Autores:
Eric Rodrigues Dias
INTRODUÇÃO: Pessoas transgêneras podem apresentar dificuldades de identificação com suas próprias vozes. A frequência da voz (F0) é, tradicionalmente, um dos aspectos que essas pessoas desejam modificar. Não há, na literatura, valores esperados de F0 para esta população.
OBJETIVOS: Descrever a frequência fundamental, a autopercepção vocal e a percepção de voz ideal de pessoas transgêneras.
MÉTODOS: Estudo transversal, qualitativo, prospectivo, aprovado pelo Comitê de Ética 45478821.9.0000.5404. Pessoas transgêneras com idades entre 18 e 49 foram recrutadas e solicitadas a gravar, em cabine acústica, utilizando microfone unidirecional, amostras vocais de vogal sustentada e em glissando, contagem de números e leitura de um texto, além de responderem ao protocolo de autoavaliação Transgender Woman Voice Questionnaire (TWVQ). Os homens transgênero responderam a uma versão adaptada do protocolo para o masculino. Para ambos, quanto maior o escore, pior a autopercepção vocal. Os dados foram analisados a partir da extração de medidas de frequência fundamental média (F0), mínima (F0min) e máxima (F0max) de cada amostra, além do cálculo do escore final do protocolo.
RESULTADOS: Participaram 11 mulheres (grupo MT; idade média 26,9 anos) e 7 homens (grupo HT; idade média 26,5 anos), todos pessoas transgêneros. O grupo de MT apresentou valores médios da F0 de 165,2 Hz, F0min 110,5 Hz, F0max 208,4, sendo que valores padrão para mulheres cisgênero estão entre 150 e 250Hz, sugerindo que o grupo estudado apresenta valores de frequência agudos. O grupo de HT apresentou valores médios de F0 de 143,3 Hz, F0min 119,0 Hz, F0máx 193,6; valores padrão pra homens cisgênero estão entre 90 e 150Hz, evidenciando que a F0a apresentada, em média, encontra-se próximo a linha de transição entre masculino e feminino, também podendo ser considerado como neutro. A média da pontuação total do TWVQ das 11 mulheres apresentou 72,82 pontos, 3 (27,27%) consideram a voz muito masculina, 6 (54,55%) consideram a voz um pouco masculina, 1 (9,09%) considera a voz neutra e 1 (9,09%) considera a voz um pouco feminina. A voz considerada ideal por 6 (54,5%) das participantes foi um pouco feminina e 5 (45,5%) para muito feminina. No grupo HT, o TWVQ apresentou média de pontuação total de 68,4; desses sujeitos, 1 (14,3%) considera sua voz um pouco masculina, 5 (71,4%) um pouco feminina e 1 (14%) muito feminina. A voz considerada ideal neste grupo foi, em 5 indivíduos (71,40%) um pouco masculina e, 2 (28,60%) muito masculina. Estes resultados sugerem que a F0, isolada, não é capaz de melhorar a percepção e satisfação vocal no grupo de pessoas transgêneras estudado.
CONCLUSÃO: Grupo HT considerou, em sua maioria, suas vozes “um pouco femininas”, com F0 de 143 Hz, considerada como neutra. O grupo MT, em sua maioria, considerou suas vozes “um pouco masculinas”, sendo que a F0 média foi de 165,2 Hz. O grupo MT apresentou pior escore no protocolo evidenciando autopercepção vocal prejudicada.
PALAVRA-CHAVE: VOZ; IDENTIDADE DE GÊNERO; ACÚSTICA DA FALA; FONOAUDIOLOGIA
ÁREA: Voz
NÍVEL: Graduação
FINANCIAMENTO: CNPq
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