Autores:
Marcio Luiz Figueredo Balthazar, Ana Luiza Gonçalves Rochetti, Isadora Cristina Ribeiro,
Introdução: O envelhecimento populacional é uma tendência mundial, sendo um fator de risco para doenças neurodegenerativas. Assim, a ocorrência desta síndrome vem aumentando no mundo, sendo a Doença de Alzheimer (DA) a mais prevalente. Fisiopatologicamente, ela pode ser caracterizada pela presença de placas do peptídeo beta-amiloide no córtex cerebral e de agregados neurofibrilares da proteína tau-hiperfosforilada, biomarcadores que podem ser mensurados pelo líquor. Clinicamente, a DA tem como apresentação típica quadros de comprometimento cognitivo, como o prejuízo da memória, e perda da independência em atividades cotidianas. Os estágios de Declínio Cognitivo Subjetivo (DCS) e Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) são potenciais precedentes do estágio demencial da DA. A presença dos sintomas neuropsiquiátricos no continuum da DA vem sendo observada, embora sua relação com a fisiopatologia da doença ainda não seja completamente clara e os dados da literatura sobre o assunto sejam contraditórios, principalmente quando se trata dos estágios prodrômicos da doença. Desse modo, o presente trabalho visa estudar se há correlação entre os biomarcadores liquóricos da DA e sintomas neuropsiquiátricos em pacientes com DCS e CCL. Metodologia: Os voluntários foram recrutados para participar da pesquisa por meio de um formulário divulgado virtualmente, que continha perguntas para uma triagem inicial, a partir da qual foram chamados para a avaliação médica e neuropsicológica no Centro de Pesquisa Clínica da Unicamp. A partir da consulta, foram selecionados os pacientes aptos para participar, a partir dos critérios de inclusão e exclusão. Foram aplicados testes para avaliação neuropsiquiátrica e estabelecido o diagnóstico cognitivo de cada paciente incluído, de acordo com os critérios do NIA-AA, paralelamente à coleta de líquor para avaliação dos biomarcadores liquóricos. Para a análise estatística, aplicou-se o teste t de student para comparação dos grupos de pacientes com DCS e CCL, considerando idade, escolaridade, o resultado dos testes neuropsiquiátricos e os valores absolutos dos biomarcadores liquóricos. Em seguida, foi feita uma correlação de Pearson para verificar se havia correlação entre os questionários neuropsiquiátricos e os biomarcadores do líquor. Resultados: Foram incluídos 71 participantes, sendo 54 diagnosticados com CCL e 17 com DCS, não sendo significativamente diferentes em idade e escolaridade. Também não houve diferença significativa no perfil de biomarcadores. A única diferença significativa foi observada nos resultados dos testes neuropsiquiátricos, no domínio E do MBI-C, com p=0,001. Foi observada uma correlação negativa de média força entre a concentração liquórica do peptídeo beta amilóide e o escore do domínio C do MBI-C (p=0,026, r= -0,302, n=54) e uma correlação positiva de baixa força entre a concentração liquórica da proteína tau total e o score do domínio E do MBI-C (p=0,026, r= 0,295, n=57). Discussão: O Mild Behavioral Impairment Checklist (MBI-C) é um questionário que tem se mostrado útil para auxiliar no diagnóstico de sintomas neuropsiquiátricos em pacientes com DCS e CCL. Cada um de seus cinco domínios (A a E) visa mapear um conjunto de sintomas neuropsiquiátricos e comportamentais. O domínio C do MBI-C avalia sintomas como agitação, impulsividade, agressividade, imprudência e anormalidade dos sistemas de reforço e recompensa, que estão presentes em pacientes com DCS e CCL. Embora sua relação com os biomarcadores da DA ainda seja pouco esclarecida, há estudos que demonstram a correlação desses sintomas com a fisiopatologia da Doença de Alzheimer. Por sua vez, o domínio E do MBI-C avalia sintomas como desconfiança, grandiosidade e alucinações auditivas e visuais, que também estão presentes nos estágios prodrômicos da DA, porém em menor prevalência quando comparado aos outros domínios. A relação desses sintomas com os biomarcadores da DA é ainda mais contraditória na literatura. É evidente também a escassez de estudos considerando pacientes com DCS. Convém a realização posterior de mais estudos sobre a relação dos domínios do MBI-C com os biomarcadores liquóricos. Convém também repetir as análises com o MBI-C sendo respondido pelos acompanhantes dos pacientes, além de estudar uma amostra maior e com mais pacientes diagnosticados com DCS. É pertinente a realização posterior de testes estatísticos para avaliar a predição dos biomarcadores para sintomas neuropsiquiátricos nos grupos em questão. Conclusão: O presente estudo identificou correlações entre o domínio C do MBI-C e o peptídeo beta amilóide e entre o domínio E do MBI-C e a proteína tau total, analisando pacientes com DCS e CCL.
PALAVRA-CHAVE: Doença de Alzheimer, Neuropsiquiatria, Comprometimento Cognitivo Leve, Declínio Cognitivo Subjetivo, Biomarcadores Liquóricos
ÁREA: Clínica Médica
NÍVEL: Estudo original de natureza quantitativa ou qualitativa
FINANCIAMENTO: FAPESP
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