A partir de março, o sono da população de Campinas estará no foco da investigação de base populacional realizada pelos pesquisadores do Centro Colaborador em Análise da Situação de Saúde (CCAS), da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. Ao todo, 400 residências serão visitadas pelos entrevistadores do inquérito ISACamp Sono, para a realização de testes e questionários que avaliarão a qualidade do sono. Os domicílios visitados serão os mesmos do projeto ISACamp e foram escolhidos de acordo com as regiões censitárias previamente definidas pelo IBGE.
A pesquisa é inédita no país e recebe apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O estudo tem como objetivo analisar, de forma mais aprofundada, os aspectos relacionados à duração, à qualidade e aos distúrbios do sono, principalmente a apneia do sono, a sonolência e o cochilo diurnos. A investigação é multidisciplinar e envolve pesquisadores da neurologia, otorrinolaringologia, saúde coletiva e enfermagem.
O ineditismo do inquérito está também em levar versões portáteis dos exames de polissonografia e actigrafia aos domicílios das pessoas que participarão da pesquisa. Ambos os exames são de alto custo e não ainda não estão disponíveis aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), em Campinas e Região Metropolitana.
“Estudos de base populacional como esse ainda são muito poucos, e são altamente relevantes para entendermos o comportamento, a frequência e prevalência dos distúrbios e doenças do sono” – observou a neurologista Tânia Aparecida Marchiori de Oliveira Cardoso, coordenadora do ISACamp Sono.
Além de contribuir para o avanço da ciência no entendimento das questões relacionadas ao sono, os resultados da pesquisa servirão de guia aos gestores públicos, pesquisadores e profissionais de saúde. “Uma vez sinalizados os principais problemas de sono da população e identificados os subgrupos demográficos e sociais mais vulneráveis, fica mais fácil o delineamento de políticas públicas”, observa a coordenadora do ISACamp, Marilisa Berti de Azevedo Barros.
Queixas do sono
Dentre as queixas mais comuns da população, de acordo com Tânia Cardoso, estão àquelas relacionadas ao período noturno e diurno, como dificuldade para adormecer, despertares frequentes ao longo da noite, ronco, sensações de sufocamento, falta de concentração, fadiga e sonolência durante o dia.
“Estatisticamente, as alterações mais frequentes são a insônia e a apneia do sono. Dados do Instituto do Sono de São Paulo revelam que 32,9% da população brasileira sofrem de apneia”, complementa o otorrinolaringologista da Unicamp e diretor da Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS) Edilson Zancanella.
Entenda mais
A enfermeira Maria Filomena Ceolim da Faculdade de Enfermagem (FEnf) é uma das pesquisadoras do ISACamp Sono e explica, de maneira simples, as diferentes finalidades dos exames de polissonografia e actigrafia, utilizados para avaliar a qualidade do sono dos indivíduos.
“A polissonografia registra as ondas cerebrais e ajuda o médico especialista a identificar as fases do sono. Com a ajuda de eletrodos também é possível registrar o sono REM – quando o individuo cai em sono profundo e mexe bastante os olhos – a saturação de oxigênio no sangue, a respiração e os movimentos do corpo”.
“A actigrafia, por sua vez, é realizada com a utilização de um equipamento muito similar a um relógio, o actígrafo. Ele é muito valioso para estudar o ritmo natural de sono de uma pessoa, ao registrar os movimentos dos braços. O exame permite construir um gráfico do ritmo de sono. Durante a utilização do actígrafo é solicitado que o paciente escreva um diário do sono, com o registro pessoal dos horários de dormir e acordar”, explicou.