A disciplina de Moléstias Vasculares Periféricas do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp completa 40 anos de atividades em 2010. Para comemorar esta data, a disciplina realiza no próximo sábado (21), das 9 às 12 horas, no Salão Nobre da Faculdade, um encontro de todos os seus médicos ex-residentes. Segundo a organização do evento, são esperados aproximadamente 80 convidados entre ex-residentes, médicos, professores, funcionários e alunos. A cirurgia vascular é responsável pelo tratamento das doenças que afetam os vasos sanguíneos. As doenças mais conhecidas são as varizes dos membros inferiores e a trombose venosa profunda, que afetam grande proporção da população.
No entanto, as doenças das artérias são as mais graves do ponto de vista de cuidado médico, podendo levar à perda do membro (amputação) ou mesmo à morte do paciente por comprometer órgãos vitais como o cérebro, o coração e os rins. O cirurgião vascular opera os vasos sanguíneos no abdome, no pescoço e nos membros, limitando-se, a alguns casos, que comprometem os vasos do tórax, área de enfoque do cirurgião do coração e da cabeça, área de enfoque do neurocirurgião. “Os pacientes com gangrena, com obstrução da artéria, acidentados que vem ao pronto-socorro, são todos pacientes da cirurgia vascular. Realizamos entre 60 a 70 cirurgias por mês, sendo que 45 % são de urgência”, disse a professora e chefe da disciplina Ana Terezinha Guillaumon.
De acordo com o professor Fábio Hüsemann Menezes, a vocação da disciplina é fazer cirurgias especializadas, caras e de grande porte que dificilmente a população carente teria acesso se não fosse pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Essas cirurgias podem ser abertas (tradicionais) ou minimamente invasivas por meio de cateterismo, dependendo do paciente. Em hospitais particulares, por exemplo, o custo dessas cirurgias podem variar de R$ 25 mil a R$ 80 mil reais. “É por isso que não realizamos cirurgias de varizes aqui. Quando necessário, encaminhamos para o Hospital Estadual de Sumaré (HES)”, explicou.
Nestes 40 anos, a disciplina formou mais de 40 médicos especialistas que atuam em diversas partes do país, desde Santa Catarina até o Acre; participou de centenas de Congressos Nacionais e Internacionais com diversas premiações e publicou mais de 150 trabalhos científicos em revistas indexadas, além de produzir três livros-textos para o ensino e 25 teses de mestrado e doutorado. Para entrar na cirurgia vascular, o médico residente precisa, antes, fazer dois anos de cirurgia geral, aprender desde o diagnóstico até a como dar ponto. “Este é um requisito básico para ser cirurgião vascular”, disse Ana Terezinha, para quem a disciplina ainda é uma “menina”.
Contratada desde 1982 como professora do Departamento de Cirurgia, Ana Terezinha viu muitas mudanças físicas e tecnológicas dentro da área da cirurgia vascular, desde a transferência do hospital da antiga Santa Casa para o campus da Unicamp, em 1985, até os novos equipamentos existentes no mercado para facilitar o diagnóstico. “Tudo evoluiu em medicina. Só não evoluiu a relação médico-paciente. O médico deve conversar e examinar o paciente. Nós ensinamos aos nossos alunos, residentes e pós-graduandos a filosofia da medicina: o atendimento de qualidade e humanizado”, explicou.
Ainda segundo a chefe da disciplina, o cirurgião vascular acorda e dorme com a cirurgia. Ele, às vezes, sonha que está operando e avalia todos os problemas que poderão acontecer. É uma vivência contínua que dá prazer em continuar sonhando. “Nada do que conquistamos foi ao acaso. Houve e há muito trabalho. Queremos pensar no futuro da cirurgia vascular com o pé no presente sem perder a doçura”, concluiu.
Um pouco de história
A disciplina de Moléstias Vasculares da FCM da Unicamp teve seu inicio em 1969 com o professor John Cook Lane, recém chegado dos Estados Unidos, onde havia recebido treinamento em cirurgia cardiotorácica e assumiu o atendimento dos pacientes. Em 1970, o professor João Potério Filho, que também havia treinado nos Estados Unidos, veio trabalhar para a Unicamp. Em 1975, o professor George Carchedi Luccas adicionou-se à equipe e em 1982 foi a vez da professora Ana Terezinha Guillaumon completar o grupo inicial de docentes.
Em 1985, com a mudança do atendimento da Santa Casa de Misericórdia para o Hospital das Clínicas (HC) em Barão Geraldo, ocorreu um grande aumento no número de pacientes atendidos pela disciplina. No ano seguinte iniciou-se o programa de residência médica em cirurgia vascular. Anteriormente, os cirurgiões em treinamento apenas participavam de um estágio durante o programa da cirurgia geral.
Nos anos seguintes, o número de pacientes atendidos continuou crescendo e, em 1990, iniciou-se a contratação de médicos para atendimento dos plantões
A disciplina é chefiada pela professora Ana Terezinha Guillaumon, responsável pela criação, em 2002, do Centro de Referência
A disciplina ainda está vinculada ao atendimento no Hospital Estadual de Sumaré onde atuam dois médicos formados nesta Universidade, Thaís Cristina Hatsumura e Hugsmaer Pelicioni Filho. Neste local os médicos residentes realizam o treinamento no tratamento das doenças venosas, notadamente das varizes dos membros inferiores.
Texto: Edimilson Montalti
ARP-FCM
Unicamp