Autores:
João Pedro Lopes dos Reis , Fernanda Viviane Mariano Brum Corrêa , Rayssa de Jesus Reis, Reydson Alcides de Lima Souza , Erika Said Abu Egal,
Resumo: O carcinoma espinocelular cutâneo (CECC) é o segundo câncer de pele do tipo não-melanoma mais comum. Em pacientes transplantados, essa incidência aumenta ainda mais, assim como a agressividade do tumor. Na tentativa de elucidar este aumento da incidência, o objetivo do trabalho foi observar as características clinico-patológicas do CECC em pacientes transplantados e não transplantados. Metodologia: Realizamos um levantamento de prontuários para identificar pacientes que obtiveram CECC após o transplante e pacientes não transplantados. Pacientes que desenvolveram CECC previamente ao transplante e pacientes que desenvolveram CECC posteriormente, mas com material insuficiente para realização de novos cortes foram excluídos do estudo. Após a aplicação desses critérios, selecionamos 20 casos de pacientes transplantados e 20 não transplantados, totalizando 40 amostras. Dados clinico-histopatológicos foram coletados do prontuários destes pacientes. Resultados: Em todos os 20 casos de pacientes transplantados, o paciente se autodeclarava branco. Quanto ao tipo de transplante, 11 (55%) casos eram renais, 7 (35%) hepáticos e 2 (10%) cardíacos. O tempo médio entre o transplante e o desenvolvimento do tumor foi de 7,8 anos. Os principais medicamentos imunossupressores utilizados e suas respectivas porcentagens foram, a prednisona em 14 casos (70%), o micofenolato em 11 (55%), o tacrolimus em 9 (45%). Em relação aos achados histopatológicos do CECC em transplantados, o padrão bowenoide foi o mais presente, aparecendo em 9 casos (45%).Quanto ao grau de diferenciação, 4 casos (20%) eram bem diferenciados. Sobre a invasão, 5 (25%) invadiam toda a espessura da derme, 4 (20%) a derme reticular, 3 (15%) casos eram tumores “in situ”, 3 (14%) eram superficialmente invasores, 2 (10%) invadiam a derme papilar, e 1 (5%) a camada muscular. Em 4 casos (20%) houve recidiva local do tumor e o tempo de recidiva médio foi de 23,2 meses. Em 95% dos casos o paciente se auto declarou branco. Quanto aos achados histopatológicos, 10 (50%) casos eram de padrão clássico. Quanto ao grau de diferenciação, 13 (65%) eram moderadamente diferenciado. Sobre a invasão, 7 (35%) invadiam a derme reticular, 4 (20%) toda a espessura da derme, 2 (10%) casos eram superficialmente invasores, 2 (10%) a derme papilar, 2 (10%) o subcutâneo, e 1 (5%) a camada muscular. A recidiva em não transplantados ocorreu em 5 casos (25%) com média de 7 meses. Discussão: Avaliando os 40 casos de CECC em pacientes transplantados e não transplantados, observamos que o transplante de órgãos sólidos aparenta ser um importante fator de risco para o desenvolvimento de CECC, sendo que o risco se relacionava principalmente ao imunossupressor e tipo de transplante. Neste estudo, o principal tipo de transplante encontrado foi o renal (55%), contrariando a literatura. Observamos que em 9 casos (45%), o tipo de imunossupressor utilizado foi o tacrolimus, sendo um imunossupressor já associado com um aumento do risco de CECC em estudos prévios. Em ambas as coortes, a grande maioria dos pacientes se auto declaravam brancos, representado 100% nos transplantados e 95% dos não transplantados, similar a estudos anteriores que demonstram que independente da presença ou não de transplante, ser caucasiano ainda é considerado o principal fator de risco para CECC. A literatura aponta que 75% dos pacientes transplantados acometidos por CECC terão uma recidiva nos próximos 5 anos. No entanto, a recidiva encontrada entre transplantados e não transplantados foi semelhante, representando 20% no primeiro grupo e 25% no segundo. É importante ressaltar que outros fatores como o grau de diferenciação e invasão também estão relacionados com uma recidiva mais agressiva em pacientes transplantados, devendo se levar em conta esses fatores. O subtipo histopatológico mais encontrado em pacientes transplantados foi o bowenoide (45%), subtipo mais agressivo, com maior risco de metástase e pior prognóstico. Já, em não transplantados, o subtipo principal foi o acantolítico, considerado risco intermediário para desenvolvimento de metástases e quanto a agressividade, mas sendo relacionado principalmente com uma idade mais avançada. No grupo de transplantados, a maioria eram tumores bem diferenciados (20%), e em não transplantados, a maioria eram moderadamente diferenciados (65%). Estes dados discordam da literatura existente, que demonstra que pacientes transplantados costumam ter um grau de diferenciação menor do que não transplantados. No primeiro grupo, 25% casos invadiam toda a espessura da derme e 5% invadia a camada muscular. Enquanto no segundo, 20% invadiam toda a espessura da derme e 5% invadiam a camada muscular. Esses dados podem ajudar a elucidar o motivo do comportamento do CECC ser aparentemente pior em pacientes transplantados do que não transplantados. Conclusão: O perfil clínico-patológico dos pacientes transplantados que desenvolveram CECC se mostrou diferente ao perfil dos pacientes não transplantados. O uso de imunossupressores e o grau de invasão foram fatores de risco importantes em pacientes que tiveram transplante de órgãos sólidos. Ainda, o subtipo histológico mais frequente nos pacientes transplantados foi o padrão bowenoide, que é mais agressivo e tem um pior prognóstico.
PALAVRA-CHAVE: Carcinoma espinocelular cutâneo; transplante de órgãos sólidos, imunossupressores
ÁREA: Clínica Médica
NÍVEL: Estudo original de natureza quantitativa ou qualitativa
FINANCIAMENTO: FAPESP
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