Autores:
Grazielly Carolyne Fabbro Ribeiro
INTRODUÇÃO: As intervenções fonoaudiológicas baseadas em abordagens fonológicas têm se mostrado altamente eficazes para crianças com Transtorno Fonológico (TF). Nessas abordagens propõe-se o trabalho tanto com a percepção de fala, quanto com a produção de fala, assumindo a existência de uma relação entre elas. Contudo, crianças com TF apresentam, em geral, desempenhos distintos entre as habilidades de produção e de percepção, levando a resultados pouco conclusivos sobre esta relação. Além disso, deve-se considerar no trabalho terapêutico e também na análise da relação entre produção/percepção, outros níveis perceptuais como, por exemplo, a percepção das características da própria fala da criança.
OBJETIVOS: Comparar e correlacionar a acurácia dos desempenhos de percepção em si e produção de fala em crianças com TF durante o processo de intervenção fonoaudiológica.
MÉTODOS: Após aprovação do comitê de ética em pesquisa (nº 30672720.3.0000.5406), foram selecionadas 16 crianças com idades entre 4:3 meses a 8:11 meses que apresentaram o processo de substituição de líquidas (/ɾ/ -> [l] ou /l/ -> [ɾ]). As 16 crianças foram submetidas a um processo de intervenção composto por dezesseis sessões que envolveram etapas de percepção da fala do terapeuta (percepção no outro), percepção da própria fala (percepção em si) e produção. Nas etapas de percepção no outro e percepção em si, foram registrados pelo terapeuta o desempenho percentual perceptivo e ao final de todas as sessões, foram realizadas gravações das produções considerando 30 palavras-alvo (isto é, palavras utilizadas em terapia) e 30 palavras-sondagem (palavras não utilizadas em terapia) que foram julgadas por três juízes. A análise estatística inferencial consistiu nos testes de ANOVA de medidas repetidas e Pos-hoc de Fisher, além do teste não-paramétrico de correlação de Spearman. Considerou-se α<0,05.
RESULTADOS: Na análise comparativa, os desempenhos das crianças nas habilidades de percepção, tanto no outro quanto em si, se mostraram superior (maior porcentagem de acerto) quando comparados aos desempenhos de produção. Na análise de correlação, observou-se uma correlação positiva entre a percepção no outro e a produção de palavras-sondagem e uma correlação positiva entre a percepção em si e a produção de palavras-alvo. Infere-se, a partir dos resultados obtidos, que a representação acessada pela criança ao perceber as características da fala do terapeuta (percepção no outro) nem sempre se mostra evidente em sua fala durante a intervenção. Porém, quando possibilitamos à criança a percepção das características de sua própria fala (percepção em si), também estamos viabilizando o acesso à representação que a criança faz de sua própria fala. Este acesso parece gerar impactos diretamente na produção das palavras utilizadas em terapia; desencadeando, assim, a supressão do processo fonológico trabalhado.
CONCLUSÃO: Mediante os achados, vale destacar a extrema importância de se trabalhar a habilidade de percepção em si durante as intervenções nos TF, devendo ser uma habilidade valorizada durante a elaboração de planos terapêuticos.
PALAVRA-CHAVE: Transtorno Fonológico; Fonoterapia; Percepção da fala; Produção de fala.
ÁREA: Linguagem
NÍVEL: Pós-graduação
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