Autores:
Ingrid Carolina da Silva Cardoso, Fábio Rogério, Fernando Cendes,
Introdução: A epilepsia é uma doença neurológica comum [1]. Aproximadamente 30% dos pacientes com epilepsia crônica são refratários a medicamentos, tornando-se candidatos a cirurgia, sendo, nesses casos, a esclerose hipocampal (EH) e a displasia cortical focal (DCF) os achados neuropatológicos mais frequentes [2]. Neste estudo, realizamos análises histopatológicas da substância branca (SB) em espécimes de indivíduos tratados cirurgicamente devido à hipótese de EH ou DCF, com foco nas populações astrocitária e microglial [3]. Também obtivemos dados pré-operatórios de neuroimagem através de ressonância magnética (RM) relacionados à SB na mesma região encefálica submetida à exérese cirúrgica. Nosso objetivo foi correlacionar achados histopatológicos com dados de neuroimagem de pacientes brasileiros. Metodologia: A análise de cortes histológicos de espécimes dos grupos epilepsia (n=21) e controle (pacientes autopsiados sem história de doença neurológica; n=20) foi feita utilizando-se as lâminas coradas em hematoxilina e eosina, e o estudo imunoistoquímico foi feito para contagem da população astrocitária (positiva para GFAP) e microglial (positiva para Iba-1). Todos os cortes foram escaneados (Aperio Scanscope CS2 #23CS100) e as fotos digitais da SB foram analisadas através do software ImageJ®. Utilizando a ferramenta “Threshold”, cada imagem foi transformada em escala de cinza com um ponto de corte definido para converter a foto em informação binária (preto/branco). O software calculou a porcentagem de pixels pretos por número total de pixels em um campo histológico, ou seja, porcentagem de área marcada. Analisamos imagens de RM (3T Philips Achieva) dos lobos frontal, temporal e occipital de pacientes (n = 21) e comparamos com controles pareados, seguindo um protocolo de rotina [4]. As imagens multieco ponderadas em T2 foram avaliadas com software próprio, sendo computado de cada imagens a intensidade do sinal T2 referente às regiões de interesse (ROI) da SB. As imagens ponderadas em DWI e T1 foram avaliadas usando o software ExploreDTI [5]. De cada ROI, obtivemos os valores médios dos seguintes parâmetros: anisotropia fracionada (AF), difusão média, axial e radial. Para avaliação estatística, foram utilizados os testes de Mann-Whitney, Spearman e Wilcoxon com nível de significância de p<0,05. Resultados: Encontramos aumentos significativos nos percentuais de área marcada para Iba-1 e GFAP de amostras de pacientes com epilepsia em comparação com controles (p <0,001). Além disso, encontramos aumento significativo do sinal em T2 dos pacientes em relação aos controles (p<0,001), bem como ao comparar as áreas ipsilaterais com as contralaterais (p=0,028) do mesmo paciente. Na análise das imagens ponderadas em DWI, observamos diminuição significativa dos valores médios de AF, principalmente no polo temporal dos pacientes com EH em relação aos controles (p=0,042) e na área contralateral (p=0,028). Não foi observada correlação significativa entre marcação por Iba-1 e GFAP e quaisquer dos parâmetros avaliados à neuroimagem (relaxometria e DTI). Discussão: O aumento da expressão de Iba-1 corresponde à ativação microglial, cujo papel biológico nas crises depende do estágio da doença: inibitório ou estimulador para epilepsia aguda ou crônica, respectivamente [6]. Da mesma forma, o aumento da expressão de GFAP (gliose) pode desempenhar um papel na inibição ou promoção de convulsões, bem como nas comunicações sinápticas [7]. Além disso, a interação entre microglia e astrócitos pode induzir a coativação crônica dessas populações [3]. O hipersinal T2 está associado a maior quantidade de água livre nos tecidos, o que ocorre no caso da gliose. A diminuição da FA pode corresponder a uma diminuição da integridade axonal. Conclusão: Desta forma, conclui-se que, após analisar as alterações de SB através de técnicas de imunoistoquímicas e de neuroimagem em pacientes operados por epilepsia, observamos alterações nas populações astrocitária e microglial, além de mudanças na SB na imagem, provavelmente associadas a alterações de mielinização. Como o tecido avaliado foi obtido de pacientes com epilepsia de longa duração, é possível que as mudanças estejam associadas a plasticidade neuronal e das células da glia. Nossas observações são originais para indivíduos brasileiros com epilepsia e concordam com estudos anteriores de outras instituições [8]. Financiamento: FAPESP (2013/07559-3, 2019/08259-0, 2020/12651-0) e FAEPEX Unicamp (2037/19). Referências: [1] Steinhauser C et al.; doi: 10.1016/j.neuroscience.2014.12.047; [2] Blumcke I et al., doi: 10.1056/NEJMoa1703784; [3] Kinoshita S et al., doi: 10.4103/1673-5374.300976.; [4] Kubota BY et al., doi: 10.1016/j.yebeh.2015.04.001; [5] Lebel C et al., doi: 10.1016/j.neuroimage.2007.12.053; [6] Eyo UB et al., doi: 10.1523/JNEUROSCI.0416-14.2014.;[7] Ortinski PI et al., doi: 10.1038/nn.2535.; [8] Concha L et al., doi: 10.1523/JNEUROSCI.1619-09.2010.
PALAVRA-CHAVE: epilepsia; substância branca; neuroimagem; histopatologia
ÁREA: Ciência Básica
NÍVEL: Estudo original de natureza quantitativa ou qualitativa
FINANCIAMENTO: FAPESP
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