Autores:
Beatriz Silva Justiniano Roberto
INTRODUÇÃO: Patologias decorrentes de lesões no sistema nervoso central sempre foram objeto de estudo nas ciências médicas e psicológicas, devido ao grande interesse universal em entender as nuances da mente humana. A linguagem ganhou certo espaço nessas pesquisas com o início dos estudos afasiológicos no século XIX, mas foi só na década de 1950 que os aspectos propriamente metalinguísticos passam a ser considerados nas classificações e terapias das afasias. Superando o princípio lógico e tomando a metalinguagem como um componente intrínseco à língua e campo de reflexividade acerca dos elementos que compõe o ato enunciativo, desde escolhas lexicais até comportamentos situacionais, entendemos que, consequentemente, a capacidade referencial se encontra alterada em déficits de linguagem, muitas vezes representada por dificuldades de nomeação. A teoria sociocognitiva e interacionista da linguagem desloca a noção de referência para a de referenciação, em prol de um termo que converge a ideia de um mundo intersubjetivo criado a partir de enunciações atreladas a aspectos psicossociais e cognitivos compartilhados entre os interlocutores, deixando de lado a semântica ontológica. Dessa forma, ferramentas referenciais como anáforas são grandes palcos para investigações a respeito da capacidade referencial e reflexiva do sujeito, essencialmente as anáforas indiretas, as quais se diferenciam das diretas por não serem correfenrenciais a um objeto precedente, uma vez que se significam a partir de aspectos socioculturais e conhecimentos de mundo partilhados.
OBJETIVOS: O presente trabalho tem por objetivo estudar como sujeitos afásicos se comportam em contextos conversacionais interacionais, em que são compelidos a lidar com progressões anafóricas, tanto no âmbito da produção quanto da compreensão, de modo a verificar se suas habilidades referenciais encontram-se comprometidas. Cabe-nos também descrever as circunstâncias em que as anáforas indiretas são ativadas para a manutenção dos tópicos discursivos em interações entre afásicos e não afásicos e suas faculdades coletivas.
MÉTODOS: A pesquisa desenvolve-se em uma metodologia qualitativa descritiva e debruça-se sobre transcrições de reuniões do CCA entre os anos 1998 e 2010. Os diálogos são naturais e espontâneos, permitindo a verificação do modo como sujeitos afásicos lidam com sintagmas anafóricos através de apontamentos teóricos e comparativos com as produções dos sujeitos não-afásicos do mesmo contexto interacional.
RESULTADOS: Dadas as análises aqui formuladas, foi evidenciado que as pessoas afásicas, mesmo acometidas de um déficit linguístico desestabilizante, são capazes de manterem-se discursivamente ativas, produzindo e manipulando progressões e digressões tópicas coerentemente e, aqueles que encontram dificuldades para tal, contornam-nas apoiando-se no contexto inferencial e nas pressuposições compartilhadas com os outros participantes do discurso e utilizando-se de ferramentas semiológicas como a escrita e os gestos para completar a significação.
CONCLUSÃO: Pudemos testemunhar os alicerces levantados e emprega-los às conclusões descritivas dos dados aqui discutidos, comprovando a recorrência de elementos referenciais nas falas afásicas e, consequentemente, a importância da investigação da linguagem em ação para o desenvolvimento dos conhecimentos fonoaudiológicos de doenças linguístico-degenerativas. Dessa forma, o déficit metalinguístico encontrado nas afasias não é reducionista ao ponto de suprimir a capacidade referencial desses sujeitos, primordial para a comunicação plena.
PALAVRA-CHAVE: afasia; anáfora indireta; metalinguagem; referenciação
ÁREA: Linguagem
NÍVEL: Graduação
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