Autores:
Athos Paixão Silva Santos, Priscila Maria Stolses Bergamo Francisco ,
Introdução: Dentre as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), as quais apresentam importância crescente nos últimos anos, destacam-se as doenças cardiovasculares (DCV). Muito estudado atualmente pelos seus efeitos a nível individual, familiar, populacional e econômico, é o Acidente Vascular Cerebral (AVC), doença cerebrovascular com múltiplos processos fisiopatológicos conhecidos, e que conta com o envelhecimento per se como principal fator de risco. Também são conhecidas as relações do AVC com características sociodemográficas, autoavaliação de saúde e comorbidades. Especificamente, em relação ao sexo, observam-se diferenciais quanto à incidência e prevalência. Este estudo teve como objetivo estimar a prevalência de AVC em idosos (idade ≥ 60 anos) segundo características sociodemográficas, autoavaliação do estado de saúde e comorbidades, de acordo com o sexo; verificar o grau de limitação referido para realização de atividades habituais em decorrência da doença e comparar as práticas de cuidado entre os grupos. Metodologia: Estudo transversal de base populacional realizado com dados de domínio público de idosos (idade ≥ 60 anos) que participaram da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 (n=22.728). Para todas as estimativas de prevalência e respectivos intervalos de confiança de 95%, foram considerados os pesos relativos ao delineamento amostral complexo da pesquisa. A PNS 2019 foi aprovada na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa no dia 23/08/2019 (Processo – nº 3.529.376). Resultados: Entre os idosos, 56,7% (IC95%: 55,6-57,7) eram mulheres e estas tiveram média de idade um pouco superior aos homens (70,1 versus 69,5, respectivamente; p<0,05). A prevalência de AVC foi maior nos homens (6,4%; IC95%:5,6-7,3) em relação às mulheres (5,0%; IC95%:4,4-5,6) (p<0,05). Quanto à idade do primeiro diagnóstico de AVC, houve diferença estatística para os que relataram a ocorrência antes dos 45 anos de idade (12,5% em mulheres e 5,2% em homens). Destaca-se que a maioria dos casos ocorreu acima dos 60 anos. Em relação às características sociodemográficas, houve diferença significativa para todas as variáveis entre as mulheres; para raça/cor de pele e situação conjugal, não foram verificadas diferenças mas prevalências nos homens. Na análise da autoavaliação do estado de saúde, assim como a presença de comorbidades específicas, observaram-se diferenças significativas, tanto para homens quanto para mulheres (p<0,05). Para as práticas de cuidado referidas por idosos que tiveram AVC, não houve diferença de acordo com o sexo (p>0,05), embora tenha-se observado que somente cerca de 60% e de 40% dos idosos, realizavam acompanhamento com profissional de saúde e adotam dieta como parte do tratamento, respectivamente. Quanto ao grau de limitação para realização de atividades diárias, não houve diferença estatística entre os sexos (p<0,05), mas cerca de 57% dos idosos e de 50% das idosas, referiram alguma limitação para a realização de atividades cotidianas. Discussão: Os resultados do estudo mostraram uma maior ocorrência de AVC nos idosos do sexo masculino. Mais importante que explicações relacionadas aos fatores biológicos em si são as questões socioeconômicas, culturais e comportamentais envolvidas (menor procura pelos serviços de saúde, p.ex.). Quando analisadas as características sociodemográficas observou-se, em idosas, prevalência de AVC significativamente maior com o avançar da idade, nas pretas/pardas/indígenas, naquelas sem cônjuge, com menor escolaridade, renda individual inferior a 1 SM, e que não possuíam plano de saúde. Embora não se tenha observado diferença nas prevalências de AVC segundo raça/cor nos homens, a prevalência e a gravidade da hipertensão arterial - importante fator de risco para o AVC - são mais elevadas em negros do que em brancos. Nos resultados envolvendo comorbidades, as prevalências de AVC em idosos do de ambos os sexos apresentaram comportamento semelhante. Hipertensão, diabetes mellitus, cardiopatias, hipercolesterolemia e depressão estiveram associados com maior ocorrência de AVC. Tal achado evidencia a importância das DCNT como comorbidades relacionadas a esta grave ocorrência, assim como levanta importantes observações direcionadas ao serviço de saúde. Por apresentarem caráter mais insidioso, as DCNT deveriam ser acompanhadas rotineiramente pelos serviços, principalmente no nível de atenção primária, utilizando-se de uma abordagem mais preventiva em detrimento de curativa, com objetivo de evitar a progressão e o estabelecimento de complicações, com limitações à vida do indivíduo, redução na sua qualidade de vida e de seus familiares. Quanto às práticas de cuidado dos idosos diagnosticados com AVC, não se observou diferença significativa entre homens e mulheres. Ressalta-se que a falta de acompanhamento com profissional de saúde tem como consequência a ausência de orientações que devem ser adotadas pelos idosos e famílias. Conclusão: Frente aos resultados do estudo, destaca-se a necessidade de ampliação das ações de promoção da saúde relacionadas aos fatores de risco modificáveis para DCNT em todas as faixas etárias e particularmente nos adultos mais velhos e idosos – além da prevenção de complicações relacionadas aos indivíduos já portadores de condições crônicas - no nível primário de atenção à saúde - levando em conta seu perfil sociodemográfico mediante diferenças acumuladas durante todo o ciclo de vida, e o sexo que, per se, pode ter impacto sobre o prognóstico da doença.
PALAVRA-CHAVE: Acidente Vascular Cerebral. Saúde do Idoso. Inquérito de Saúde
ÁREA: Saúde Coletiva
NÍVEL: Estudo original de natureza quantitativa ou qualitativa
FINANCIAMENTO: CNPq
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