Autores:
Edlaine da Rocha Duarte, Luiz Claudio Martins,
Introdução: a doença de Chagas (DC) é causada pelo parasito Trypanosoma cruzi e representa uma condição infecciosa classificada como negligenciada pela Organização Mundial da Saúde. Na fase crônica, cerca de 20 a 30% das pessoas infectadas possuem a forma cardíaca da doença, sendo arritmias importantes achados. Por outro lado, na COVID-19, causada pelo vírus SARS CoV-2, também há uma associação com o aparelho cardiovascular, com evidencias de aumento do risco de arritmias. Assim, é possível que infecções por SARS-CoV-2 poderiam influenciar em quadros de arritmias já existentes em pacientes chagásicos, devido a associações a lesões no miocárdio oriundas de processos inflamatórios. Desta forma, propõe-se elaborar um estudo que avalie as possíveis alterações em arritmias de pacientes chagásicos após infecção por COVID-19. Objetivo: avaliar possíveis alterações no quadro de arritmias de pacientes chagásicos após infecção por COVID-19. Métodos: Foi realizado, inicialmente, um levantamento dos casos de coinfecção de Chagas e COVID-19, chegando a 45 pacientes elegíveis e concordantes a participarem da pesquisa. Após, verificou-se a existência do ECG de cada um dos indivíduos selecionados antes de sua infecção por COVID-19 e após até um ano desse mesmo quadro infeccioso. Nos casos em que já se via alteração no padrão de arritmia, também foi verificado a existência de ECG após mais de um ano da infecção por COVID-19, a fim de ser verificado se a mudança de padrão se manteve ou não. Além da análise dos ECGs, também foi realizado uma breve análise das formas em que a COVID-19 se manifestou em cada paciente, de maneira que essas características foram incluídas na tabulação. Por fim, foram realizadas tabelas a fim de quantificar e resumir os resultados obtidos, utilizando o software Planilhas Google. Resultados e discussão: os dados foram organizados em sete tabelas ao total. Em relação a uma análise demográfica dos 45 pacientes participantes, é possível observar que a maioria dos pacientes é pertencente ao sexo feminino (60%), não tendo sido internado durante a infecção por COVID-19 (77,78%) e não tendo queixas de qualquer sintoma após a infecção (66,67%). Além disso, dentre o grupo, 14 pacientes (31,11%) possuem alguma alteração do padrão de arritmia evidenciado pelo ECG. Foram encontradas as seguintes alterações, ao comparar ECGs antes e após a infecção por Covid-19: presença de Bloqueio do Ramo Direito, Flutter, desvio do eixo e hemi bloqueio do ramo esquerdo, Bloqueio Divisional Antero Superior, fibrilação atrial, Bloqueia Átrio Ventricular e Bloqueio Fascicular Anterior Esquerdo. Vale a observação que alguns desses casos houve a inserção de marcapasso. Em relação a esses 14 pacientes, a maioria é do sexo masculino (57,14%), não tendo sido internado durante sua infecção por COVID-19 (86%) e não tendo queixas de qualquer sintoma após a infecção por COVID-19 (86%). Dentre essas alterações a mais frequente foi a presença de BRD (26,67%), alteração notada tanto em casos de Doença de Chagas quanto em relação a infecção pelo vírus Sars-CoV-2. Foi também realizada uma análise focando no grupo de pacientes que apresentaram sintomas de síndrome gripal durante a infecção por COVID-19 e os assintomáticos. A maioria dos pacientes assintomáticos pertencem ao sexo feminino (81,82%) e não possuem alteração verificada no ECG (72,73%). Porém, ainda é válida a observação que mesmo em quadros assintomáticos houveram três casos (27,27%) de modificação do padrão de arritmia, sendo que em dois deles ocorreu o surgimento de BRD. Já em relação aos pacientes que apresentaram síndrome gripal, a maioria não apresentou alteração no padrão de arritmia (67,65%) e não foram internados (70,59%). No entanto, onze pacientes chagásicos apresentaram alteração em seu padrão de arritmia (32,35%), sendo que, entre eles, o surgimento de FA e de BDAS foram destaque (27,27% do total de quadros com alteração). Ainda observando o grupo de pacientes chagásicos que apresentaram sintomas de síndrome gripal durante a infecção por COVID-19, analisou-se aqueles que foram internados por conta do quadro infeccioso, assim como aqueles que não apresentaram esse grau de gravidade. Dos pacientes que não foram internados e apresentaram síndrome gripal, nove (37,5%) possuíram alteração no padrão de arritmia, sendo que as mudanças mais frequentes foram o aparecimento de BRD, FA e BDAS: cada alteração com de dois casos (22,2%). Além disso, deste grupo que teve alteração, quatro (44,4%) permaneceram com a alteração após mais de um ano da infecção e três (33,3%) voltaram a ter o padrão de arritmia que possuíram antes da infecção pelo vírus Sars-CoV-2. Já em relação aos pacientes chagásicos que apresentaram síndrome gripal durante sua infecção por COVID-19 e não foram internados, há dois casos (20%) em que houve alteração no padrão de arritmia. Desses casos, um permaneceu com a mudança após mais de um ano da infecção e no outro não foi possível a realização do ECG após esse tempo. Conclusão: através do estudo realizado, foi possível verificar certas alterações nos quadros de arritmias em pacientes chagásicos após uma infecção por COVID-19.
PALAVRA-CHAVE: Doença de Chagas; arritmia; COVID-19
ÁREA: Clínica Médica
NÍVEL: Estudo original de natureza quantitativa ou qualitativa
FINANCIAMENTO: CNPq
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Núcleo de Tecnologia da Informação - FCM