologia, feita por aluna de Enfermagem e coordenada por Maria Isabel, que estão avaliando a qualidade do sono em pacientes que permanecem períodos de 12 a 16 horas em jejum para realizar exames diagnósticos ou intervenções cirúrgicas.

“Os pacientes estão desnutrindo dentro das instituições hospitalares e precisamos introduzir medidas para minimizar este fato para bem atender ao doente”, explicou Isabel.

 

Homenagem
Por causa de seu trabalho e pesquisa nesta área, Maria Isabel foi homenageada durante o primeiro Seminário de Enfermagem em Terapia Nutricional Internacional realizado pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNP) na sede do Conselho Regional de Enfermagem, em São Paulo, no mês de maio. Participaram do evento 220 enfermeiras – um recorde em inscrições para uma especialização que tem apenas 47 profissionais no Brasil.

A terapia nutricional parenteral e enteral teve início em 1968 nos Estados Unidos e na Europa e chegou ao Brasil no início da década de 1970, quando aconteceu o primeiro curso no Rio de Janeiro, RJ. Na época, a especialidade era denominada de hiperalimentação parenteral. Maria Isabel tomou conhecimento da terapia e, em 1973, apresentou o primeiro trabalho sobre este tema no Brasil. O trabalho foi publicando em 1975 na Revista Brasileira de Enfermagem.  Em 1992 descreveu, em sua tese de doutorado defendida na Universidade Estadual de Londrina, no Paraná, os 11 anos da trajetória desta terapia nutricional.

Sobre a homenagem recebida, Maria Isabel disse que ficou feliz ao ver uma nova geração de enfermeiros engajados na luta pela nutrição e alimentação parenteral e enteral. Convidada para ministrar duas palestras durante o seminário, ela se surpreendeu com a recepção. “Quando eu entrei nessa linha de trabalho eu não parei mais. Continuei, mesmo com dificuldades, e fui abrindo espaço para as enfermeiras. Agora, esse grupo mais novo deu uma reerguida e fizeram esse curso que teve uma repercussão espetacular”, disse, entusiasmada.


Maria isabel Pedreira de Freitas

 possui graduação em enfermagem com habilitação em saúde pública pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (1971), mestrado em 1977 enfermagem pela Universidade de São Paulo e doutorado em enfermagem pela Universidade de São Paulo em 1992. Defendeu sua livre docência em 2008, juntamente com mais oito professores do Departamento de Enfermagem da FCM.  Foi membro da Comissão de Especialistas em Educação em Enfermagem de 2000 a 2002 e de 2002 a 2004. Atualmente, é professora associada da Faculdade de Ciências Médicas e chefe do Departamento de Enfermagem da Unicamp. Tem experiência na área de enfermagem com ênfase em enfermagem médico-cirúrgica, atuando principalmente em reprocessamento de artigos médicos intra e extra- hospitalares, agentes de esterilização, nutrição enteral e parenteral e assistência de enfermagem. É sócio-fundadora da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral. É sócia-fundadora da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral e a única enfermeira brasileira filiada à American Society of Parenteral and Enteral Nutrition – ASPEN e da European Society of Parenteral and Enteral Nutrition-ESPEN. 

Texto: Edimilson Montalti - ARP-FCM/Unicamp