Luana Aparecida Cardoso e Mariana Egídio Mello não se conheciam até se inscrevem no “IX Ciência & Arte nas Férias”, evento promovido pela Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) da Unicamp para 120 alunos de escolas públicas de Campinas e região. Ambas passam o mês de janeiro no Laboratório de Genética Molecular do Câncer (Gemoca) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Quatro vezes por semana, das 8h30 às 17h30, elas têm aulas teóricas de biologia molecular e ciências básicas, técnicas e práticas de laboratório. Monitoradas pelas biólogas Aline Carolina de Nadai e Raquel Bueno Barbieri, mestrandas em clínica médica, as duas alunas não se arrependem da escolha e dizem que se estivem em casa estariam à frente da televisão ou do computador e talvez, quando muito, passando uma semana no litoral paulista.
“Estando aqui, podemos conhecer melhor os cursos oferecidos pela Unicamp. É uma oportunidade para confirmarmos se temos vocação para medicina e para a pesquisa”, comentou Luana, aluna do terceiro ano do ensino médio da escola Dona Veneranda Martins Siqueira, de Campinas, SP.
Mariana decidiu participar da seleção para o “Ciência & Arte nas Férias” pensando na carreira. Mesmo desejando ser fisioterapeuta, as habilidades em manusear pipetas, tubos de ensaio e autoclave reforçam sua convicção em seguir a área da saúde. “Meu pai já acha que eu sou cientista”, comentou a aluna campineira da Escola Estadual Prof. Francisco Alves.
Também pudera.
De jaleco e luvas brancas, elas circulam pelo laboratório organizando as bancadas, enchendo as caixas das ponteiras das pipetas para a coleta de reagentes, lavando e esterizando a vidraria utilizada nos experimentos e até auxiliando a limpeza geral do Gemoca. “Elas estão vivenciando a rotina de um laboratório. Já aprenderam a extrair o próprio DNA e conheceram o ambulatório de tireóide”, comentou Aline.
Luana e Mariana mantêm um diário onde anotam as aulas e informações sobre as técnicas, os protocolos do laboratório e as soluções produzidas e utilizadas nas experiências. As informações serão para o relatório final. Na semana que vem, elas confeccionarão o pôster que apresentarão no encerramento do Ciência & Arte nas Férias, programado para o dia 3 de fevereiro no auditório da FCM. “Fizemos um cronograma diferente de aulas e supervisionamos tudo. Procuramos falar numa linguagem simples para eles entendam”, explicou Raquel.
Para a professora e médica endocrinologista Laura Sterian Ward, os alunos do ensino médio, ao passarem por uma experiência como essa, podem definir suas carreiras. Dois casos recentes são citados pela coordenadora do Gemoca, que participa do Ciência & Arte nas Férias desde 2003. O primeiro deles é de um aluno que após conhecer a rotina de um laboratório de pesquisa resolveu seguir a carreira administrativa. O outro caso é de Marcella Alves Ribeiro que participou ano passado do Ciência & Arte nas Férias e conseguiu uma bolsa de iniciação científica do PICJr. e faz estágio no Gemoca. “A Marcella percebeu que ciência era uma coisa interessante. Ela está dando os primeiros passos como pesquisadora. Muitos dos alunos que passaram por aqui nos encaram como orientadores profissionais e nos escrevem, contando o que estão fazendo”, comentou Laura.
Outro ponto abordado pela pesquisadora é com relação à linguagem da ciência. Acostumada a falar para a imprensa sobre câncer de tireóide, a médica endocrinologista disse que a tendência de cada categoria é usar o jargão – termo restrito a um grupo profissional – para se comunicar. Segundo Laura, se isto por um lado identifica um grupo ao mesmo tempo o isola do resto do mundo. “Você pode saber muito, mas você deve exercitar a sua capacidade científica ou intelectual numa linguagem compreensível do ponto de vista didático e profissional para o público leigo. A linguagem da ciência deve ser simples”, sentenciou Laura.
Texto e fotos: Edimilson Montalti
ARP - FCM