RESUMO
INTRODUÇÃO: O estudo VENUS (Biópsia do linfonodo sentinela versus seguimento clínico em mulheres com câncer de mama inicial com axila negativa) é uma iniciativa multicêntrica, randomizada, prospectiva, com a finalidade de comparar a sobrevida livre de doença e a sobrevida global de mulheres com câncer de mama submetidas a biópsia de linfonodo sentinela (grupo controle) versus aquelas submetidas a acompanhamento clínico e ultrassonográfico (grupo intervenção). O racional do estudo se baseia em evidências prévias que colocam em dúvida a necessidade de intervenção cirúrgica para a remoção de linfonodos axilares em mulheres com câncer de mama, sem que haja evidências clínicas de comprometimento axilar. Já há estudos em andamento (SOUND, INSEMA), avaliando a pertinência de se realizar a biópsia de linfonodos sentinela em pacientes com câncer de mama inicial; o estudo VENUS, contudo, inova ao introduzir pacientes que receberam quimioterapia neoadjuvante, e também aquelas submetidas à reconstrução mamária, tornando a representatividade da coorte de pacientes mais condizente e semelhante àquela encontrada na prática clínica cotidiana.
OBJETIVOS: Comparar a biópsia de linfonodo sentinela com nenhuma cirurgia axilar, como abordagem para axila, em mulheres com câncer de mama inicial com axila negativa ao exame clínico e ultrassonográfico.
MÉTODOS: Trata-se de um ensaio clínico multicêntrico, randomizado, com espaço amostral de 800 mulheres (randomização 1:1), com seguimento clínico por 5 anos. Há 7 centros contribuindo para o estudo, sob coordenação do Hospital da Mulher da Unicamp (CAISM). O estudo já conta com 170 pacientes, 152 delas randomizadas para os braços “ausência de cirurgia axilar”, n= 70, e “biópsia do linfonodo sentinela”, n=82.
RESULTADOS: O maior centro recrutador do estudo, até o presente momento, é o CAISM da Unicamp, com aproximadamente 71% dos casos. Um fato que chama a atenção é o desequilíbrio no número de casos em cada braço (70 vs. 82). Este achado é um artefato decorrente da velocidade de inserção dos dados referentes a cada caso no sistema REDCAP, valendo registrar aqui que a randomização vêm ocorrendo conforme planejado. Em relação aos tipos subtipos histológicos incluídos no estudo, o mais presente se trata do tipo Luminal A, representando aproximadamente 24,1% dos tumores. Os outros subtipos se tratam de Luminal B HER negativo, Luminal B HER positivo, HER positivo e triplo negativo, atualmente em menor número. Aproximadamente 46% das pacientes incluídas não realizaram biópsia axilar. Alguns resultados da análise histológica ainda não foram inseridos no sistema REDCAP, o que explica a diferença entre o total de mulheres randomizadas e o total de diagnósticos histológicos disponíveis. Um dos pontos-chave do estudo VENUS é a inclusão de pacientes com tumores não luminais em seu seguimento, fato que o diferencia de estudos semelhantes, em andamento em outros países. Outro diferencial inovador do estudo VENUS é a inclusão de pacientes que tenham realizado quimioterapia neoadjuvante, representando 9,6% das pacientes inclusas no estudo.
CONCLUSÃO: Até o momento, o estudo VENUS não demonstrou diferenças significativas em relação à sobrevida livre de doença e global para pacientes com câncer de mama e axila negativa submetidas a biópsia do linfonodo sentinela ou seguimento clínico. Contudo, é fundamental ressaltar que nem o número de pacientes preconizado, nem o tempo de seguimento necessário para atender aos parâmetros de confiabilidade estatística foram atingidos.
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PALAVRA-CHAVE: Biópsia; linfonodo sentinela; câncer de mama; seguimento clínico