Autores:
Lia Canotilho Logarezzi, Luís Fernando Tófoli, Lucas Oliveira Maia,
Introdução. A ayahuasca é uma decocção com efeitos psicodélicos obtida a partir de plantas amazônicas, utilizada há séculos pelos indígenas da região em rituais de cura e permitida em usos religiosos no Brasil desde 1987. No século XX, a bebida foi incorporada por diferentes religiões no contexto urbano, com grande relevância da música em seus rituais. O tratamento de transtornos psiquiátricos com psicodélicos tem sido estudado nas últimas décadas, com resultados promissores. A literatura demonstra a importância do contexto de utilização do psicodélico, em que a música tem grande peso. Este trabalho estudou o papel da música nos rituais com ayahuasca, visando contribuir para seu eventual uso terapêutico em patologias como a depressão e o transtorno por uso de substâncias. Metodologia. foi utilizado o método qualitativo de análise temática proposto por Braun e Clarke, a partir da realização de entrevistas semiestruturadas online. Resultados. Foram realizadas nove entrevistas, e depois do processo de análise temática chegou-se a sete temas: papel da música durante a experiência com o chá, adequabilidade das músicas, papel das letras das músicas, cantar/tocar versus ouvir, evocações posteriores, potencial intrínseco de uma música versus interferência do gosto pessoal/vivências/cultura, playlist pré-determinada versus adaptada durante a experiência. Discussão. O conteúdo e análise das entrevistas corroboraram elementos encontrados na literatura indicando o papel fundamental da música durante a experiência com o chá, podendo tanto potencializar seu efeito terapêutico quanto causar prejuízo. A música foi considerada, em síntese, como um guia. De maneira geral os entrevistados concordaram sobre que tipo de música seria adequado ou inadequado, sendo relevantes principalmente características musicais (ritmo, timbres, melodia, harmonia, letra, etc), mas também o gosto musical e o momento da cerimônia em que cada música toca. Todos consideraram que o gosto musical não é suficiente para definir a adequabilidade das músicas. Alguns indicaram ser preferencial a presença de uma pessoa encarregada de escolher as músicas durante a cerimônia, fazendo adaptações conforme as reações dos presentes, em contraposição ao uso de uma playlist pré definida. Conclusão. O papel fundamental da música indica que uma atenção ao aspecto musical das sessões com ayahuasca pode contribuir para melhorar seu efeito terapêutico. Talvez seja interessante, futuramente, incluir nos ensaios clínicos com ayahuasca uma análise das músicas ouvidas durante o experimento, com registro das impressões e relatos dos participantes em relação ao aspecto musical.
PALAVRA-CHAVE: ayahuasca, terapia psicodélica, música, psicodélicos
ÁREA: Saúde Mental e Psiquiatria
NÍVEL: Estudo original de natureza quantitativa ou qualitativa
FINANCIAMENTO: CNPq
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