Autores:
Ana Carolina Gomes Pereira, Fernanda Garanhani de Castro Surita, Tábata Regina Zumpano Santos,
TÍTULO: Fatores associados ao não comparecimento à consulta de revisão puerperal em população de alto risco. INTRODUÇÃO: Após o parto recomenda-se acompanhamento médico de rotina, para avaliação da saúde de forma geral. Até hoje, poucos estudos avaliaram as causas da baixa utilização deste atendimento médico no pós-parto. Nosso estudo buscou identificar fatores associados à falta de mulheres com gestações de alto risco na consulta puerperal, para podermos elaborar estratégias para aumentar o comparecimento nas consultas. OBJETIVOS: Avaliar a taxa de faltas às consultas agendadas no ambulatório de revisão puerperal, um serviço que atende mulheres que tiveram gestação de alto risco, e conhecer e comparar condições socioeconômicas, demográficas, obstétricas, perinatais e neonatais entre puérperas que compareceram ou não à consulta, identificando alguns fatores relacionados à ausência na consulta pós-parto. METODOLOGIA: Corte transversal, retrospectivo. Foram consideradas todas as mulheres agendadas para realizar revisão em um serviço de atendimento à puérperas que tiveram gestação de risco, no período de um ano (2018). As variáveis de interesse foram obtidas de prontuários eletrônicos do sistema informatizado do hospital. Após organização e checagem de consistência dos dados foram realizadas análises estatísticas com comparação das variáveis categóricas com testes Qui-Quadrado ou exato de Fisher, comparação das variáveis numéricas através do teste de Mann-Whitney. Para a variável “intervalo interpartal” entre multigestas, foi realizada análise através de curva ROC para encontrar o ponto de corte que melhor discrimina as pacientes que retornaram ou não à consulta pós-parto. O nível de significância adotado para os testes estatísticos foi de 5%. RESULTADOS: Foram avaliados registros de 1629 mulheres, agendadas para consulta puerperal no ano de 2018. Entre todas as pacientes agendadas, 52% tinham alguma intercorrência clínica, sendo as mais frequentes hipertensão arterial, diabetes e hipotireoidismo, 66% apresentaram alguma intercorrência obstétrica, 19% eram adolescentes e a idade gestacional média ao nascimento foi 37.6 semanas. Dentre as mulheres que compareceram, 57.2% eram primíparas, 70.1% brancas e 73.4% sem profissão remunerada. A taxa de falta na consulta de revisão puerperal foi de 34.8%. Foram fatores associados ao não comparecimento à consulta : o menor intervalo interpartal (p= 0,039) uso prévio de substâncias psicoativas (p = 0,027) e o tabagismo atual ou pregresso (p = 0,003). A primiparidade foi fator associado ao comparecimento à consulta (p < 0,001). Entre as mulheres que já tinham ao menos um parto prévio, aquelas com até 4 anos (50 meses) de intervalo interpartal, faltaram mais e as com intervalo interpartal maior que 4 anos faltaram menos (p= 0,039). DISCUSSÃO E CONCLUSÃO: Confirmamos a alta taxa de falta das puérperas na consulta de revisão pós-parto, que foi de 34.8%. Consideramos esse dado extremamente relevante especialmente por tratar-se de estudo feito em serviço de atendimento de alto risco, no qual os casos são vinculados a critério de gravidade clínica ou situações de vulnerabilidade social. Em nosso estudo, o uso de substâncias psicoativas (SPA) e o tabagismo atual e prévio relacionaram-se com significância estatística ao não comparecimento à consulta de revisão pós-parto. O intervalo interpartal (ou seja, o tempo entre parto atual e imediatamente anterior) menor ou igual a 24 meses é considerado curto, inadequado e agrega riscos materno-fetais, principalmente abaixo de 18 e 12 meses, com piora progressiva dos resultados perinatais quanto menor o intervalo. Na nossa pesquisa, observamos que até o corte de 4 anos (50 meses) de intervalo interpartal, as mulheres mais faltam do que comparecem à consulta e a partir de 4 anos (51 meses ou mais) elas voltam a comparecer mais às consultas. A comparação mostrou significância estatística (p < 0,001) para o comparecimento de mulheres primíparas. Isso talvez se deva ao fato de as primeiras gestações trazerem consigo, no geral, maior ansiedade, mais dúvidas e mais dificuldades no puerpério para as mulheres e também ao fato de que a logística e locomoção dessas mulheres é mais fácil, com apenas um filho. As mulheres multíparas, em sua maioria já possuem mais de um filho e então necessitam de uma rede de apoio maior para conseguirem sair de casa para a consulta, o que infelizmente não é uma realidade para muitas mulheres brasileiras. Sendo assim, devemos manter incansáveis esforços para reduzir as desigualdades sociais de nosso país, aumentar o acesso à licença familiar remunerada e investir em planejamento familiar principalmente com os métodos de longa duração e de preferência antes da alta hospitalar, como os dispositivos intrauterinos pós-parto imediato e os implantes subcutâneos; procedimentos que já estão sendo realizados e surtindo bons resultados em nosso serviço. Assim, mesmo que essa puérpera falte à consulta, ao menos ela terá garantida sua anticoncepção de longa duração e a possibilidade de um intervalo interpartal mais adequado. Além disso, também devemos pensar em estratégias para aumentar o comparecimento às consultas de revisão pós-parto, como discutir a importância dos cuidados pós-parto já durante as consultas pré-natais, principalmente com mulheres que já passaram por outra gravidez.
PALAVRA-CHAVE: Puerpério; Consulta pós-parto; Saúde reprodutiva
ÁREA: Ginecologia e Obstetrícia
NÍVEL: Estudo original de natureza quantitativa ou qualitativa
FINANCIAMENTO: CNPq
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